CAPÍTULO 68

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[POV Valentina Campos Albuquerque]

(Dê play na música That Home - The Cinematic Orchestra)

- Não desiste, Tina. - ainda tinha um grande caminho a frente para percorrer no corredor do andar onde estávamos internadas.

- Dói! - seis dias se passaram desde que levei os pontos novamente, embora conseguisse ficar em pé e me locomover sozinha, é doloroso percorrer uma distância como essa.

Cinco dias se passaram desde que removemos Luiza da ECMO e nada de ela acordar. O que me motivava a continuar esses exercícios com Samantha era justamente o fato de que vou precisar cuidar dela em breve.

- Eu sei, mas você está indo tão bem! - Samantha tentava de verdade me animar.

- Preciso parar. - caminhei em direção ao quarto.

- Sorella! Por favor, continue. - minha irmã tentava me puxar para mais uma volta no corredor. - Você sabe que Luiza gostaria que fizesse isso.

- Samantha, eu não quero. Estou sentindo dor - falei em tom sério - Não coloque essa pressão em cima de mim, já aconteceu merda o suficiente pra uma vida por aqui.

- Ok. - o tom de Samantha foi seco, ríspido e confirmou o que me dei conta em seguida: fui grossa sem a menor necessidade com quem mais cuidou de mim desde o acidente.

- Desculpa, a Lu não acorda e isso está acabando comigo, sei que não justifica meu comportamento, só me.. desculpa.

- Eu entendo, vamos voltar

Caminhando em direção ao quarto, comecei a ouvir oscilações na frequência cardíaca de Luiza pelo monitor cardíaco, passei a caminhar mais rápido mesmo com a dor intensa quase me incapacitando.

- Valentina! - o grito desesperado e ofegante era de Luiza. Ela finalmente havia acordado.

Não foi difícil fingir que meu ferimento sequer existia, Luiza, a minha Luiza estava viva e agora consciente.

Em questão de segundos, lágrimas passaram a cair desenfreadamente por minhas bochechas, ao mesmo tempo em que abri o sorriso mais largo que pude.

- Meu amor, eu tô aqui! Você está segura. - alcancei a cama onde ela estava. - Preciso que se acalme, respira fundo

- Vou chamar a Duda! - Samantha começou a discar no telefone do quarto para que Eduarda subisse.

Assim que fez contato visual comigo, Luiza agarrou minha mão com força, ela parecia extremamente desorientada, olhando ao redor sem entender muita coisa. Ela parecia presa no momento exato do acidente.

- O que... o que aconteceu? - ela não conseguia se acalmar. Passei a encher o alto de sua cabeça de beijinhos com cuidado enquanto acariciava seu rosto.

- Amor, - abaixei a grade lateral da cama e me sentei ao seu lado me mantendo em um nível mais alto que o dela, a puxei então para um abraço apoiando seu rosto no meu peito. - princesa, agora está tudo bem, eu vou te contar tudo que aconteceu, mas você precisa tentar respirar fundo e mais devagar, você consegue?

Ela apenas assentiu com a cabeça e logo o monitor cardíaco passou a indicar que seus batimentos estavam normalizando e sua respiração também parecia mais cadenciada agora. Aos poucos sua mão parou de apertar a minha com tanta força e seu corpo relaxou sob o meu.

Em acidentes tão traumáticos como esse em que a vítima perde a consciência e entra em coma, é normal que a memória da vítima se mantenha presa no momento do trauma, quando ela recobra a consciência continua exatamente de onde parou. Esse grito, provavelmente foi a última coisa que Luiza tentou dizer antes do impacto.

- Eu não consigo me lembrar de muita coisa.. -  me afastei para olhar em seus olhos enquanto ela falava. - Só o barulho dos freios, da batida...

Agora com Luiza mais calma, Samantha podia examiná-la e fazer os testes responsivos rápidos afim de diagnosticar uma possível sequela.

- Nós sofremos um acidente de carro, bateram em nosso carro. Estamos no hospital... - acariciei seu rosto sem desviar o olhar do dela.

- Amor, você se machucou? - ela procurava por ferimentos. - Foram meus pais, não foram?

- Não temos certeza, eles apareceram, mas já os afastei de você. Depois te darei mais detalhes, nós duas também ficamos em coma, você mais tempo do que eu.

- Mas como... - Luiza olhou para baixo e pareceu sentir o curativo em seu peito. - Eu fiz uma cirurgia cardíaca?

- Lulu! - Eduarda apareceu na porta do quarto com os olhos marejados.

- Oi amiga - Luiza tentou sorrir, mas parecia estar ficando cansada pelo esforço que fez há pouco. - Oi Samantha

- Oi Luiza, que bom que está bem

- Você quem fez a cirurgia?

- Sim - minha irmã se aproximou e me levantei para dar espaço para elas conversarem.

- Não, por favor não vai...- ela me puxou pra perto com o máximo de força que podia me mantendo ao seu lado.

- Tô aqui, princesa. É só pra Duda te examinar - dei a volta ficando próxima a cabeceira da cama.

- Me atualize do meu quadro médico por favor - cada palavra saía devagar e com longas pausas.

- Bom, você ficou em coma por 10 dias, passou por um transplante de veia cava fazem 6 dias, nós colocamos a sua veia cava experimental e bom, foi um sucesso!

- A impressão deu certo? - Luiza abriu um largo sorriso.

- Claro que deu, princesa. Você quem fez - beijei sua testa. - Aliás, estou muito orgulhosa.

- Sem sinal de sequelas neurológicas. - Duda atestou. - Espero recuperação completa!

- Vou solicitar alguns exames, mas está tudo certo e nada de sequelas cardíacas. - Samantha completou.

Era um alívio ver que o amor da minha vida estava bem, lúcida e fora de perigo.

Apesar de ter sido avisada diversas vezes para não se esforçar demais, Luiza insistiu em receber os funcionários que pediram para vê-la.

Ao longo das visitas, me passava pela cabeça qual será o próximo passo dos pais de Luiza, tenho certeza que eles não pararam por aqui.

Após algumas horas de muitos mimos, abraços e presentes, Luiza entendeu que estava na hora de descansar e suspendeu as visitas.

- Que foi? Não me olha assim.

- Eu não tô te olhando de jeito nenhum, princesa - terminei de vestir o pijama que usava já que agora estava apenas em observação e me juntei a ela.

- Te conheço. Que foi?

- Acho arriscado todos terem livre acesso a você, ainda mais depois de tudo. - suspirei enquanto deslizava a ponta dos dedos ao redor da cicatriz da cirurgia agora coberta por um curativo.

- Vamos tomar mais cuidado de agora em diante, combinado?

- Combinado, princesa. Agora vem, vou te fazer dormir antes de ir pra minha cama.

Já era noite, passava pelo menos das 21h, Luiza conseguiu deitar em meu peito e devido ao cansaço e remédios, adormeceu rapidamente. Menos mal, porque a minha mente por outro lado não parava de pensar em como as coisas serão daqui pra frente.

Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora