Petrifiquei-me com aquela declaração do ancião.
— Ela, no entanto, — continuava ele — me aparecia em forma de espectro e, às vezes, nos meus sonhos. Dizia-me que só iria embora deste mundo quando o seu anjo da guarda viesse lhe buscar. Deus o enviaria, e não tardaria com aquela promessa. Com o tempo comecei a me acostumar com as suas visitas. Alegravam-me os dias.
Cada vez mais eu me interessava por o que aquele homem dizia, pois proseava sem titubear.
— Senhor, – disse eu — de que forma sua filha se foi?
— Pulou do navio, sem motivos aparentes. Sofri dia e noite, até que um dia ela me apareceu na sala de jantar, no meio do aglomerado de gente.
— Igual como apareceu a mim. — disse eu.
— Sim. — afirmou-me ele.
— Capitão, tenho toda a certeza que a vi entrar em sua cabine; jamais brincaria com falecidos.
— Creio em você, meu jovem. Em seus olhos consigo ver lágrimas que estranhamente não cedem.
De repente alguém bateu bruscamente na cabine do capitão e o chamaram para averiguar um caso. “Volto já”, disse-me ele. Foi quando de uma saleta, que julgo ser o descanso do capitão, vi surgir ela, aquela linda criatura. Tão linda criatura de Deus. Se eu me apaixonei? Confesso que nunca senti nada parecido com o que senti em toda minha vida. Ela se aproximou de mim, e disse:
— Pensei que você nunca viria me buscar.
Arrepiei-me.
— Pois estou aqui. — disse eu, admirando-a.
Ela sorriu. Segurou a minha mão e senti uma energia tão positiva, tão solene; senti-me em paz com aquele simples contato. Suavemente, começamos a flutuar. Senti meu corpo leve, assim como uma bolha de sabão. Olhávamos um ao outro e sorríamos como se nos conhecêssemos há séculos. Percebi, então, que eu estava realmente flutuando. Sim, literalmente. Pairamos no ar.
Foi quando seu pai entrou em sua cabine e nos viu naquele estado de levitação, quase encostando nossas cabeças na abóbada. O homem se persignou, e disse: “que Deus esteja com vocês”.— Adeus, papai. — disse ela. E então sumimos, nos perdendo naquelas nuvens de algodão.
Meu corpo chegou de manhã cedo em uma determinada cidade. Nem pude ver meu sepultamento. Mas, de qualquer forma, eu fui feliz, pois o amor me encaminhava para o céu. Amar depois da morte; sim, é possível. Minha morte foi tão prematura, porém não me lembro de mais nada dela. Talvez nem queira mais lembrar. Mas ainda me dói lembrar, de quando sofri aquele infarto em pleno navio; quando orei para que aquele homem inerte no chão fosse abençoado. E aquele homem, de fato, era eu.
Fim
Autoria: Jim Patrik
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ESPECTROFOBIA (Contos de Terror)
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