pApAi bObO

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Já iria dar oito horas

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Já iria dar oito horas. E oito horas começa o pApAi bObO na TV.

— Bom dia, pai, bom dia mãe.

— Enzo... O que aconteceu? Caiu da cama? — perguntou o seu pai.

— Não. É que está para começar pApAi bObO.

— pApAi bObO? O que é isso?

A mãe de Enzo sorriu, respondendo:

— É o novo programa infanfil do canal 7.

—Ahhh, seu bonitinho. Então está explicado. E o que esse tal de Papai Bobo tem de especial? — perguntou Rubem.

Bocejando e coçando os olhos, o menino disse:

— Ah, ele é muito engraçado. Tem várias brincadeiras e os melhores desenhos.

— Hum, está certo. Mas primeiro vá escovar os dentes e lavar essa cara, vamos.

— Tá bem. — respondeu Denis, espreguiçando-se.

— E mais tarde tem aula. Não se esqueça.

— Não esqueci, pApAi bObO.

— Papai o quê? Ora seu moleque atentado... — disse Rubem correndo atrás do pequenino que correu sorrindo para o banheiro. —

Às exato oito e trinta, assim que terminara o jornal da manhã, Denis já estava sentadinho na poltrona ansioso para assistir o pApAi bObO. O cabelinho penteado para o lado, o bigodinho de leite na boca e o inseparável bonequinho do Fofão nas mãos.

"pApAi bObO, pApAi bObO..."

Era o terceiro dia de programa do tal pApAi bObO e já era uma febre entre a criançada.

O pai de Enzo foi até à sala e viu o filho pulando no sofá feito um canguru.

— Filho, desce daí! O sofá não é cama elástica, não!

Mas o pequenino não parava de pular, e continuava:

"pApAi bObO, pApAi bObO, pApAi bObO, pApAi bObO..."

Rubem estranhou o comportamento do filho. Enzo sempre foi um garotinho que o obedecia apenas com uma palavra. As vezes bastava o pai lhe olhar pelo o canto do olho que Enzo ja compreendia que se tratava de uma repressão. Mas ali estava o pirralho, pulando, elétrico, pouco ligando para o que o pai lhe dizia.

"pApAi bObO, pApAi bObO, pApAi bObO, pApAi bObO..."

Mas o que tinha de tão atrativo assim no tal pApAi bObO para deixar o filho hipnotizado?

— Enzo, eu tô falando com você! Desça agora deste sofá! Você sabe que a sua mãe odeia quando você faz isso.

"pApAi bObO, pApAi bObO, pApAi bObO...", continuava o menino.

pApAi bObO saía de dentro de um circo junto de outros serezinhos nada convencionais. Homenzinhos mutantes, crianças usando máscaras horripilantes ... aquilo parecia mais com um circo dos horrores.

pApAi bObO era outra coisa fora do comum. Tratava-se de um homem calvo, nariz disforme, baixinho, talvez um metro e cinquenta e cinco, usava uma maquiagem funesta, como de um vampiro após se alimentar de sua presa.

O que aquele carinha tinha de tão especial assim para atrair às crianças? O pai de Enzo ficou ali se interrogando justamente disto quando um misto de cores piscando como pisca-pisca de árvore de Natal o fez se desequilibrar e cair com as mãos na parede. "Meu Deus!", disse atordoado.

"Bom dia, meus pequeninos e pequeninas. Como estão nesta manhã? Dormiram bem? Espero que sim, porque eu dormi como um camaleão".

"E hoje vamos de brincadeira do helicóptero. Quem quer participar?".

Rubem ficou extremamente incomodado com a tal de brincadeira do helicóptero onde as crianças sentavam numa cadeira estilo giratória e giravam a toda velocidade. O objetivo era, assim que a cadeira parar de girar, não cair.

"Doentio", exclamou Rubem.

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