Um dia, fomos a um evento que estava acontecendo em nossa comunidade. Diversas brincadeiras contagiavam nós, crianças, que aproveitávamos cada segundo de nossa efêmera mocidade. Os pequenos fantoches, com umas historinhas bastante divertidas, era o que mais me chamava atenção e me fascinava. Meu tio, naquele dia, estava com a gente, embora houvesse relutado bastante para que não fosse; porém ele tinha a minha mãe que sempre foi persuasiva e conseguiu, então, lhe convencer a ir com a gente.Começamos a registrar diversas fotos no evento. As câmeras fotográficas eram uma novidade naquele tempo, e quem as possuía, era chamado de barões. Este dia foi muito divertindo, e meu tio até que se soltou mais, tentando, talvez, voltar a ser a pessoa de outrora.
Aconteceu, no entanto, dias depois de revelarmos aquelas fotos, um fato bastante intrigante, mais ainda a meu tio, que ficou mais esdrúxulo do que já estava; em todas as fotos que havíamos tirado, havia um homem com uma expressão séria, fitando-o morbidamente, ás vezes no seu lado direito, às vezes no esquerdo. O homem estava perfeitamente trajado, assim como um respeitoso ancião da cidade. Foram exatas doze fotos e em todas estava aquele desconhecido homem. O que nos deixou mais intrigado, é que aquele homem não estava presente naquele exato momento em que a foto foi batida. Classificamos aquele episódio como fantasmagórico, e pesquisando em relação aquele homem, descobrimos que se tratava de um famoso agiota da cidade.
Meu tio, dias depois de revelarmos aquelas fotos, foi encontrado morto na sua casa, enforcado com seu próprio lençol. Deixou apenas uma carta escrita com as mãos trêmulas. Uma carta que desmistificava a sua estranha mudança.
“Despeço-me da vida por dever a morte. Por anos fui vítima da miséria, e não soube enfrentà-la. Agradeço ao meu generoso irmão que sempre me estendeu o braço e sempre me levantou quando estava prestes a cair.
Há dois anos me endividei com algo supérfluo, escusado de falar. Para me ver livre de tal dívida, e não sujar o nome de minha amada família, que sempre foi tão respeitável, emprestei uma relevante quantia de um agiota, muito indicado por amigos desconhecidos. Ele mostrou-se bastante cordial comigo, e o modo como facilitava o pagamento, fez com que eu me endividasse ainda mais com ele. Cheguei a um ponto de dever mais de 10 mil contos para ele. Como eu poderia pagar aquilo? Eu não tinha condição alguma para efetuar este pagamento, e os gastos com as coisas fúteis que eu fizera, foram apenas para me afundar ainda mais no abismo.
Fui então diariamente ameaçado de morte. Às vezes empurravam debaixo de minha porta um bilhete, me ameaçando de morte. Às vezes eu ouvia vozes quando vagueava pelas ruas escuras e frias da cidade. Eu estava enlouquecendo com aquilo. Para qualquer lugar que eu olhasse, eu via o rosto do meu credor e de seus homens encapuzados.
Angustiado e não encontrando solução, cheguei à conclusão que deveria eliminar aquele imbróglio. Antes eu havia pensado em tirar a minha vida, mas optei em tirar a dele. Foi então que aluguei uma pistola, com o pouco dinheiro que tinha, para acabar com aquele homem, para eu poder dormir em paz, sem medo de pregar os olhos. Matei-o justamente no seu escritório, antes dele me apontar a sua arma, antes dele me dizer aquela maldita frase: pague o que me deve.
Mas aconteceu, desde então, uma sádica perseguição fantasmagórica. Comecei a enxergar aquele homem em todos os lugares que ia. Em minha casa, as perseguições eram mais mórbidas e constantes. Eu o via mexendo em meu guarda roupas, com a sua feição avarenta e perversa, talvez estivesse procurando dinheiro. Eu gritava dizendo que não havia nada ali, mas ele não me escutava, estava cego da verdade. Na minha cama, eu já não tinha mais espaço, ele a dominava, e quando tentava me deitar, ele me expelia, me colocava para pôr no chão, junto com os ratos e as baratas que entravam pelas frestas carcomidas do meu piso de madeira.
Louco e farto de tudo isso, aqui estou; escrevendo essa carta, relatando o meu suicídio para me ver em paz deste ser avarento. O nó está feito, agora só falta eu acabar com isso, e acabar de escrever esta carta.
Adeus.Fim
Autoria: Jim Patrik
VOCÊ ESTÁ LENDO
ESPECTROFOBIA (Contos de Terror)
TerrorSe você gosta de explorar o desconhecido; fantasmas, demônios, lendas urbanas, vampiros, aqui é o lugar certo. Seja bem vindo às mais assustadoras histórias de horror. Atenção! Plágio é crime. Todos os contos estão autenticados.