CAPÍTULO 6

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[POV Luiza Campos]

Como pude perder o controle a ponto de beijar a Albuquerque? Na verdade quase beijar né? Já que ela foi sensata e literalmente me deu um fora épico. Não sei se sinto raiva, frustração, só sei que sua boca dizia uma coisa que não condizia com seu olhar e seu toque. Ela queria.

-Bom dia, André. - cumprimentei o enfermeiro ao passar pela central de atendimento do trauma.

-Chefe. - o ouvi retribuir o cumprimento ao fundo.

Fui a minha sala o mais rápido possível, justamente para evitar dar de cara com Valentina. Mas como sempre, ela estava 20 passos à minha frente.

-Senhorita Campos. - Valentina sorriu. Ela estava parada na porta de meu escritório.

-Senhorita Albuquerque, como posso ajudá-la?

-Nós precisamos conversar. O quanto antes.

-Você tem razão, mas em nosso horário de trabalho?

-Gostaria de almoçar comigo? - suas bochechas estavam vermelhas. Foi fofo.

-Ok, que horas você vai almoçar?

-13h30. Tudo bem?

-Por mim tá ok. Te encontro na saída do estacionamento.

Valentina se despediu e saiu rumo à clínica, aqui no hospital conciliamos as cirurgias com o atendimento clínico com a maioria dos cirurgiões. Logo todos, menos eu que tenho um horário diferente, acompanham os pacientes desde sua primeira consulta à cirurgias eletivas e de trauma.

Como chefe da cirurgia eu precisava garantir a eficiência dos meus cirurgiões, se eles erram, eu erro. E para isso havíamos determinado horários de trabalho mais tranquilos para que tivessem tempo de descansar, ir dormir, praticar atividade física e conviver efetivamente com sua família.

Estava dando certo, afinal nossas taxas de erro em cirurgias eram as menores do país. E nossos médicos são amplamente requisitados em outros hospitais renomados.

Sobre a chegada de Valentina Albuquerque no hospital, havia um grande ponto de interrogação. Ninguém sabia nada sobre ela aqui, só o presidente do hospital parecia conhecê-la e a trouxe para cá como favor.

Já passa das 13h, falta pouco para ir encontrar Albuquerque, preciso avisar minha fiel parceira de almoço que tenho outro destino hoje.

"Duda, hoje você vai precisar almoçar sozinha. Tenho uma reunião durante o almoço.

Vou te recompensar! Beijinhos"

Certamente ela ficaria chateada por avisar em cima da hora, mas a manhã foi tão cheia e corrida com consultas e organização de cronograma de cirurgias que não tive como avisar antes.

Nem 30 segundos após apertar em "enviar mensagem", Eduarda respondeu a mensagem deixando claro que não havia ficado nada contente. Retirei o jaleco colocando o no suporte próprio e peguei minha carteira, ao olhar no relógio me assustei: 13h29.

Eu espero dar a hora certa pra poder me atrasar não é possível!

Andando o mais rápido possível de salto alto e calça pantalona, cheguei ao local combinado 13h32.

-Oi atrasada. - Valentina buzinava brevemente. -Vamos?

-Desculpa! -falei entrando no carro e fechando a porta logo atrás de mim. - Vamos.

Agora a caminho de um restaurante distante o suficiente do hospital para que ninguém pudesse nos ver e ouvir, toda a tensão de ontem voltava a me importunar.

-Valentina, sobre ontem: foi totalmente inapropriado, me desculpe. - falei finalmente depois de um momento tenso de silêncio.

-Não precisa pedir desculpas por absolutamente nada. - ela sorriu daquele jeito sincero e escancarado de novo. Droga.

-É aqui? - questionei enquanto Valentina dirigia pelo estacionamento que tinha pelo menos 10 níveis diferentes.

-É sim, fique tranquila, não vou sequestrar você. - brincou.

-Fico mais tranquila, obrigada pelo aviso, senhora sequestradora.

Onde paramos era deserto e a luz não entrava tão bem, mas bem atrás de onde estávamos era possível ver a porta de acesso ao restaurante que iríamos.

-Chegamos. - Valentina falou triunfante e me olhou nos olhos.

-Então vamos? -segurei a carteira com mais firmeza e me preparei para abrir a porta do carro.


Predestinadas - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora