CAPÍTULO 3

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[POV Valentina Albuquerque]

Sexta-feira, 16 de junho de 2023, é meu primeiro dia como atendente nesse hospital, o Presbyterian, no John Hopkins eu era Chefe da Ortopedia, ao vir pra cá, não me foi garantido que tal título se manteria.

O tamanho desse hospital é absurdo, é um complexo de prédios enormes que parecem competir entre si para definir qual é o maior.

Como ortopedista sei que grande parte dos casos de trauma precisam de, no mínimo, uma consulta comigo ou até mesmo cirurgia. Por isso ao conhecer um hospital sempre entro pela entrada de ambulâncias.

O primeiro atendimento e tempo de resposta da equipe é mostrado ali, é nesse momento que vemos se um turno trabalha bem em conjunto ou não.

-Posso ajudar? - uma enfermeira se aproximou questionando com certa preocupação em seu tom de voz.

-Está tudo bem. - sorri cordialmente. -Trabalho aqui também.

-Não te reconheço, é nova não é? Seja bem vinda...? - a enfermeira deu a entender que eu deveria completar sua felicitação dizendo meu nome.

-Albuquerque. Valentina Albuquerque. - a mulher sorriu brevemente e foi puxada pelos paramédicos que invadiram o pronto socorro com um paciente.

-Mulher, 32 anos, acidente doméstico. Atravessou a janela de vidro de sua casa e depois caiu de uma altura de 3 metros. Fratura exposta da tíbia e hemorragia causada pelo vidro na coxa dela.

O que disse sobre sempre chamarem a ortopedia?

-Preciso de alguém da geral aqui e de um ortopedista. - uma atendente falava enquanto fazia ausculta e examinava as funções cerebrais da paciente. Neuro, acredito.

-Precisamos levá-la para o raio-x e em seguida preparar a sala de cirurgia. Essa tíbia precisa ser colocada no lugar e tenho que verificar a existência de sangramentos secundários por essa perna. - falei enquanto entregava minha bolsa para um enfermeiro que acompanhava todo processo e colocava a luva descartável para verificar a integridade da perna ao redor do ferimento. -Pode separar meu jaleco por favor?

-E quem é você? - toda a equipe parou para me olhar.

-A ortopedista... - falei como se fosse óbvio. -.. estamos perdendo um tempo precioso aqui!

-Eduarda Martin, neuro. Prazer... -o mesmo tom da enfermeira quando cheguei.

-Valentina Albuquerque, ortopedia. -assenti ajeitando o jaleco ao passo em que levavam a paciente para o raio-x.

-Podem chamar a chefe da cirurgia? - Martin solicitou a três internos que a seguiam por onde quer que fosse.

A médica à minha frente era morena, pouco mais baixa que eu, devia ter 1,55cm. Seus olhos castanho escuros estavam intensos, focados e em estado de alerta, como quem protegesse uma vida, até porque era exatamente isso que ela estava fazendo. Ali, paixão e zelo pelo que faz.

Eu estava sentada de costas para a porta encarando os monitores que agora começavam a revelar as imagens que solicitei. Quando uma voz disse exatamente a mesma coisa que eu acabei de dizer.

-Fratura extensa da tíbia e fíbula. - a voz que veio da porta da sala de raio-x falou a mesma coisa que falei, ao mesmo tempo. - Nossa! Chamou?

-O hospital agora tem um coral e não estou sabendo? - Eduarda Martin riu baixinho enquanto nos olhava.

Sua voz era familiar e instintivamente meu olhar buscou por aquele som.

Como isso é possível? Pensava enquanto encarava a mulher que apoiava um dos ombros no batente da porta.

Seus olhos castanho escuro e intensos eram inconfundíveis, ao contrário do dia em que a vi apenas de top, dessa vez seus braços estavam cobertos pelo jaleco cujo nome bordado era "Dra. Luiza Campos" e seus cabelos soltos caindo por seus ombros emolduravam perfeitamente a obra de arte que era seu rosto.

Ela trabalha comigo, por que estou reparando tanto? Se recomponha!

Achei que o tempo de reparar em Luiza e brigar comigo mesma para afastar pensamentos inapropriados tivesse sido curto, mas não. Lá estava eu, paralisada olhando aquela deusa.

-Albuquerque. - Luiza me cumprimentou cordialmente e logo voltou a atenção para sua, aparentemente, amiga. -Que foi, doutora Martin?

-Campos. -sorri brevemente antes de retornar para as imagens

-Essa é Alice James, ela atravessou uma janela de vidro e caiu de 3 metros de altura. Fizemos o raio-x e constatamos a fratura extensa da tíbia e fíbula. - a neurologista buscou fôlego. -Mas aqui também tem uma costela quebrada, pode participar da cirurgia com a gente? Receio que outras estruturas possam estar comprometidas.

-Reserve a sala de cirurgia e peça para me chamarem quando estiver tudo pronto. Foi bom ter me chamado.

-Ok, chefinha. - Eduarda brincou com a amiga que balançou a cabeça em reprovação a atitude nada profissional.

-Ok, Dra Campos. - corrigiu.

-Melhor. Estamos combinadas então. - a chefe da cirurgia piscou para ela e saiu da sala. -Dra Valentina, em minha sala antes da cirurgia, por favor.

-Certo. - assenti.

Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora