23° capítulo

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- Me responde uma coisa? - pediu enquanto eu devorava meu café, e concordei apenas com a cabeça.
- você vai embora amanhã? - me pegando de surpresa com sua pergunta, já que há uns vinte minutos atrás ele fingiu que o assunto não era de seu interesse.

- Vou sim. - digo, de boca cheia.
- E porque não vai hoje? - pergunta, me fazendo arregalar os olhos. Ele está me expulsando? - Não, desculpa. - diz, dando risada. - Não foi isso que eu quis dizer. Queria saber se tem algum motivo para você ficar por hoje.

Agora que explicou, consigo entender o que ele queria saber.
- Meus pais. Tenho um jantar com eles antes de voltar pra casa. - digo, sentindo um calafrio.
- Porque toda vez que fala nos seus pais você muda? - pergunta enquanto pega um morango na minha bandeja, levando um tapa por isso. - Ai.
- Minha mãe não é bem o problema, acho que é mais o meu pai. Eu me criei praticamente sozinha, e depois da confusão do... Do escândalo, a nossa convivência só decaiu.

- Escândalo? Pelo amor de Deus, Cely. Uma briguinha de nada. - diz, pegando mais um morango.
- Para de pegar a minha comida! - digo, socando seu braço.
- Você dorme amarrada? - o jeito como ele fala é engraçado.
- Acho uma palhaçada eu nunca ter conhecido os seus pais. - diz enquanto come a fruta que pegou.
- Não se sinta inferior, eles também nunca conheceram o Georg. Na verdade, eles o conheceriam hoje. - digo, brincando com a comida em meu prato, até que ouço Tom soltar um sorrisinho.

- O que foi? - pergunto.
- Como que em três anos de relacionamento Georg conseguiu ser tão vazio?
- Não entendi. - digo, pensando no que ele quis dizer.
- Ah, Cely, para. Em três anos de "casados" - ele faz o gesto de aspas no ar. - ele nunca conheceu os seus pais, e eu tenho certeza que você não conheceu os dele. O que mais deixaram de fazer?

Pela primeira vez em um bom tempo Tom diz algo que realmente faz sentido. Nunca fui tão "íntima" de Georg a esse ponto. Mas também nunca precisamos ser.

- Tá falando de que? Você também não conheceu os meus pais. - digo, tentando contornar a situação a favor de Georg.
- Não se compara três anos a três meses. E você conheceu a minha mãe, inclusive, saudades. - ele diz, dando uma piscadinha para mim enquanto pega o último morango que restava. Já irritada, afasto a bandeja de perto de mim, cruzando os braços para que ele entenda que fiquei brava.

- Me deixa pedir uma coisa.
- Você come a minha comida e ainda se acha no direito de pedir alguma coisa? - perguntei, arqueando a sobrancelha.
- Vamo pro ensaio comigo? - ele pediu.
- Eu acabei de te dizer que tenho um jantar com meus pais.
- A gente vai pro ensaio e eu te deixo na casa dos seus pais. Pode ser? - perguntou, se aproximando de meu rosto. Essa sua aproximação me deixa nervosa.
- Isso vai ser antes ou depois que você me der um celular novo? - pergunto, tentando mudar de assunto.
- Não, não. Nem mude de assunto. Te pego às 17:00, nem se atrase. - diz, saindo da mesa antes mesmo que eu possa dizer não.
Esse Tom extrovertido é o meu preferido, mas o Tom safado também. E o Tom romântico, o Tom debochado... Acho que gosto dele em todas as suas versões.

14:00

São duas da tarde quando ouço alguém bater na porta do meu quarto, me fazendo levantar da cama onde eu já estava completamente entediada. Assim que abro a porta, me deparo com Adam, um dos seguranças. Logo imagino que algo tenha acontecido.

- Adam? Aconteceu alguma coisa? - pergunto, preocupada.
- Não, Senhorita Davis. Eu só vim entregar isso que o Senhor Kaulitz me pediu.

Ponho a cabeça para fora, vendo Tom na porta do seu quarto.
- De nada! - ele gritou.
- Obrigada, Adam. Não precisa me chamar de Senhorita, ainda sou a Cely. - digo, pegando o celular de sua mão.
- Bom ter você de volta, Cely. - ele diz, me lançando um olhar de carinho. Fico feliz em ver que fiz amigos e que eles continuam aqui. Muitas vezes ficava conversando com Adam enquanto ele fazia a minha "segurança", esperando algum show ou entrevista acabar.

Passo o resto da tarde configurando o meu novo celular, um iPhone X, de última geração. O dia passou de pressa e acabei me perdendo na hora.

- Já está pronta? - Tom pergunta, entrando em meu quarto sem pedir licença. - Que mania feia de não trancar a porta.
- Eu poderia estar pelada, sabia? - pergunto, encarando-o com a cara feia.
- Eu não teria tanta sorte assim. - ele diz, de um jeito sexy. O poder de sedução dos irmãos Kaulitz te deixariam sem reação, vai por mim.

- Engraçadinho. Ainda vou tomar banho. - digo, seguindo para o banheiro, sentindo que ele me acompanha.
- Eu também... - fecho a porta na sua cara. -vou.
- Não ouse se aproximar desse banheiro, Kaulitz. - digo, encostada na porta, me concentrando em respirar e não agarrar esse homem.

Quando acabo, ele está deitado na cama, entediado, mexendo no celular.

- Gostou do seu? - ele pergunta, balançando seu celular para que eu entenda.
- Adorava o meu. - digo, ríspida. Me vestindo enquanto ele está distraído.
- Eu, hein. Celular mó velho, te dei um novinho retardada. - diz de modo brincalhão, jogando um dos travesseiros em mim. Se virando para ver se me acertou, Tom me olha de cima abaixo, vestindo apenas calcinha e sutiã.
- Eita.
- Vira. - digo, pegando o travesseiro que ele havia jogado, jogando-o de volta. Me obedecendo ele se vira, focando novamente em seu celular.

- Vamos? - pergunto, tentando não surtar ao lembrar para onde estou indo.
- Tem certeza que quer ir? Você pode simplesmente dizer não. - ele diz, segurando meu rosto com as mãos, tentando me convencer a não ir.

- Preciso encarar isso de vez. - minha frase sai com um duplo sentido, e eu sei que entendeu o que eu quis dizer. Tom também precisa seguir em frente, esquecer os tristes fatos que aconteceram anos atrás e viver sem esse peso pela perda do nosso filho ou do meu acidente de carro.

Me encorajando, ele segura minha mão, me levando até o estacionamento onde está seu carro.

𝙲𝚘𝚖 𝚘𝚜 𝚖𝚎𝚜𝚖𝚘𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora