CAPÍTULO 9

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[POV Luiza Campos]

Os gritos na sala do técnico eram vorazes, como se quisesse machucar o receptor de sua mensagem com aquelas palavras.

Toda a academia parou para observar a conversa.

-Se ele não perdoa nem a filha, quem dirá a gente, né? - uma mulher se aproximou parando ao meu lado.

-É pior ainda justamente por ser a filha dele. - completei.

-Jordan Bates. - a garota alta e forte de pele branca e cabelos pretos falou.

-Luiza Campos. - seus olhos se arregalaram.

-Não foi você que.. - sua feição era confusa.

-O quê?

-Você lutou com a Albuquerque não foi?

-Foi, mas o que isso tem a ver? - eu realmente não estava entendendo.

Jordan sorriu e pegou suas luvas no banco antes de sairmos do vestiário em direção ao ringue.

-Vem precisamos nos aquecer.

A Eagle Fire Of Manhattan é uma das maiores e mais fortes academias de boxe do país, pelo menos foi o que meu técnico disse antes de me expulsar da Watergate NY por mensagem.

Covarde.

Pouco tempo depois de ter terminado uma volta no ginásio e já ofegante a atleta que estava na sala do técnico saiu de lá. Ela estava bufando de raiva e não era para menos, o cara estava humilhando ela lá dentro.

Vamos lá, destino. Que palhaçada é essa?

Albuquerque. Valentina Albuquerque. A dona dos meus pensamentos nos últimos 3 dias agora era da academia para a qual fui forçada a ir.

-Devia ver sua cara! -Jordan riu baixinho após voltarmos a correr.

-Não sabia que Albuquerque treinava aqui.

-Ela não só treina, como também dá o treino. Ela é educadora física e cirurgiã.. -a garota falava com certa admiração.

-Impressionante.

-Se tem uma coisa que ela é, é impressionante. - Jordan mordeu o lábio ao terminar sua fala enquanto olhava na direção de Albuquerque.

Bem desnecessário toda essa eloquência para falar dela.

-Campos, você está comigo. - disse Albuquerque.

É uma tarefa árdua treinar sem ficar vidrada nessa mulher, seus olhos são tão claros que chegam a ser inebriantes e lembrar que estive nos braços dela só me fazia quere repetir aquilo.

O técnico saiu de sua sala após o primeiro exercício que Valentina passou. Parecia extremamente calmo, definitivamente diferente de mais cedo. Ele passava por cada dupla e avaliava cuidadosamente a técnica de cada atleta. Tudo seguiu sem grandes novidades, nada muito diferente de como era na minha antiga academia.

O treino durou pelo menos 3 horas, um bom e intenso, exaustivo, cansativo e extenuante treino.

-Estão liberados. - Valentina falou em alto e bom tom.

-Achei que meu momento de partir tivesse chego! - um dos meninos falava em tom descontraído e todos riram.

-Você foi muito bem. - Valentina ainda sorria. -Te encontro no ponto de ônibus atrás da academia, pode ser?

-Claro, mas... -fui interrompida.

-Senhorita Campos. - era Albuquerque, o Marcus Albuquerque, técnico e pai de Valentina.

-Senhor Albuquerque. - respondi no mesmo tom cordial, observando a cara nada contente da mulher ao meu lado.

-Bom treino, será que é nossa mais nova promessa? - seu tom veio carregado de malícia. Ele estava provocando a filha e me usando para isso.

-Obrigada, Senhor. - estavamos nos aproximando do vestiário.

-Não me agradeça, é bom ter sangue novo por aqui. - ele limpou a garganta. - Quem sabe assim não seguimos para o estadual.

-É engraçado te ver tentando criar rivalidade entre duas mulheres. Bem baixo até vindo de você, pai. - Valentina saiu pisando duro em passos largos chegando ainda mais rápido no vestiário.

-Perdoe os péssimos modos de minha filha. - ele limpou a garganta antes de prosseguir. - Bem vinda ao EFM! Até o próximo treino.

-Obrigada. - desviei para o vestiário, ainda precisava encontrar Albuquerque, posso imaginar que ela não se sentiu confortável nessa situação.

Chegando lá, todas as meninas já haviam saído restando apenas eu e Valentina.

-Valen..

-Shhh. Aqui não. -sussurrou apontando para a porta do vestiário.

Apenas assenti com a cabeça e terminei de me arrumar.

Agora, após sair do ginásio com o abrigo do time e mais suada do que gostaria me dirigi ao ponto de ônibus citado por Valentina mais cedo o mais rápido que pude, felizmente o carro que finalmente havia ficado pronto facilitava o trajeto.

Mesmo com o vidro levemente entreaberto o vento gelado que entrava no carro era desconcertante.

-Oi. - Valentina se encolhia.

-Vem, entre. - indiquei com a cabeça e ela prontamente entrou no carro.

-Pra onde? - perguntei parando em um semáforo.

-Minha casa.. - seu olhar era triste. -Four Seasons Hotel.

Menos de dez minutos e eu já estacionava o carro ao lado do dela. Eu não conseguia reconhecer essa mulher, ela estava muito diferente de quando a conheci.

-Você pode subir comigo? Prometo não tomar seu tempo. - nos aproximávamos do elevador que havia no estacionamento. -Por favor...

-Claro, está tudo bem, pelo menos garanto que irá ficar bem.

-Obrigada.

Agora dentro do elevador, me pergunto em qual andar ela mora na esperança de que a estadia no elevador seja curta.

Detesto elevadores.

Valentina aperta o botão da cobertura e se vira pra mim bruscamente.

-Vem..- busquei seu olhar.

No mesmo instante a mulher praticamente se jogou dentro do meu abraço, como se tivesse esperado por aquele momento o dia inteiro.

Eu a apertei, forte, até chegarmos no andar escolhido. Albuquerque precisa de mim e eu com certeza estarei aqui para ela.


Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora