CAPÍTULO 57

2K 218 23
                                    

[POV Valentina Albuquerque]

O esperado – e temido – dia de Natal chegou e eu estou a caminho da casa de Luiza. Desde nossa última cirurgia juntas mal a vi, já que ficamos em horários opostos numa das semanas mais movimentadas de qualquer hospital. Você se surpreenderia com quantas pessoas fazem loucuras no Natal e Ano Novo.

A ceia esse ano seria na casa de minha mãe e para ser sincera, nem ela e nem Sam ligam muito para essa data, mas comigo foi diferente, passei a amar o Natal justamente por quão especial meu pai conseguia fazê-lo ser. 

Depois de muita conversa com a clínica, conseguimos retirar meu pai de lá para as festas de fim de ano, ao longo de todos esses anos sempre partia dele esse esforço de se superar a cada Natal com as decorações exageradas, árvores enormes e tudo isso para nossa família, vários de seus amigos do boxe e alguns primos que sempre estavam de passagem por aqui,  já que nossa família vivia em sua maioria na Itália. 

[Lembrança ON]

Faltavam cinco dias para o Natal e estávamos eu e meu pai sozinhos em casa. Mamãe e Samantha foram fazer compras de última hora, então Marcus estava no jardim podando alguns galhos mais altos da grande pinheiro que comprou, plantou e nutriu desde que Sam nasceu.

- Filha, me ajuda aqui! - o pedido de ajuda veio do jardim.

- O que foi pai? - eu, no auge dos meus 16 anos não queria estar fazendo esse tipo de atividade e isso ficava evidente no meu tom de voz nada amigável, afinal estava ocupada demais assistindo cirurgias inéditas de traumas ortopédicos e estudando loucamente.

Mas era obrigada a pelo menos ficar por perto para emergências super graves como pegar um pisca-pisca que saiu do lugar. Chegando no jardim ele estava sentado no chão fingindo calma.

- Eu acho que só torci o pé, acho que a perna ao descer da escada, pode me ajudar chamando o jardineiro ou então trazendo a cadeira para que possa me sentar?

- Deixa eu ver.

- Você não é médica. Tina, só... - sua canela apresentava uma saliência bem visível. - ... aí! Por favor, busque ajuda.

- Eu vou ligar para a emergência, mas até eles chegarem sou tudo que você tem.

Meu pai nunca quis que me formasse em medicina, o boxe era tudo pra ele e na sua cabeça devia significar o mesmo para mim. Estava procurando um cursinho preparatório para o vestibular de medicina e ele não fazia a menor questão de apoiar meu sonho mesmo que fosse diferente da expectativa que ele criou em cima de mim a vida toda.

- Por que dói tanto? - ele gritou de dor.

- Vamos ver, se deite para que eu possa examiná-lo. - alcancei a tesoura de jardinagem que ele usava e cortei sua calça moletom para visualizar a fratura.

Após tirar seu tênis e meia, uma torção se apresentava na parte interna de seu tornozelo, essa parte era dolorosa, mas mais tranquila da que se seguia: ele também fraturou o osso da tíbia na região bem próxima do tornozelo. Essa fratura óssea precisava ser reduzida imediatamente, afinal ele estava perdendo a circulação no membro ferido.

- Pai, você torceu seu pé e fraturou a canela, vou ter que reduzir sua fratura, caso o contrário vai perder o movimento dessa perna e não haverá o que salvar quando os socorristas chegarem.

- Não! Não confio em você pra isso. - quem dera ter concluído que ele falou sem pensar, mas esse discurso era comum até mesmo sem ele ter se quebrado.

- Ok, então fique aí e corra o risco de perder o movimento da sua perna. Cansei dessa palhaçada. - dei as costas para ele e caminhei em direção a sala onde assistia.

Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora