[POV Luiza Campos]
Os gritos na sala do técnico eram vorazes, como se quisesse machucar o receptor de sua mensagem com aquelas palavras.
Toda a academia parou para observar a conversa.
-Se ele não perdoa nem a filha, quem dirá a gente, né? - uma mulher se aproximou parando ao meu lado.
-É pior ainda justamente por ser a filha dele. - completei.
-Jordan Bates. - a garota alta e forte de pele branca e cabelos pretos falou.
-Luiza Campos. - seus olhos se arregalaram.
-Não foi você que.. - sua feição era confusa.
-O quê?
-Você lutou com a Albuquerque não foi?
-Foi, mas o que isso tem a ver? - eu realmente não estava entendendo.
Jordan sorriu e pegou suas luvas no banco antes de sairmos do vestiário em direção ao ringue.
-Vem precisamos nos aquecer.
A Eagle Fire Of Manhattan é uma das maiores e mais fortes academias de boxe do país, pelo menos foi o que meu técnico disse antes de me expulsar da Watergate NY por mensagem.
Covarde.
Pouco tempo depois de ter terminado uma volta no ginásio e já ofegante a atleta que estava na sala do técnico saiu de lá. Ela estava bufando de raiva e não era para menos, o cara estava humilhando ela lá dentro.
Vamos lá, destino. Que palhaçada é essa?
Albuquerque. Valentina Albuquerque. A dona dos meus pensamentos nos últimos 3 dias agora era da academia para a qual fui forçada a ir.
-Devia ver sua cara! -Jordan riu baixinho após voltarmos a correr.
-Não sabia que Albuquerque treinava aqui.
-Ela não só treina, como também dá o treino. Ela é educadora física e cirurgiã.. -a garota falava com certa admiração.
-Impressionante.
-Se tem uma coisa que ela é, é impressionante. - Jordan mordeu o lábio ao terminar sua fala enquanto olhava na direção de Albuquerque.
Bem desnecessário toda essa eloquência para falar dela.
-Campos, você está comigo. - disse Albuquerque.
É uma tarefa árdua treinar sem ficar vidrada nessa mulher, seus olhos são tão claros que chegam a ser inebriantes e lembrar que estive nos braços dela só me fazia quere repetir aquilo.
O técnico saiu de sua sala após o primeiro exercício que Valentina passou. Parecia extremamente calmo, definitivamente diferente de mais cedo. Ele passava por cada dupla e avaliava cuidadosamente a técnica de cada atleta. Tudo seguiu sem grandes novidades, nada muito diferente de como era na minha antiga academia.
O treino durou pelo menos 3 horas, um bom e intenso, exaustivo, cansativo e extenuante treino.
-Estão liberados. - Valentina falou em alto e bom tom.
-Achei que meu momento de partir tivesse chego! - um dos meninos falava em tom descontraído e todos riram.
-Você foi muito bem. - Valentina ainda sorria. -Te encontro no ponto de ônibus atrás da academia, pode ser?
-Claro, mas... -fui interrompida.
-Senhorita Campos. - era Albuquerque, o Marcus Albuquerque, técnico e pai de Valentina.
-Senhor Albuquerque. - respondi no mesmo tom cordial, observando a cara nada contente da mulher ao meu lado.
-Bom treino, será que é nossa mais nova promessa? - seu tom veio carregado de malícia. Ele estava provocando a filha e me usando para isso.
-Obrigada, Senhor. - estavamos nos aproximando do vestiário.
-Não me agradeça, é bom ter sangue novo por aqui. - ele limpou a garganta. - Quem sabe assim não seguimos para o estadual.
-É engraçado te ver tentando criar rivalidade entre duas mulheres. Bem baixo até vindo de você, pai. - Valentina saiu pisando duro em passos largos chegando ainda mais rápido no vestiário.
-Perdoe os péssimos modos de minha filha. - ele limpou a garganta antes de prosseguir. - Bem vinda ao EFM! Até o próximo treino.
-Obrigada. - desviei para o vestiário, ainda precisava encontrar Albuquerque, posso imaginar que ela não se sentiu confortável nessa situação.
Chegando lá, todas as meninas já haviam saído restando apenas eu e Valentina.
-Valen..
-Shhh. Aqui não. -sussurrou apontando para a porta do vestiário.
Apenas assenti com a cabeça e terminei de me arrumar.
Agora, após sair do ginásio com o abrigo do time e mais suada do que gostaria me dirigi ao ponto de ônibus citado por Valentina mais cedo o mais rápido que pude, felizmente o carro que finalmente havia ficado pronto facilitava o trajeto.
Mesmo com o vidro levemente entreaberto o vento gelado que entrava no carro era desconcertante.
-Oi. - Valentina se encolhia.
-Vem, entre. - indiquei com a cabeça e ela prontamente entrou no carro.
-Pra onde? - perguntei parando em um semáforo.
-Minha casa.. - seu olhar era triste. -Four Seasons Hotel.
Menos de dez minutos e eu já estacionava o carro ao lado do dela. Eu não conseguia reconhecer essa mulher, ela estava muito diferente de quando a conheci.
-Você pode subir comigo? Prometo não tomar seu tempo. - nos aproximávamos do elevador que havia no estacionamento. -Por favor...
-Claro, está tudo bem, pelo menos garanto que irá ficar bem.
-Obrigada.
Agora dentro do elevador, me pergunto em qual andar ela mora na esperança de que a estadia no elevador seja curta.
Detesto elevadores.
Valentina aperta o botão da cobertura e se vira pra mim bruscamente.
-Vem..- busquei seu olhar.
No mesmo instante a mulher praticamente se jogou dentro do meu abraço, como se tivesse esperado por aquele momento o dia inteiro.
Eu a apertei, forte, até chegarmos no andar escolhido. Albuquerque precisa de mim e eu com certeza estarei aqui para ela.
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Predestinadas - Valu
FanficLuiza e Valentina são cirurgiãs de um dos hospitais mais renomados dos Estados Unidos, ambas são bem sucedidas e parecem ter o próprio futuro garantido, mas as relações complicadas em que se envolveram nunca permitiram que fossem realmente felizes. ...