24° capítulo

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O carro não é o mesmo de sete anos atrás, mas esse Tom também não é. Consigo me lembrar de sua felicidade quando comprou o seu primeiro carro, vivia usando o carro do irmão porque ninguém sabia que era de Bill. Passo todo o caminho calada, pensando em como vai ser no ensaio, mas o que mais me deixa insegura é o jantar com o Mr Albert. Três anos sem vê-lo é um bom tempo.
Assim que chegamos na rua onde fica o estúdio, reconheço o lugar onde já vim tantas vezes acompanhá-lo.
- Pronta? - ele me pergunta assim que estaciona o carro.
- Pronta. - concordo, respirando fundo.
Descemos do carro ao mesmo tempo, seguindo para o prédio comercial. Quando chegamos, podemos ver todos os outros meninos, nos mostrando que só faltava nós dois.

- Cely! Olha com quem estou falando! - Georg me chama. Está sentado em uma mesa, ao lado de Bill. Me dirijo até ele, que me mostra a tela de seu notebook onde Sofie e Buddy aparecem.

- Ah, meu Deus! - meu mascotinho dá pulinhos de alegria ao ouvir a minha voz e instantaneamente sinto saudades de casa, saudades da nossa vida monótona. Olho para Georg, que me encara de volta. Consigo sentir seu olhar profundo, penetrando a minha alma, eu diria.

- Sofie disse que ele está sentindo a sua falta. - ele diz, tentando disfarçar seu olhar para mim.
- A nossa. - digo, tocando em seu joelho e posso ver seu corpo arrepiando com meu toque. Nem tudo está perdido.

Versão de Tom

Mais uma vez Georg entrando no meu caminho, tentando roubar o que é meu. Bom, era dele, mas agora é meu. Pensei que ele estava completamente magoado, mas pelo visto não.

Observar os dois aí, juntos, me faz lembrar de um dos primeiros ensaios onde eu a trouxe e nós discutimos por ele ter praticamente se jogado para cima dela. Calma, Tom, não tem motivos para estar assim. Minha consciência me lembra que não temos nada e que não tenho porque brigar por alguém que não é minha. Mas porra, ver eles assim me deixa com ódio.

- a nossa. - repito o que ela disse, de modo debochado, mas falo baixo. Não quero mais confusão.

- Eu ouvi, hein? - Bill fala, surgindo atrás de mim como um fantasma.
- Não ouviu nada, Queen B. Esse seu glitter todo está te deixando tan tan. - digo a ele, batendo o dedo indicador do lado da minha cabeça.
- Podemos começar, guys? - Bill pergunta, chamando a atenção do casalzinho.

Durante o ensaio, percebo o olhar desesperado de Cely para Georg, o que deve ter sido o motivo pelo qual ele errou as músicas a noite toda. Como forma de castigo, meu irmão obrigou que ele passasse todas as músicas de novo e é o que ele está fazendo agora.

- Como ele está? - pergunto, sentando ao lado dela nas cadeiras velhas.
- Ele quem? - Cely perguntou.
- O cachorro de vocês. - digo, revirando os olhos.
- Ah, está ótimo. - ela diz, abaixando a cabeça enquanto brinca com o anel de noivado em seu dedo. Porque ela ainda está usando isso?

- Era a Sofie?
- Sim, sim.
- Covardia ela não ter perguntado por mim. - digo em voz alta, para que Georg ouça que conheci Sofie.

- Já está bom, né Belinda? Eu preciso levar a Cely até a casa dos pais dela, temos um jantar. - ele diz, me pegando completamente de surpresa.
- É isso mesmo que eu ouvi? - pergunto, enquanto vejo Georg parando ao lado dela, esticando a mão para ajudá-la a levantar.
- É sim. Georg disse que poderia me levar e eu não me importo de ir com ele. - ela diz, de um jeito bobo enquanto olha para ele.
- Mas tínhamos combinado de que eu levaria você. - digo, puto da vida.
- Você não vai se importar, não é, Tom? - ele pergunta, e o meu nome em sua boca me dá ânsia de vômito.
- Ah, não não. Eu tenho outros compromissos também. - digo, encarando-a.
- Tchau, meninos. Quero ver vocês amanhã, antes de ir. - ela diz, se despedindo de todos.
Observo os dois saindo, sem perceber que estou literalmente de boca aberta. Essa menina está brincando comigo ou eu estou enlouquecendo?

- Fecha. - Bill diz, empurrando meu queixo, me fazendo fechar a boca. - Achou o que? Que ela iria ouvir as bobagens de hoje e voltar correndo pra você? - continuou.
- Nisso Belinda tem razão. -Gustav diz, mastigando alguma coisa.
- Porque vocês não vão pro inferno? Podem ir todos juntos, eu não iria reclamar. - digo, disfarçando todo o meu ódio.
- Você sentiria a minha falta. - meu irmão diz e essa é a minha deixa.

Enquanto estou no elevador, começo a pensar que o quarto de Georg é praticamente ao meu lado e eu não quero ouvir os gemidos de Cely durante a noite. Conhecendo ele, sei que faria isso só de propósito. Não posso voltar pra casa e já sei para onde vou e como vou extravasar o meu ódio.

𝙲𝚘𝚖 𝚘𝚜 𝚖𝚎𝚜𝚖𝚘𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora