09° capítulo

710 50 12
                                    

00:00 Terça-feira

Que Tom não tinha juízo disso eu já sabia, mas estar se relacionando com uma garota seis anos mais nova e sem nenhum projeto de vida é o limite, até para ele. Os poucos minutos de conversa mostram o quanto ela é uma moça fútil, de pouca maturidade e vazia. Me pego pensando se não estou apenas "colocando" defeitos na pobre menina. A conversa entre eles continua, mas decidi ficar no meu canto, para não expressar as coisas pesadas que penso. Os gêmeos se entre olham algumas vezes, como eu já os vi fazendo, tipo um código. Tom se afasta por um segundo, deixando sua taça, agora vazia, em cima de uma mesa a poucos metros de nós e segue com Mia até a saída.

- Bom, se me dão licença, irei me ausentar. - Tom diz, avisando que iria a algum lugar. Poucos minutos depois ele retorna, sozinho. Essa é a minha deixa. Quero descansar depois de um dia inteiro de viagem, sem direito a trégua.
- Acho que também irei me ausentar, estou muito cansada. Passamos o dia todo em viagem e nós mal descansamos. Você vem? - pergunto a Georg.
- Ainda não, meu amor. - me responde.
- Bom, já deu a nossa hora. - Gustav diz, pegando a mão de Linda, saindo juntos dali.
Quando percebo, estamos nós quatro seguindo em direção ao elevador. Assim que o elevador se abre em nossa frente, Gustav e Linda entram, em seguida, Tom e por último eu. Para nossa surpresa, Tom sai assim que entro.

- Podem ir. Eu vou pelas escadas. - diz, saindo. O que ele acha que está fazendo? Está evitando ficar no mesmo lugar que eu? Quando foi que esse história mudou, me fazendo ser a vilã?
Quando ele dá as costas, e a porta está prestes a fechar, sai dali seguindo ele, que saiu batendo os pés indo até a escada.

- Pode me dizer o que está acontecendo? - Digo, seguindo-o escada acima.
- Ainda não entendi o que você está fazendo vindo atrás de mim. - ele apressa seus passos, praticamente subindo os degraus de dois em dois. Seguro a saia de meu vestido, para que não tropece nele enquanto apresso meus passos também, mas de salto sou mais devagar.

- Pode me explicar porque está me tratando assim? Eu não fiz nada pra você. - Digo enquanto subimos. Quando chegamos em um dos diversos corredores, vejo ele parando em frente a uma das portas, procurando o cartão que lhe dá acesso ao quarto.

- Eu não quero ficar perto de você! Quando será que você vai entender isso? Quer que eu desenhe? - ele fala, me deixando completamente surpresa. Ao ouvir isso, acabo me atrapalhando, fazendo com que eu pise na barra de meu vestido, me fazendo cair com os joelhos no chão, no meio do corredor. E mesmo aqui no chão, não consigo deixar de olhar para ele, que destruiu o meu coração com o que acabou de me dizer. Assim que ele me vê no chão, Tom vem correndo em minha direção.

- Cely! - ele grita. Queria poder dizer alguma coisa, mas simplesmente travei. A única coisa que passa em minha mente são as palavras dele, dizendo que não me queria por perto.

- Está tudo bem? - pergunta, segurando meu rosto, me fazendo olhar para ele. Tom segura meus ombros, me levantando do chão. As pedras em meu vestido acabaram rasgando um pouco da pele de meus joelhos, fazendo-os sangrarem.

- Está sangrando. - me olhando, preocupado.
- Não, tudo bem, eu... Eu quero ir embora. - digo, segurando o choro.
- Não vou deixar você ir assim. - diz, olhando no fundo dos meus olhos. Segurando minha mão, me leva até a porta do quarto que estava tentando abrir, pegando seu cartão e o posicionando em frente ao leitor, que logo escaneia e abre a porta em nossa frente. Tom estende sua mão, como se me pedisse para entrar e eu o obedeço.
O quarto é muito bonito, como o de qualquer hotel e o Château não seria diferente. Me sento na cama, enquanto observo-o pegando alguma coisa em uma das gavetas da cômoda. O vejo indo para o banheiro, escutando o barulho de portas abrindo e água derramando, como se ele tivesse aberto alguma torneira. Quando volta, se ajoelha em minha frente, pegando meus pés e colocando-os sobre suas coxas. Sentir o toque da ponta de seus dedos em meus calcanhares me causam uma sensação de choque, como se estivesse sendo recarregada depois de tanto tempo. A todo momento, mantém o nosso contato visual.

- Preciso limpar isso. - diz, olhando em meus olhos. Tom afasta meu vestido, deixando meus joelhos machucados à mostra. Ele pressiona um lenço úmido em cima deles, limpando o local. Seu olhar me deixa sem ar, parece que penetra a minha alma e sinto que estou prestes a ter um colapso. Após limpar, Tom passa um remédio em spray que faz arder. Faço uma careta de dor.
- Tudo bem? - pergunta.
- Sim. - respondo-o balançando a cabeça. Ele faz o mesmo no outro joelho, mas me surpreende ao se inclinar, deixando um leve beijo logo acima dos machucados. Essa cena me fez lembrar de quando estávamos juntos e acabei cortando meu dedo uma certa vez.

Estou na cozinha, fazendo um sanduíche quando ouço Tom descendo as escadas do ônibus. Ao olhar para ele, acabo não prestando atenção na faca, fazendo com que eu corte meu dedo.
-Ai. - choramingo, colocando a ponta do dedo na boca, chupando o sangue que sai dele.
Tom vem rápido em minha direção, puxando o dedo de minha boca, para observar o pequeno corte.
-Tudo bem aqui? - ele pergunta, mesmo sabendo que não foi nada demais. Faço que sim com a cabeça e ele deixa um beijo na ponta de meu dedo, como se pudesse sarar. E naquela época, ele poderia mesmo. Seus beijos eram meu remédio.

Pelo jeito que me olha, sei que também lembrou desse momento. Se ajeitando no chão, Tom fica ajoelhado de um modo que está praticamente da mesma altura que eu, sentada na cama. Nossos rostos estão perto demais nesse momento, seu cheiro exala pelo quarto, existe uma força que parece estar me puxando para ele. Estou prestes a perder a cabeça, pronta para beijá-lo, quando ouço a porta abrindo.
- Tom, você viu a ...- Bill adentra o quarto, parando de falar assim que vê a cena.

𝙲𝚘𝚖 𝚘𝚜 𝚖𝚎𝚜𝚖𝚘𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora