CAPÍTULO 63

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[POV Valentina Albuquerque]

Após 5 segundos da notícia que nos casaríamos, Duda e Samantha começaram a planejar a cerimônia e a contatar diversos buffets, soube inclusive que Duda já apresentou opções de vestido de noiva para Luiza e nós sequer marcamos uma data. Sem pressão.

É por volta de 19h e estou a caminho do hospital para buscar Luiza no fim do expediente, ela está extremamente empolgada com a nova fase do hospital que agora é dela. Assim que retornamos das Maldivas, 15 dias atrás, ela estabeleceu um novo conselho incluindo Samantha, Eduarda, Igor, Nadine e eu. Foi a forma que ela encontrou de me manter perto dos processos e decisões daqui, afinal não parei de exercer totalmente a medicina.

Hoje, sinto que estou exatamente onde quero estar, voltei a treinar e a dar alguns treinos na academia, na parte da manhã atendo na clínica e depois treino os grupos na academia de boxe. Ao contrário do que imaginei, fui muito bem recebida pelos outros professores que mantiveram a academia funcionando e principalmente pelos atletas.

Contudo, desde que voltamos, Luiza tem se mostrado preocupada com a exposição que tivemos nos últimos tempos, ela constantemente se queixava de sentir um mau pressentimento em relação aos seus pais.

[Lembrança ON]

- NÃO! Valentina! - Luiza gritou no meio da noite, me fazendo acordar assustada.

- Lu! Tô aqui, o que houve? - a abracei, mas ela ainda parecia estar um pouco distante da realidade, então me afastou de si.

- Meus pais, a gente precisa ir. - ela levantou da cama e começou a procurar por suas roupas.

- Meu bem, foi só um pesadelo. Olha pra mim, eu tô aqui - me aproximei novamente. - Vou te abraçar, se você se sentir incomodada com isso pode me afastar, tá?

Abracei Luiza que finalmente parecia estar caindo em si e após alguns segundos ela relaxou em meus braços.

- Amor, eu sei que isso parece loucura, mas é uma sensação tão intensa, me desculpa - sua voz saiu trêmula. - É tão real...

[Lembrança OFF]

Esse foi um dos vários pesadelos que ela teve desde o Natal. Em todos eles, os pais dela tentavam acabar com a vida dela de uma forma diferente e acabavam com a minha no processo na frente dela.

Em uma de nossas conversas Luiza disse que o que a confortava era saber que independente de qualquer coisa eu estava ao seu lado. E ela não poderia estar mais certa, porque eu com certeza protegeria sua vida nem que a minha própria dependesse disso.


Estacionei o carro na frente da porta principal do hospital e já pude ver a cirurgiã, presidente e empresária mais gata que já vi na vida caminhando em minha direção.

- Olá senhora Campos Albuquerque - falei abrindo um largo sorriso. Todos os funcionários ao redor seguiram Luiza com o olhar até o carro.

- Oi amor da minha vida! - Luiza me abraçou forte logo após me cumprimentar com um breve selinho. - Vamos pro treino?

- Sim! Tem uma surpresa te esperando na academia inclusive. - depois de acompanhá-la até o banco do carona assumi meu lugar de motorista.

- Me fala que é comida! Tô cheia de fome - sua expressão de cachorro pidão sempre me ganha em qualquer situação.

- Sinto te desapontar, mas a comida está aqui - sorri entregando um pacote com lanches naturais, barrinhas de proteína e alguns morangos.

- Ai - seu sorriso foi de orelha a orelha. - Você é a melhor do mundo! - Luiza me encheu de beijos no rosto inteiro antes de eu finalmente dar partida no carro.

- Eu sei- brinquei e sorri pra ela. - Me conte, como foi o trabalho hoje?

- Amor! Lembra a veia cava sintética que eu estava imprimindo?

- Claro, o que tem ela?

- Uma paciente da Sam aceitou colocá-la. Operamos amanhã.

- Princesa, é sério? Você me enche de orgulho, tem noção de que está literalmente fazendo história? - sorri verdadeiramente feliz e orgulhosa enquanto olhava a rua a nossa frente.

- Sim! Nadine já convidou a The Lancet para cobrir. - paramos no semáforo. - Tô tão apreensiva, amor..será que vou c

- Lu, você é simplesmente a pessoa mais incrível e brilhante que conheço. - com o carro começando a se movimentar novamente olhei para Luiza por um instante. - Você é capaz de qualquer coisa.

Milésimos de segundos depois, um momento de silêncio daqueles que antecedem momentos ruins tomou conta da atmosfera, me fazendo olhar de forma brusca para frente novamente.

- Que foi? - Luiza percebeu minha mudança repentina.

- Nada, só... - olhei pra ela rapidamente. - Eu te amo muito, Lu.

- Eu te amo mais, minha Valen.

Sorri com aquele apelido carinhoso e olhei para Luiza a tempo de ver atrás dela, através do vidro da porta do passageiro uma enorme picape vindo em alta velocidade em nossa direção.

Não tive tempo de falar, de uma hora para a outra parecia que eu estava em um filme de horror em câmera lenta. O som da batida entre a picape e o carro em que estávamos foi ensurdecedor e uma cortina de estilhaços de vidro tornou difícil enxergar qualquer coisa. Por reflexo segurei na mão de Luiza e me conformei em fazer a única coisa que podia: sentir o impacto.

Diversos estilhaços do para-brisas começaram a atingir meu rosto e pequenos cortes eram feitos de forma dolorosa. Meu corpo sequer parecia estar preso pelo cinto de segurança, pois batia em todas as superfícies do carro. Acho que estávamos capotando. Cada centímetro do meu corpo latejava, doía, ardia, mas até então não sentia minhas pernas. Meus sentidos foram se desligando um a um até que perdi a consciência.


Alguns minutos depois despertei, olhei ao redor e percebi que não, não se tratava de um pesadelo, era a vida, pregando a peça mais covarde que imaginei ser possível logo agora que eu achava que seria feliz, que teria a minha família. Luiza!

Tentei olhar para o lado e quando consegui, todas as minhas dores de antes pareceram banais. Luiza estava desacordada, com a cabeça apoiada sobre o porta-luvas do carro e de seu rosto escorria tanto sangue que um pouco havia se empoçado ali perto.

- Luiza! Amor, fala comigo! - gritei, mas foi em vão. Não conseguia enxergar ou sentir seus movimentos respiratórios.  - Amor, por favor, não desiste

Precisava tocá-la, tentar salvá-la, soltei o cinto de segurança e fiz menção de me aproximar. Fui contida e dessa vez não pelo cinto, olhei para baixo e percebi que um pedaço de metal havia perfurado meu abdome me prendendo ao banco do carro. Havia me transpassado.

Ao fundo sirenes começaram a surgir, minha visão por outro lado começou a ficar embaçada, meu corpo de repente pesava uma tonelada e comecei a tossir. Algo quente subia por minha garganta, parecia sangue.

-Lu! Por favor, nã... - mais sangue saía e ficava mais difícil de sentir o ar entrar e sair de meus pulmões. - ...não me deixa assim..eu te - a dor sumiu de um segundo para o outro, nada mais me doía mais do que ver a mulher que amo daquele jeito. Não conseguia vê-la direito e isso me apavorava mais ainda.

Meu subconsciente sabia do que se tratava, uma hemorragia difícil de reverter, ferida extensa no abdome, provavelmente uma concussão. Minha consciência estava me abandonando de novo, segurei na mão de Luiza que estava ao meu alcance e entrelacei meus dedos nos seus.

Basta esperar, porque definitivamente esse é o meu fim.


Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora