Uma Alucinante Noite de Natal (Continuação)

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Horas, ou talvez minutos depois, eu acordei, meio atordoado e sem saber onde estava. Vi um relógio suspenso numa parede branca e vozes vindas de não muito longe. "Caramba! Onde eu estou, meu Deus?! Paulatinamente, fui recuperando a minha energia e, com ela, minha consciência, então cheguei à conclusão de que estava em um hospital.

— Alguém... — tentei dizer. Mas minha voz parecia mais um suspiro. O que de fato havia acontecido comigo? Eu estava bem de saúde. Sentia-me saudável. Mas algo havia acontecido. E se fosse o estresse que tive? A gente ouve cada caso que ficamos até com medo. Para o meu contentamento, vi uma enfermeira entrando na sala e, percebendo que eu estava lúcido, veio até mim.

— Senhor Afrânio! Ora. Vejo que já acordou. Como o senhor está? Sente algum desconforto? Está dormindo há horas.

— Eu estou bem. Apenas com um pouco de dor de cabeça. Mas o que aconteceu comigo? Eu estava tão sadio, com vitalidade. Não sei o que houve comigo.

— E o senhor está muito bem de saúde, senhor Afrânio. Não se preocupe com isto.

— Mas e então, por que eu vim parar aqui se estou em perfeito estado de saúde?

— O senhor não se lembra de nada na noite passada?

— Bom. Lembro que estava celebrando a noite de Natal com a minha família quando literalmente apaguei. — A enfermeira fez uma cara de confusa o que me instigou a perguntar o motivo.

— O senhor não se lembra de nada mesmo?

— Já lhe disse. Eu estava em minha casa quando desacordei.

— Senhor Afrânio, na noite passada, em meio ao torrencial temporal, o senhor entrou pela porta do hospital com princípio de hipotermia, estava nos braços de um simpático jovem, acompanhado também de uma agradável anciã e duas crianças que pediam ajuda à mãe que estava com febre alta. Eles deixaram às suas coisas conosco, como a sua carteira e outros pertences. Estavam bastante apreensivos com o seu desfalecimento, mas o sossegamos dizendo que o senhor ficaria bem. Estes lhes estimaram melhoras e que viriam lhe visitar em breve.

— Eu... eu... não posso acreditar nisto! — disse sentindo algo estranho. Logo depois fui saber que era uma forte emoção.

Um acesso de choro veio me apertando por dentro quando a enfermeira me disse aquilo. Em vão tentei segurar uma lágrima que caía solitária do meu rosto. Em seguida, outra. E, quando me vi, desmoronei-me em prantos. A enfermeira, vendo o meu lamento, perguntou-me:

— O senhor está bem, senhor Afrânio?

Eu mal pude respondê-la.

— Sim. Eu estou. — disse depois de derramar uma relevante quantidade de lágrimas. — Eu estou bem sim, graças a Deus.

— Eu vou ver os outros pacientes. Daqui a pouco eu volto, está bem?

— Está sim.

Então começo a me lembrar da noite passada, quando vinha pela viela e comecei a gelar, tossindo gelo. "Sim, eu devo ter apagado naquele instante. Mas eu estava em casa quando me desfaleci!". Não. Eu não estava em casa, e sim no hospital. Aquilo tudo era um sonho. Um sonho mau, mostrando o quão iníquo que eu era negando festejar a ceia de Natal com aquelas pessoas que me ajudaram.

"Meu Deus!"

"Eu me sinto tão mal por ser um monstro, por tratar aquela gente daquela maneira. Meu Deus, que vergonha de homem que eu sou! Que vergonha. Foram aqueles dois anjinhos que me seguraram para que eu não me espatifasse no chão. Aqueles dois anjinhos de Deus. Os anjos, meus Deus. Os anjos".

Meus familiares vieram me visitar, e logo em seguida fui dispensado pelo médico. Eu estava bem, graças a Deus e àquelas pessoas.

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