56° capítulo

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Eu achei que a pirraça de Georg tinha se encerrado quando ele veio me pedir desculpas, mas pelo jeito eu estava enganada. Mia e ele parecem pedras no sapato, dessas que incomodam, mas nesse caso não podemos simplesmente tirar os sapatos.

- Agora mamãe vai infartar. - Tom diz, assim que eles se juntam à mesa.
- Georg, querido. Bem vindo! - Dona Simone cumprimenta-o e eu percebo que ela não sabe de nada. Olho para Tom, confusa com a situação, mas ele balança a cabeça em negativa, confirmando o que eu havia imaginado.

- Dona Simone. - Georg a cumprimenta de volta, com a cara mais lavada que já vi. Ele caminha até ela, lhe abraçando enquanto a mesma continua sentada. Que merda é essa?

- Quem é a mocinha? - perguntou.
-Minha namorada. - Georg respondeu. Ao ouvir, Bill cospe todo o vinho que estava em sua boca, me molhando e molhando toda a mesa.

- Sua o que? - Tom perguntou, em meio ao caos.
- Cely, me desculpa. - Bill pede, me entregando um dos guardanapos para que eu me limpe enquanto sua mãe limpa a mesa suja.

- Pelo amor de Deus, Bill. Como você faz uma coisa dessas? - ela pergunta, aborrecida.
- Desculpa, mãe. Eu só fiquei surpreso. - Bill responde, olhando para o "casal" e depois para mim.
- Surpreso porque? Georg é solteiro, pode namorar quem quiser. - ela diz a seu filho. - Linda moça. - diz a Georg, que nos olha.
- Sentem-se conosco. - minha sogra convida. - vamos jantar juntos, como antigamente.
- Mãe! - Tom a repreende.
- Não aceito não como resposta. - insistiu.
Por ironia do destino, Georg senta ao meu lado e Mia ao lado de Tom. Que comecem os jogos.

- Qual seu nome? - Dona Simone puxa assunto com Mia enquanto jantamos em um clima tenso.
- Mia. - respondeu, me fazendo revirar os olhos de ódio. Sua voz me irrita, sua presença me irrita, tudo nela me irrita.
- Me conta mais de você. Onde você mora? - continuou a conversa.
- Mãe, não acha que está perguntando demais? - Tom diz.
- Não, Tom, sem problemas. Só achei que a senhora soubesse. - Georg diz, de modo sarcástico.
Assim que percebo suas intenções, olho para Bill que está igual a mim, de olhos arregalados. Não quero acreditar que Georg vai começar isso aqui.

- Moro em Los Angeles. Em um apartamento que ganhei. - Mia diz, e por um segundo eu respiro em paz por ela não ter citado o nome de Tom.
- Jura? Você é amiga dos meus filhos? - perguntou, enquanto comia.
- Eu diria que mais que isso. - Georg responde por ela. Mia não parece muito confortável, como se não quisesse estragar a nossa noite com esses assuntos.

Jantamos em silêncio por um breve tempo, mas a tensão é evidente e todos nós ficamos nos entre olhando com medo do que pode ser falado aqui.

- Não sei o que vocês jovens vêem em Los Angeles. - respondeu.
- As baladas são ótimas. - Mia responde, dando risada.
- É claro. - digo, sem querer. Óbvio que ela ia gostar dessas futilidades.
- Mas eu prefiro ficar no meu apartamento. -ela continuou, para me provocar. - As janelas de vidro me pertimem ver a cidade toda.
- Ah, devem ser iguais as da nossa casa, Cely. - Georg diz, me fazendo engasgar.
- Nossa casa? - Simone perguntou, confusa.
- A senhora não sabe? - ele perguntou, forçando uma cara de surpreso. - Cely e eu éramos casados. Passamos três anos juntos, até ele se reencontrar com o seu filho.
Dona Simone olha para Tom e depois para mim, julgando até as minhas próximas três gerações. Certamente deve estar me achando uma vagabunda, que fica pulando de galho em galho, alternando entre seu filho e Georg.

- A senhora devia ver o apartamento de Mia. - Georg continua destilando seu veneno. - A senhora sabe, né? Tom tem muito bom gosto.
- Tom? - ela pergunta, com um tom de raiva.
- Sim, foi ele que deu o apartamento a Mia. Mais de 500.000,00 não é pra qualquer um. - Georg diz, cortando o filé em seu prato.
- Isso é verdade? - ela pergunta, olhando para Tom. Sua feição muda e posso jurar que ela está pálida.
- Está tudo bem? - pergunto. Ela começa a se abanar, tentando respirar mas não consegue.

Me levanto rápido, indo na direção dela que parece querer desmaiar. Bill e Sofie se juntam a mim, abanando seu rosto. Gustav vai na cozinha buscar algo para ela.
Como era de se esperar, Tom se atraca com Georg mais uma vez. O barulho dos socos trocados é altíssimo, posso jurar que parecem ossos quebrando.

- Parem com isso! - Bill pedi, quase chorando. Eles continuam rolando no chão, se socando, batendo nos móveis e derrubando os objetos.

- Gustav! - grito para que ele venha apartar.
- Você gosta do resto, né? - Tom diz, provocando Georg. Começo a ver manchas de sangue no rosto dos dois e decido que eu mesma vou acabar com isso.

Em um ato impensado, atravesso no meio dos dois, ficando de frente para Tom. Olho nos olhos dele, enquanto quase sou atingida por um soco seu. Antes que ele possa me atingir, seguro seu braço.

- Para. - digo, friamente, olhando a fúria que sai de seus olhos. - Agora.
Tom retribui meu olhar, me obedecendo. Bill chora chamando pela mãe, que está desmaiada na cadeira onde jantava. Gustav surge, trazendo consigo uma garrafa com álcool, para que Simone possa sentir o cheiro.
Olho para Tom, observando seu rosto machucado e o sangue que escorre do canto de seus lábios. Georg não está muito diferente, a diferença é que o sangue escorre de suas sobrancelhas, feito com um corte que parece ser feio.
Que ótima noite de folga em família.

𝙲𝚘𝚖 𝚘𝚜 𝚖𝚎𝚜𝚖𝚘𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora