CAPÍTULO 65

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[POV Samantha Albuquerque]

Dois dias se passaram desde o acidente, felizmente minha irmã está fora de perigo, mas nesse meio tempo muita coisa aconteceu. Valentina teve nada menos que duas paradas cardíacas e uma compressão no nervo ciático que pode ou não ter deixado sequelas, e Luiza está em estado crítico precisando de um transplante de veia cava, a principal veia que coleta sangue bombeado no corpo e devolve ao coração. Foi feita nela uma anastomose temporária, que são conexões feitas temporariamente entre as veias próximas afim de permitir a continuidade do fluxo sanguíneo. Esse procedimento é feito durante cirurgias, não é feito para ficar tanto tempo assumindo essa função.

Valentina ainda está em coma, mas sem aparelhos. Nossos pais não sabem do que aconteceu e vou manter isso assim até que ela acorde e decida se quer comunicá-los ou não. Duda está bem nervosa com o estado de Luiza e o que mais me assusta é saber como Valentina reagirá caso acorde e o pior tenha acontecido com sua noiva.

Os pais de Luiza não deixam ninguém se aproximar dela, e por serem pais dela, estão no comando de tudo a respeito dela: quadro médico e bens materiais, inclusive tentaram passar o hospital para o nome da instituição deles e só não obtiveram sucesso porque um documento exige a assinatura de minha irmã.

Como em todos os outros dias, estou a caminho do quarto de minha irmã, tenho conversado com ela e a atualizado sobre tudo que tem acontecido, inclusive sobre os pais de Luiza tentando tomar tudo que é da própria filha. Não sei se funciona conversar com alguém em coma, mas tudo que me restava era tentar.

- Ciao, sorella. Eu sinto sua falta, você é minha dose de sensatez diária quando quero esganar alguém por aí.. - apoiei a cabeça em seu braço inerte e respirei fundo.

Desde pequena Valentina sempre foi minha âncora ao lado bom da vida, não sei o que sou sem ela e sem a bondade que ela me faz enxergar nas pessoas e nas coisas. Ela não sabe, mas é um exemplo pra mim.

- Então é melhor eu conti...nuar por aqui, né? - a voz falhada e rouca de Valentina me fez saltar sobre a poltrona na qual estava sentada.

- Valentina! -abracei seu abdome com bastante cuidado, afinal é a principal área que foi afetada.

- Ai! - suas mãos repousaram sobre minha cabeça e ali ela passou a fazer cafuné. - Vai ficar tudo bem, prometo.

- Você ouviu tudo que eu disse?

- Sim, eu... - sua tosse a interrompeu.

- Não se esforce, vou chamar seu médico. - acionei o botão responsável por chamar apoio ao quarto.

- A Lu, como ela tá? - segundos antes de responder, enfermeiras entram na sala acompanhadas de uma médica atendente, uma (a minha) neurologista, doutora Eduarda Álvares.

- Valentina! Que bom que você está de volta! - ela passou a checar o curativo e os sinais vitais de minha irmã.

- Amor, ela quer saber da Luiza... ela está melhor hoje?

- Eu provavelmente não deveria te dar essa notícia agora, mas não, ela não está bem. Sem sinal de melhora e ela precisa desse transplante. - Duda começou a falar com a voz embargada. - Os pais dela não estão facilitando muito. Temos a veia cava que ela mesma projetou, mas eles não acreditam que vá dar certo

- Eu preciso ir até ela... - Valentina tentou se sentar, sem sucesso.

- Sem chance, não agora.

- Tem que ser agora, acredita em mim, pode salvar a vida da Lu.



Ouvindo minha irmã e apostando tudo no que ela disse que pode salvar Luiza, a ajudamos a se vestir com roupas normais e com uma cadeira de rodas a conduzimos para o quarto de Luiza, que ficava três quartos depois do seu.

Os pais dela, restringiram o acesso a todos que não fossem da equipe ou família e para ajudar colocaram dois guarda costas na frente da porta. Duvido muito que Valentina conseguirá passar sequer desses dois.

- Eu consigo andar, me ajuda só a chegar até mais perto deles? - ela me olhava e seu rosto deixava estampada sua dor a cada movimento.

- Ajudo, estou aqui, sorella.

Valentina, apoiando a mão na parede deu cinco passos até os seguranças que pareciam cochichar algo para ela em sinal negativo. Em seguida, ela endireitou o corpo e falou algo para eles que imediatamente abriram caminho.

- Como ela fez isso? - Duda olhava a cena boquiaberta.

- Devem ser funcionários dela... - respondi baixinho. - ...ou algo do tipo.

Entramos logo depois de Valentina que deu de cara com Mônica, mãe de Luiza.



Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora