CAPÍTULO 11

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[POV Luiza Campos]

Certo. Em um momento eu luto com uma mulher bizarramente linda e no outro estou na cobertura dela, com seu pijama me preparando para ir dormir na sua cama. Que plot twist.

Ter vindo até aqui me fez perceber que como eu desconfiava a conexão com Albuquerque não era puramente carnal, o que me alegrava porque esse tipo de contato não é difícil de achar por aí, mas a conexão que temos? Essa é rara.

- Que horas entra amanhã? - Valentina estava encostada na parede do quarto.

- Começo ás 10h, o único dia da semana em que entro mais tarde. - suspirei me sentando na cama. - E você também entra esse horário não é?

- Se você está dizendo, então sim, chefinha. - Valentina riu após usar o mesmo tom que Duda no dia em que nos conhecemos.

-Você tem sorte de ser tão fofa falando isso. - sorri. - Precisamos dormir.

-Ok, pode ficar na cama, vou para o sofá. - Valentina pegava um cobertor reserva no guarda-roupa. - Está confortável?

- Não muito... - fechei a cara, afinal precisava ser convincente.

- Por quê? Como posso te ajudar? É o edredom?

- Por que mesmo você vai dormir na sala? - a encarei.

- Para que você tenha privacidade? - suas bochechas ficaram muito vermelhas.

- Valentina, se a questão é como eu me sinto a respeito do contato e de dormir com você, pode vir pra cama. - sorri.

- Certeza? - ela sentava ao meu lado da cama.

Deslizei para baixo do grande edredom branco e nesse processo o cheiro de Valentina invadia meu nariz.

Depois de deitar afastei a coberta o suficiente para mostrar seu lugar e fiz sinal para que deitasse comigo.

- Eu realmente gosto disso. - busquei seu olhar quando ela terminou de se aconchegar. - Estar com você é...

- Descomplicado. - falamos juntas.

-Sim, sem jogos de desinteresse, sem enrolação. - Valentina completou.

- E é por isso que é tão bom. - concluí me virando de frente pra ela.

Nunca tive um bom histórico no que diz respeito a relacionamentos, reflexo de uma relação tóxica e nada respeitosa com meus genitores. Cresci vendo eles acolherem todos na comunidade em que eram líderes, mas me rejeitarem no mesmo instante em que me assumi bissexual para eles.

A intolerância de ambos ultrapassou barreiras como violência física e tortura psicológica para dizer o mínimo. Hoje adulta, com 27 anos e muito bem sucedida profissionalmente ainda encontro grandes dificuldades para me relacionar com outras pessoas.

Certos contatos físicos me apavoram e me fazem travar. Qualquer menção, mesmo que mínima de que não estou no controle da situação faz parecer que é o fim pra mim.

Felizmente consegui fugir do alcance de meus "pais" vindo de Shangai - que é onde moram atualmente por causa de minha mãe - para Nova Iorque.

-No que tanto pensa? - voltei para a realidade ao ouvir a voz suave e compreensiva da mulher ao meu lado.

-Falar sobre a sua relação com o seu pai trouxe à tona coisas relacionadas aos meus pais, em algum dia mais propício te conto. - esclareci sentindo sua mão repousar sobre a minha. -Boa noite, Albuquerque. - sorri trazendo sua mão até meus lábios.

Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora