Uma Alucinante Noite de Natal (Continuação)

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Enfim minha casa. Lá estava ela, com os piscas-piscas reluzentes. Era a casa mais bonita da rua. Vários carros já se encontravam estacionados pela redondeza. "São meus familiares", dizia comovido.

Entro pela porta dos fundos, para dar autenticidade ao bom velhinho, eu não podia surgir pela chaminé, e nem se pudesse, eu não caberia lá. Ficaria engatado, e os bombeiros seriam acionados. Que vergonha que seria.

Esgueirando-me pela cozinha, sinto o cheirinho das guloseimas e do delicioso peru que já estava no forno.

— Que delícia. Isso é bom demais.

Assim o bom velhinho surge na sala, onde o meu parentesco se agrupava, e todos os pequeninos correram para vir me abraçar.

— Papai Noel! Papai Noel! O senhor veio.

— Claro! E por um acaso este velhinho que aqui fala já faltou alguma noite de Natal, hein?!

— Nãooo! — elas respondem em uníssono.

— Também temos um presente para o senhor, Papai Noel. — elas disseram, entusiasmadas. Que coisinhas fofas.

— Sério? E onde está o meu presente? — perguntei ansioso.

— Venha! Venha! — elas diziam segurando minha mão.

Na sala de jantar, vejo todos os meus amigos e parentes, e, para a minha surpresa algo que me terrificou. Quase caio para trás, mas alguém me segura. Na mesa de nossa farta ceia estava aquela mesma idosa da viela que me pedia algo quente, com a mesma roupa suja e rasgada, o tal bandido com a sua suposta filha no colo, e aquelas duas traquinas de crianças acompanhadas da mãe.

— Ora! Eu os conheço?! Que droga! Seguiram-me? O que fazem aqui?! Saiam da minha casa agora mesmo! — digo endemoninhado.

— Mas fomos convidados? — disse o rústico rapaz.

— Não por mim! E eu sou o dono da casa. Não mexam em nada, ouviram? Em nada! Agora, por favor, se retirem agora mesmo da minha casa. Vocês não são bem vindos aqui. SAIAM!

Meus amigos e parentes não me reconheceram naquele momento. Também pudera, eu estava com o diabo no couro. Acompanhei os elementos até à porta de saída, atento para que não mexessem em nada dos meus objetos valiosos, e se escafederam de casa.

Como todos ali foram ingênuos acreditando que aquelas pessoas eram de fato meus amigos! Eu nunca que teria amizade daquela estirpe. Parece que não liam ou escutavam os noticiários da TV.

Voltei para à sala e desta vez escutei uma voz vir de uma distância que não consegui denominar.

— Senhor Afrânio! O senhor está bem? — dizia a voz. Eu olhava de um lado para o outro e não conseguia distinguir a fala, de quem era e de onde vinha. — Sim. Eu estou bem. — meus familiares e amigos me olhavam como um vilão dos filmes de bang bang. — O quê! Eu sou o facínora agora, é isto? — as crianças se abraçaram e mantiveram distância de mim.

— Senhor Afrânio, como o senhor está? Fale comigo. — continuava a voz.

— Eu estou aqui. O que você quer? Quem é você? Droga! Deixe-me em paz. Este é o pior Natal da minha vida. Nunca mais me caracterizo de Papai Noel, nunca mais! Para mim já chega de tudo isto. Estou farto! Ouviram? Farto!

Mas aconteceu que durante a minha cólera, comecei a perder a razão, fiquei desorientado, os pensamentos se esvaíam, eu estava desmaiando, eu estava caindo. Talvez tivesse caído, não sei ao certo, mas afirmo que não senti o impacto do meu corpo na superfície. Alguém me segurou. "Os anjos", eu disse. "Os anjos".

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