CAPÍTULO 45

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[POV Luiza Campos]

Dali em diante, o fluxo de sangue de Gigi foi se reduzindo a cada segundo que a vida deixava seu corpo. Ela tinha só 10 anos...

Quanto mais sangue saía de seu ferimento, mais sangue encharcava meu uniforme cirúrgico e a poça no chão aumentava. Olhei para seu peito que subia e descia com muita dificuldade e pude perceber o exato momento em que ela tinha partido.

- Luiza... - uma voz distante me chamava enquanto eu olhava fixamente para minhas mãos que seguravam o clampeamento que agora não era mais necessário.

Eu sabia disso, sabia que precisava me afastar, mas me recusei a deixar Gigi ainda mais desamparada.

- Lu... - senti uma mão hesitante tocar a minha. - amor, olha pra mim.

Levantei os olhos para olhar para Valentina que tentava me trazer de volta à realidade, olhando ao redor percebi que a multidão que momentos atrás estava aqui havia se dispersado. A vida de Gigi Fields era apenas mais uma boa fofoca para eles.

- Uau, doutora Campos, - Giovanna se aproximou de mim. - ...para quem nunca perdeu um paciente, você perdeu essa com uma facilidade surpreendente.

O que Giovanna disse me atingiu como um soco no estômago, não queria me afastar de Gigi e de sua mãe, então apenas observei a dona do hospital sair de perto provavelmente rumo à sala da presidência.

- Lu, vem, vamos limpar você. - Valentina tentou me ajudar a levantar do chão, já que eu estava ajoelhada ao lado do corpo já inerte.

Como um clarão, meu cérebro começou a me bombardear, mostrando flashes de tudo que havia acabado de acontecer, das coisas que Giovanna disse e como ela estava prejudicando todos e principalmente a Valentina. Essa mulher é um câncer. E eu preciso extermina-lo.

Olhei nos olhos de Valentina, que estava nitidamente preocupada comigo e senti meu sangue ferver novamente. Desviei o olhar para Gigi, sabia que seria a última vez que olharia para ela. O pior é mais cedo eu ter associado ela a uma mistura perfeita das características físicas de Valentina e eu, como se... como se ela fosse nossa filha.

- Luiza, Lu... para! - Valentina tentou me segurar, mas eu já não a escutava mais com clareza.

Com os olhos cheios de lágrimas me coloquei sobre meus pés novamente e segui em direção à sala da presidência tá mais do que na hora de ela sentir pelo menos 1% da dor que causou a essa garotinha.

Os corredores claros do hospital eram borrões, as pessoas espalhadas por ele sequer ousavam se colocar em meu caminho e era melhor assim. Tinha a impressão de ouvir ao fundo a voz de Valentina antes de eu entrar no elevador, mas naquele momento escolhi ignora-la.

Passei pela mesa da secretária da presidência, felizmente não havia ninguém lá, mas a porta da sala estava aberta e já conseguia ver Giovanna Luschesi lá dentro.

- Doutora Campos, por gentileza agora não é o momento... - Elizabeth Beggs se colocava entre eu e sua chefe direta que estava próxima à grande parede de vidro do hospital.

- Sai. Da. Minha. Frente. - falei pausadamente e ela não ousou permanecer em meu caminho.

Antes que Giovanna pudesse se virar, a segurei parte de trás da cabeça e bati seu rosto contra o vidro espesso e firme com força. Ela cambaleou e por um instante pareceu desorientada.

- Você enlouqueceu de vez? - ela balbuciou.

- Você vai aprender a nunca mais machucar alguém. - cerrei meu punho direito e soquei seu nariz.

- Vou acabar com você, Luiza. - sangue escorria da estrutura que acabei de acertar. - Quando eu acabar não vai ter mais você, Valentina ou sequer esse hospital.

- Você não me intimida, Luschesi. - armei outro soco, mas poucos segundos antes de acertá-la, senti braços me envolverem pela cintura. Seus olhos raivosos queimavam me encarando, ela limpou o sangue que escorria por seu nariz com as costas de uma das mãos e sorriu cinicamente com a boca completamente vermelha com o sangue ali acumulado.

- Luiza! Para! É isso o que ela quer! - Valentina me puxava para fora da sala, me arrastando pelo corredor administrativo. - Amor, por favor, me escuta!


Atravessamos o corredor e agora estávamos trancadas na sala de Valentina. A adrenalina que me fez querer reaver a morte de Gigi havia diminuído drástica e bruscamente, meu corpo inteiro doía pela descarga emocional, meu punho embora fosse calejado, doía pela força excessiva com a qual acertei o nariz de Giovanna.

- Princesa, vem cá – Valentina me conduziu para o banheiro, eu ainda estava com o uniforme totalmente manchado de sangue da cintura para baixo, meus braços – com exceção das mãos que estavam protegidas pela luva descartável – também estavam com sangue, a essa altura seco.

- Eu nem declarei a hora da morte dela, amor...

- Eu fiz isso por você. Vem, vamos tirar essa roupa. - Valentina levantou meus braços fazendo menção que eu os mantivesse para cima. Assim fiz e em poucos minutos estava nua dentro do box.

Valentina abriu o chuveiro e senti a água morna cair em minha cabeça. O piso branco do box do banheiro ficou vermelho enquanto ela esfregava com delicadeza meus braços e minha mão.

- Preciso examinar essa mão. - Valentina abria minha mão afim de checar minha mobilidade.

- Eu tô bem. - mal conseguia abrir a mão. Franzi a testa em resposta a dor que o movimento me causava.

- Depois você precisa ir para o raio-x. Tenho quase certeza que houve fratura.

- Ok, antes de qualquer coisa, posso só tomar um banho?

- Claro, vou buscar suas roupas para irmos pra casa.

- Obrigada.

Valentina se retirou me deixando a sós com meus pensamentos.



Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora