CAPÍTULO 1

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[POV Valentina Albuquerque]

"É engraçado o fato de que passamos maior parte da vida escolhendo o que queremos ser do que realmente sendo alguma coisa". Graças a essa forma de pensar do meu pai comecei a treinar boxe aos 14 anos, sim curiosamente cedo, mas tenho certeza que se dependesse dele, teria começado a treinar ainda no ventre de minha mãe.

-Albuquerque vai conquistar sua vaga na primeira fase do campeonato estadual, senhoras e senhores? - a voz empolgada do locutor no microfone reverberava nas paredes do ginásio onde eu iria lutar.

-Vamos, lá. Você sabe o que fazer, é a primeira luta do torneio. A vaga no campeonato estadual é sua. - meu técnico falava me olhando profundamente nos olhos.

-Diretamente de Manhattan, com apenas 26 anos, 1,65cm de altura e 58kg, ela já acumula 3 títulos nacionais na categoria peso meio – pesado. Façam muito barulho para ela – o tom de voz do locutor ficou ainda mais alto. - Valentina Albuquerque!

Apenas acenei com a cabeça, para poder o quanto antes voltar ao meu estado de concentração, é uma luta importante e me preparei para ela.

A vitória é mera consequência de uma boa execução técnica.

Os gritos e palmas da arquibancada eram tão fortes que podia sentir meu peito vibrar em perfeita sincronia com o coro que se formava.

-Valentina! Valentina! - esse momento sempre me energizava de alguma forma.

Caminhando em direção ao ringue, repassava as táticas que me foram passadas de acordo com o que foi estudado pela minha equipe dos vídeos de minha adversária enquanto acenava para o público.

Entrando no ringue, os cutmans – equipe de quatro pessoas que auxiliam os atletas no boxe – já cumpriam os protocolos para o começo da luta, e todo o tempo o técnico me incentivava e reforçava alguns pontos de minha defesa.

-Agora, diretamente de Los Angeles, com 27 anos, 1,75 de altura, 60kg, lutando por uma vaga no campeonato estadual com 6 vitórias em 6 lutas, ela...

- o locutor fez uma pausa dramática. - Luiza Campos!

Os holofotes foram jogados na direção da entrada do outro lado do ginásio e ainda de capuz, minha adversária caminhava em direção a ele.

-Tina, a vaselina. - Ben avisou antes de passar uma fina, mas caprichada camada da pomada transparente em minha testa, seios da face e têmporas, me tirando daquele breve momento de observação.

Nesse mesmo momento, Joshua retirava meu roupão, expondo minha pele ao clima abafado do ginásio, me deixando de top, um short justo ao corpo e tênis.

-Protetor bucal. - Elliot trouxe o equipamento que me protegeria de lesões na mandíbula, queixo, coluna cervical e de perder os dentes.

Puxando as luvas de boxe para se encaixarem melhor em minhas mãos, abri levemente a boca para que ele encaixasse o protetor.

Do outro lado conseguia observar a preparação da outra lutadora. Sua expressão era tão neutra, que eu não conseguia interpretar o que ela estava pensando ou sentindo e eu sempre fui muito boa nisso.

Impassividade ou choque?

Terminadas as preparações as equipes se retiraram, restando apenas eu, Campos e a árbitra central, que nos chamou para o meio do ringue.

-Senhoras, teremos uma luta justa e limpa. - a árbitra falou deixando claro que não havia margem para jogo sujo. - Golpes abaixo da linha da cintura serão penalizados, podendo ocasionar em desclassificação. Teremos 3 rounds de 3 minutos cada, ok?

Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora