CAPÍTULO 35

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[POV Valentina Albuquerque]

- Seu pai está pronto para recebê-la, doutora Albuquerque. - um enfermeiro da ala da psiquiatria do hospital anunciou ao sair do quarto em que meu pai estava. - Ele está sendo medicado, em cerca de 10 minutos provavelmente irá dormir.

- Obrigada. - respirei fundo e me aproximei da porta de seu quarto mais insegura do que imaginei que estaria agora. Ajustei o alarme do celular para saber quanto tempo teria.

Decidi vir até a psiquiatria conversar com o meu pai sobre o que estava acontecendo, é certo que ele não tem mesmo como continuar administrando seus diversos empreendimentos, mas isso não significa que ele não precise saber do que acontece e do que acontecerá com ele. Mesmo que nos próximos minutos ele se esqueça.

A psiquiatria de um hospital não cria lá um ambiente favorável para conversas difíceis, a energia daqui já é difícil por si só. Os corredores com piso e teto brancos e paredes em cor azul claro não acalmam como deveriam, pelo menos não a mim. Desde o surto no sábado, meu pai precisou ficar sob observação por aqui porque estava se colocando em risco e colocando outras pessoas em perigo.

- Pai? - coloquei apenas a cabeça para dentro do quarto, esperando a aprovação de meu pai para entrar. - Posso entrar?

- Filha! Claro que pode. - ele estava confortavelmente sentado em sua cama debaixo de uma coberta azul como as paredes do quarto.

- Está se sentindo melhor? - sua fala era clara, ele parecia estar lúcido.

- Sim, filha. Não vejo a hora de voltar para casa, para a academia... - ele abriu um largo sorriso. - Nossa, sabe do que lembrei? De quando você deu seu primeiro nocaute, naquele amistoso. Lembra?

- Sem a mesma riqueza de detalhes que você, mas sim.

[Lembrança ON]

- Atenção atleta, você é a próxima a entrar no ringue. - o técnico se aproximou de mim e se inclinou para olhar nos meus olhos. - Você treinou muito para chegar até aqui, sabe exatamente o que precisa fazer.

A Valentina de 12 anos apesar de realmente saber o que tinha que fazer, ainda estava literalmente apavorada por ver uma adversária com quase o dobro de seu tamanho determinada a nocauteá-la.

- Tina, você é a melhor boxeadora que já conheci. Vai lá e mostre a habilidade dos Albuquerque. - meu técnico, que antes de qualquer coisa é meu pai, sussurrou no meu ouvido.

- Mas pai, olha o tamanho dela.

- Filha, não importa o tamanho dela. Lembre-se: a vitória é mera consequência de uma boa execução técnica. E eu acredito em você.

Após o incentivo segui para o ringue. Não vou mentir e dizer que o nocaute foi fácil. Apanhei? Sim, mais do que gostaria. Mas o que mais me lembro é de meu pai vibrando por mim, saindo de sua postura de técnico e sendo pura e simplesmente meu pai.

[Lembrança OFF]

-Você foi incrível naquela luta. Venceu por nocaute no terceiro round mesmo depois de ter apanhado tanto. - meu pai sorria como quem visualizasse toda aquela lembrança. - Sente-se ao meu lado, Tina. Não vou te fazer mal.

- Claro, pai. - seguindo seu pedido me sentei ao seu lado, na beira da cama, me virando de frente para ele. - Obrigada pela lembrança, mas precisamos conversar sobre algumas coisas, serei muito breve e objetiva, tudo bem?

- Por favor, o que houve? - meu pai me olhava nos olhos com certa preocupação.

- Pai, você sabe que tem Alzheimer não sabe?

Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora