17° capítulo

677 51 17
                                    


Tom é sempre muito prático, resolve tudo do jeito mais simples possível. E se vestindo não é muito diferente, ele escolhe uma calça de moletom e uma regata branca. Adoro observá-lo, ver o quanto mudou, não só fisicamente mas também psicologicamente, bom, pelo menos é o que ele me passou até agora.

- Podemos ligar para Bill? - pergunto, me lembrando de Georg e do meu celular.
- Se você prometer que não vai ficar paranóica com o que ele disser. - ele impõe essa regra.
- Não vou garantir. - digo, erguendo as mãos.
- Então não vou ligar. - disse ele, já ligando.
Se sentando ao meu lado, Tom liga para o irmão e coloca a chamada no viva voz para que ambos ouçam. Chama umas três vezes até que Bill atenda.

- Hello, Tommy. - A voz doce de Bill sai pelos fones.
- Hi amigo! - Respondo por Tom.
- Cely! Estão vivos! - ele brinca, fazendo com que eu e Tom dê risada.
- Cely pediu pra falar com você.
- Amigo, eu simplesmente perdi o meu celular. Não está comigo. Poderia olhar no meu quarto? Nas malas, sei lá. - peço.
- Tenho permissão? - Bill pergunta.
- Só porque eu realmente preciso. Meu celular é muito importante, tenho vários contatos de pacientes nele e tem também o Georg. - Georg.. - tem notícias dele? Ele deve ter me ligado tanto. - digo, nervosa pensando nisso, coçando a testa.
Tom larga o celular na cama e sai, certamente não quer me ouvir falar sobre o homem que está ocupando o seu lugar, como ele mesmo disse.

- Falei com ele ontem a noite, honey. Realmente, ele disse que te ligou várias vezes, mas eu inventei que tinha perdido o celular.
- Duvido muito que tenha acreditado, eu sou extremamente responsável e cuidadosa com as minhas coisas, Bill.
- Mas essas coisas acontecem, Honey. Agora me conta, onde vocês estão? - ele pergunta, todo animado.
- Estamos de saída, seu irmão diz que tem uma surpresa pra mim. - digo, olhando para Tom que agora sorri.
- Não estrague as coisas, Tom.
- Não fode, Bill. - Tom grita para que seu irmão lhe escute.
- Bill, se Georg ligar novamente, reforça essa história de que perdi meu celular e que estou bem. Voltaremos amanhã à noite. Amamos você. - digo, encerrando a ligação.
Tom está em pé, próximo a porta, com sua mochila nas costas e a minha em suas mãos. Bonito de um jeito exagerado, eu diria.

- Vamos? - me chama, sorrindo do jeito mais genuíno que já vi.
- É tão lindo te ver assim, feliz. - me aproximo dele, lhe dando um beijo.
- Vamos fazer uma das coisas que eu mais gosto. - ele diz, mas não me passa nada pela cabeça. Se fosse o Tom de sete anos atrás me dizendo que iria fazer uma das coisas que mais gosta eu diria que ele ia transar, mas esse Tom é diferente. De mãos dadas, saímos da casa linda que ele tinha reservado para nós dois. Bye, bye, casinha.

Caminhamos assim por alguns minutos, até que avisto um iate belíssimo e sinto uma chavinha virar em minha cabeça: isso! Por isso a tatuagem da roda do leme na mão, a tatuagem da âncora no braço. Percebendo a minha reação ao ligar os pontos, Tom me lança o maior sorriso que já deve ter mostrado pra alguém, confirmando assim a minha teoria.
- É aqui que vamos ficar até amanhã. - ele diz.

O homem que nos recepciona é muito gentil, deve ter uns 50 anos e tem um sorriso adorável. O iate é ainda mais bonito visto de perto, seu interior é de uma luxuosidade intimidante.
- Que coisa linda. - digo a Tom, que agora envolve um de seus braços em meu corpo, me abraçando de lado.
- Precisa ver ele por dentro. - me diz, sorrindo. E posso sentir como se estivesse falando sobre si mesmo.

Descendo as escadas, temos acesso a um tipo de hall de entrada e logo à frente uma sala espaçosa que caberia umas 20 pessoas tranquilamente. Todo esse luxo me lembra de meus pais, o que me faz arrepiar por ter esses pensamentos. Falando nisso, temos um jantar com eles antes da turnê, ou teríamos, ainda não sei.

- Tudo bem? - Tom pergunta ao me ver arrepiada.
- Tudo sim. - digo.
- Quer nadar um pouco?
- Adoraria. Mas antes preciso falar com Sofie, sobre os pacientes.
- Quem é Sofie? - a cara que ele faz ao perguntar é engraçada.
- Prima do Gustav, trabalha pra mim no consultório. Quer dizer, trabalha comigo.
- Também é médica?
- Não, ela é a recepcionista.
- Então ela trabalha pra você. - ele diz, dando de ombros com um jeito relaxado. Queria que todo mundo e todas as coisas fossem assim como ele, leve.

- Então, eu te espero lá fora. - diz, se retirando da sala onde me deixou.
Pego meu notebook dentro da mochila, ligando-o para que eu possa falar com Sofie e saber como andam as coisas por lá. Ligo para ela via Skype, sendo atendida logo no primeiro toque.

- Cely! - Sofie me cumprimenta de modo animado.
- Sofie. Como você está? Que saudades de casa.
- Estou ótima, estava estudando. - ela diz, balançando um dos livros em cima da sua mesa.
- Onde você está? Tentei te ligar, mas não conseguia completar a ligação.
- Perdi o meu celular, acredita?
- Não. - diz, dando risada. - porque não falou comigo pelo celular de Georg. Cadê ele? Ou melhor, onde vocês estão? - ela pergunta, olhando tudo ao meu redor.
- Não estou com Georg. - digo.
- Como assim?
Consigo ver Tom passando com uma toalha enrolada na cintura, logo atrás de mim, o que faz Sofie arregalar os olhos.
- É quem eu estou pensando? - pergunta, completamente incrédula. Sofie é uma daquelas mocinhas jovens que sonham com contos de fadas e amores eternos, e na cabeça dela, Tom e eu seríamos o casal perfeito.

- É sim, Sophie. - digo, cobrindo meu sorriso que vai de uma orelha a outra.
- Meu Deus! Eu sabia! - ela bate palma, animada. Conversamos um pouco sobre os meus pacientes, sobre o clima de Berlim ou de como Henry não fez o almoço para eles, até que ela mudou de assunto.

- Cely... E o Georg? Como fica nessa situação? - me perguntou, fazendo uma carinha triste.
- Ainda não sei, Sofi. Eu estou tão confusa, me sinto fazendo algo errado, mas também me sinto sendo a pessoa mais feliz do mundo. - Tom aparece do nada, me dando um beijo forte na bochecha.

- Ouviu isso, Sofie? - perguntou, todo fofo.
- Ouvi sim. Oi, Tom! - cumprimentou.
- Sofie, agora eu preciso roubar essa mulher. Sei que você deve estar fazendo um ótimo trabalho aí, beijos. - Tom diz, fechando o laptop, sem dar chance da pobre Sofie se despedir.

𝙲𝚘𝚖 𝚘𝚜 𝚖𝚎𝚜𝚖𝚘𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora