CAPÍTULO 56

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[POV Valentina Albuquerque]

- Doutora Albuquerque, trauma chegando no leito 2, você é necessária lá. - a voz de Igor me despertou do transe em que estava quando as portas do elevador do andar da emergência se abriram.

- Certo, o que temos? - perguntei terminando de colocar as luvas descartáveis.

Ao chegar na sala onde fui requisitada dei de cara com Luiza, dois residentes e pelo menos mais três pessoas da equipe de enfermagem.

- Pode responder, doutora Julia. - Luiza indicou para a residente mais próxima da porta.

- A paciente é Sarah Carter, 32 anos. Ela se envolveu em um acidente de trânsito que resultou em trauma severo.

A paciente por incrível que pareça estava acordada, em estado de choque. Mas sem sequer examiná-la já pude identificar uma lesão extensa em seu joelho, já que o mesmo estava completamente torcido, virando sua perna para uma direção incomum e humanamente impossível em condições normais.

- Oi Sarah, sou a Dra. Albuquerque e sou ortopedista. Posso te examinar?

- Contanto que me deixem ir embora logo, vocês podem tudo. Eu tenho uma entrevista de emprego para fazer, será que... - Sarah perdeu a consciência enquanto terminava de falar. Era esperado.

- Já entrei com o tratamento de suporte. - Luiza desviou o olhar da paciente. - Olá, doutora Albuquerque.

- Olá doutora Campos, perfeito. - passei a examinar o esterno da paciente. - Não vejo sinais de traumas condizentes com acidente de carro, como aconteceu?

Acidentes de carro dessa gravidade, geralmente apresentam um certo padrão nos ferimentos torácicos devido ao impacto do cinto de segurança no tronco do paciente, principalmente no esterno, clavícula e quadril.

- Ela estava de bicicleta e foi fechada por dois veículos. Por sorte usava capacete. O que explica...? - Luiza deu a palavra para uma das residentes.

-A ausência de ferimentos causados pelo cinto. - completou.

- Certo. Por favor, façam uma ressonância, radiografia, ultrassonografia e exame de sangue. - levei as mãos para seu joelho direito e após palpa-lo se tornou evidente uma fratura. O próximo passo seria verificar a extensão dessa lesão. - Algo mais grave além do joelho que já tenha conseguido visualizar?

- Os exames vão confirmar, mas provavelmente o baço foi comprometido no impacto. Além disso, ela tem uma laceração profunda em uma das coxas.

- Não temos muito mais tempo, peça por prioridade nos exames, ok? Se alguém reclamar peça pra vir falar comigo. - Parece que iremos operar juntas novamente, doutora Campos. - sorri cordialmente.

- Será uma honra, doutora Albuquerque. E sim, pedirei prioridade.

- Quando estiver tudo pronto me chamem, por favor. - me dirigi ao outro residente ali presente descartei as luvas que usava. Precisava seguir para uma consulta de rotina.

Os acontecimentos dos últimos meses me fizeram revisitar o passado de diversas formas, uma delas foi me fazendo lembrar de como cheguei até a medicina. 

Meu pai me contava sempre que podia sobre como eu lia livros de anatomia e medicina desde que aprendi a ler no primeiro ano, ele nunca gostou muito da ideia já que sempre quis que eu me formasse em Educação Física para poder ajudá-lo como braço direito na academia e dar os treinos.

É, no fim ele conseguiu isso, mas depois de 2 anos ajudando-o ingressei no curso de medicina mesmo contra sua vontade porque apesar de amar o esporte, medicina era o meu sonho. Para minha mãe, por outro lado, eu era um troféu a ser exibido para todos por cursar medicina, um curso perigosa e desnecessariamente elitizado.

Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora