CAPÍTULO 50

2.1K 221 49
                                    

[POV Valentina Albuquerque]

Praticar medicina sempre foi sobre uma porção de decisões e condutas a serem tomadas em prol da melhora do paciente. O peso disso por si só já é gigantesco, ter uma vida nas suas mãos e ser quem faz essa vida continuar ou acabar ali mesmo.

Ter que decidir o que acontecerá com Giovanna é algo bem difícil, tanto que mesmo passando a noite em claro pensando sobre o que fazer, não consegui chegar a uma resposta final e decisiva.

Ainda sinto cada ferida que ela me causou, não foram poucas e não foram só físicas. Ao longo de grande parte de nossa vida juntas ela me causou apenas dor. Como alguém que diz te amar de verdade é capaz de te ferir, acabar com a sua dignidade e com a sua vontade de viver?

Medicamente falando, Giovanna poderia ter uma chance se investisse em tratamentos de primeiro mundo, novas terapias de reabilitação e cirurgias reparadoras. Ela poderia até voltar a falar e talvez recuperaria algumas funções motoras.

Mas falando como quem já perdeu a conta de quantas vezes sofreu na mão dela e de quantas vítimas o Grupo Médico Luschesi fez, era surpreendentemente fácil pensar em larga-la à própria sorte.

Ela merece um desfecho.

Luiza dirigia pelo trânsito matinal caótico de Manhattan rumo ao Hospital Presbiteriano de Nova Iorque para que eu pudesse assinar como procuradora de Giovanna e definir a conduta médica a ser adotada.

Enquanto olhava fixamente a placa do carro parado à nossa frente sentia a mão de Luiza acariciar a minha perna vagarosamente como quem mostrasse que estava ali ainda respeitando meu espaço para poder pensar e tomar uma decisão.

[Lembrança ON]

- Oi você! - uma voz doce ecoou em meus ouvidos no meio do bar movimentado.

- Oi você? Que cumprimento é esse? - ri enquanto me virava de frente para a dona da voz.

Ainda não sabia seu nome, mas durante os 40 minutos em que estou aqui ela não desgrudou os olhos de mim.

- É uma forma carinhosa de cumprimentar a minha futura esposa, não posso? - aqueles olhos azuis me enfraqueceram no mesmo instante.

- Você é bem pra frentéx né? - enquanto eu falava analisava melhor os seus traços delicados, seu corpo definido. Ela é meu número.

- Não acho, só sei bem o que quero. - ela me olhou nos olhos. - O meu nome é Giovanna Luschesi, prazer

- O prazer definitivamente é todo meu. - sorri desviando o olhar antes de encara-la de novo. - Valentina Albuquerque.

[Lembrança OFF]

Eu deveria ter percebido, deveria...

- Meu bem, chegamos - Luiza sinalizou nossa entrada no estacionamento de colaboradores.

- Então vamos? - olhei em seus olhos tentando expressar algum ânimo.

- Não tem certo ou errado, tem você tomando a decisão que julgar ser a certa pra você e pra ela, entendeu? - Luiza desligou o carro e segurou minhas mãos com as suas. 

- Eu sei, só é muito difícil ficar entre meu juramento e meu trauma. - confessei e abaixei a cabeça com vergonha pelo que havia acabado de dizer.

- Princesa, você é apenas a cônjuge da paciente. Se desprenda do conceito de ser uma cirurgiã agora. - Luiza beijou minhas mãos. - E outra, eu estou aqui para apoiar absolutamente qualquer que seja sua decisão, sem julgamentos.

Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora