CAPÍTULO 4

2.8K 269 37
                                    

[POV Luiza Campos]

Ainda não acredito que ninguém menos que Valentina Albuquerque é a nova ortopedista do hospital.

É, eu deveria ter lido os meus e-mails.

-Ok, chefinha. - Eduarda brincava assim comigo fora do hospital, mas ali dentro eu não poderia permitir esse comportamento, ainda mais na frente de outras pessoas, ainda mais na frente dela.

Enquanto Duda falava eu a olhava fixamente nos olhos, mas ainda assim, com minha visão panorâmica conseguia ver o olhar de Valentina sobre mim através do monitor que refletia minha imagem, seu olhar era intrigado, voraz e ao mesmo tempo indecifrável.

Os olhos dela eram tão marcantes quanto me lembrava do dia da luta: grandes e de um verde claro quase cristalino, o que iluminava ainda mais sua pele branca e levemente bronzeada. Ok, esse olhar facilmente poderia me fazer perder os sentidos.

Seu cabelo liso estava preso em um coque apressado, como quem tivesse sido pega de surpresa com a tarefa de prendê- lo.

Eu não penso direito perto dela. Certo, isso é bem perigoso considerando que como cirurgiã geral posso operar ao seu lado com certa frequência.

Três batidas na porta me interromperam de meus devaneios. Valentina.

-Oi. - seu tom de voz era cortês.

-Olá, senhorita Albuquerque. Como vai? - puxei a cadeira que estava a frente da mesa para que ela pudesse sentar.

-Bem, obrigada. - respondeu se sentando na cadeira.

-Bom, me conte. Isso foi do 8 ao 80 muito rápido, em um momento recebo um e-mail falando que você chega hoje e no outro momento você está na sala de raio-x com nossa neuro de jaleco diagnosticando uma paciente? - dei a volta em minha mesa e recostei sobre ela apoiando as mãos ao lado do corpo.

-Entrei pela emergência. - ela me encarou. -E a ambulância chegou com ela. Não ia me envolver, mas pediram por uma ortopedista.

-E não temos nem um outro? -cruzei os braços a frente do corpo a olhando nos olhos.

-Perto o bastante para impedir que ela perdesse a vida lá? Não. - pode ter sido impressão minha, mas senti seu olhar sobre mim ganhar um novo peso.- Precisei conter o sangramento de sua artéria femoral, caso não fizesse você sabe o que aconteceria...

-Certo. -me dei por satisfeita com a resposta e caminhei novamente para perto de minha mesa, parando de frente pra paisagem que se desenhava lá fora. -No Hopkins você era chefe da ortopedia, certo?

Ela apenas concordou com um aceno de cabeça.

-Por enquanto você mantém esse título, mas isso pode mudar a qualquer momento. - ela parecia bem atenta ao que eu dizia. -Sou cirurgiã geral e a chefe da cirurgia. Qualquer coisa que você precisar, se tiver dúvidas ou queixas, fale primeiro comigo, tudo bem?

-Entendido, senhorita Campos. - nos entreolhamos brevemente. -Posso ir?

-Seja bem vinda ao hospital, senhorita Albuquerque.

-Obrigada.

O dia correu tranquilamente, a cirurgia havia sido um sucesso e bastava esperar pela recuperação total da paciente.

Ver Valentina operando era como observar um artista pintando um quadro de alto grau de dificuldade com maestria. Seus movimentos eram precisos, o bisturi unia-se à sua mão quando ela o utilizava, como se fossem um só. Até agora tudo sobre aquela mulher era impressionante, hipnotizante, incrível.

A chuva começou a cair de repente lá fora e com certa força. Já é tarde e passa das 22h, iria andando porque meu carro decidiu para de funcionar.

Ótimo! Se aquele carro não tivesse quebrado de novo...

Abri a bolsa pendurada em meu braço na esperança de encontrar um guarda chuva por lá. A chuva não dava trégua, então precisei me abrigar temporariamente na saída do estacionamento do hospital.

Uma buzina alta quase fez minha alma sair do corpo, pronta para brigar me virei afim de encarar a pessoa imprudente que fez isso.

Era Valentina. Impressionante como estávamos o tempo todo fadadas a nos reencontrarmos, o universo quer nos unir, não é possível.

-Oi, você precisa de carona? - ela me perguntou abaixando o vidro do carro.

-Não quero lhe atrapalhar, senhorita Albuquerque.

-Somente Albuquerque ou Valentina, estamos fora do trabalho, não precisamos de formalidades. -ela sorriu escancaradamente e meus lábios se abriram automaticamente em resposta aos dela. -Não, você não vai me atrapalhar.

-Então tudo bem, aceito a carona. - sorri fracamente ainda abalada pelo sorriso lindo que doutora Albuquerque, ou melhor, que Valentina tem.

Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora