60° capítulo

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Acabo de sair da loja onde achei o meu vestido de noiva. Bill me indicou um estilista muito conhecido e eu apenas acatei a decisão de meu cunhado. O vestido é um estilo vintage, repleto de rendas e costas nuas. Me apaixonei logo que o vi em uma das inúmeras araras que haviam ali. Sofie, minha fiel amiga e agora madrinha de casamento, apoiou a minha escolha, já que até chorou quando me viu dentro dele.

Começamos uma espécie de contagem regressiva, pois agora faltam apenas uma semana para o nosso casamento. Essa semana que passei longe de Tom não foi uma das melhores, senti a falta dele a cada segundo que passava do meu dia e confesso até que chorei de saudades.

Acho que se eu pudesse colocar "ok" em mais uma coisa feita, colocaria na compra de nossa casa. Ou melhor, de nosso apartamento. Quando cheguei a Los Angeles, Tom já havia preparado tudo para mim. Ele me deu três opções de casas, bom, casas não, mansões, e um apartamento. As casas me deixavam sem ar, e eu ficava imaginando quem limparia toda a bagunça daquele lugar enorme, mas o apê tinha o meu coração.

Era o lugar perfeito, do jeitinho que eu imaginava em meus sonhos. Detalhes em preto, cinza e branco, janelas enormes de vidro, que dão um ar claro no triplex e as escadas/elevadores que levam até a cobertura me deixaram sem fôlego. Realmente, bem melhor do que eu imaginava. Ainda me lembro dele dizendo: "Escolha o que quiser, vou até para o inferno com você."

Agora no caminho até a casa de meus pais, observo o trânsito irritante de Los Angeles, que me faz demorar quase quarenta minutos até lá.

Estaciono o carro da entrada da casa, olhando para aquele lugar que sempre me deixa um peso a cada vez que venho aqui. Me peguei pensando se valia a pena convidar os meus pais, mesmo sabendo que eles são totalmente contra o meu relacionamento com Tom. Meu pai é um homem muito rancoroso, daqueles que não esquece nada.
Subo as escadas, mas sou barrada por um segurança que eu não conheço.

- Quem é você? - ele perguntou, me olhando de cima. Bom, isso vai ser interessante.
- Sou a moça da faxina. - digo, em tom de deboche. Eu tenho uma Mercedes e ele está me perguntando quem eu sou, só pode ser brincadeira.
- Vai embora, vai. - diz, encostando em mim.
- Ei, tira sua mão de mim! - falo, em um tom mais alto.
- Você vai sair por bem ou vai sair por mal! - falou, engrossando a voz, me peitando.

A porta se abre logo atrás dele e posso ver minha mãe tentando ver o que acontecia. Assim que me vê, ela vem correndo em minha direção, empurrando o grandalhão à minha frente. Mamãe me abraça forte, me enchendo de beijos por todo o rosto.

- Mãe! - digo, revirando os olhos de tanta demonstração de amor.
- Mãe? - o grandalhão repetiu.
- Edward, essa é a minha filha. Nunca mais ouse impedi-la. - Margot disse, autoritária.
- Me desculpe, patroa. O senhor Albert nunca me contou sobre nenhuma filha, foi apenas instinto de segurança. - respondeu. Faço uma careta para ele, enquanto mamãe me arrasta sala a dentro.
- Albert! - gritou. - Albert! Veja!
Papai aparece a passos curtos, com um copo de whisky e um charuto cubano em suas mãos. Isso me dá inúmeros gatilhos que me fazem lembrar de como eu pai era extremamente desapegado a família e ligado aos seus negócios. Negócios são negócios, Celine. Sua frase ecoa em minha cabeça.

- Ora, ora, quem o vento trouxe de volta. - ele diz, se aproximando de nós.
- Que expressão idiota. Porque o vento me levaria para algum lugar? Porque ele me traria justamente para cá? - respondo, revirando os olhos e me arrependendo amargamente de ter vindo.
- Cely. - mamãe me repreende baixinho, apertando minha mão. - Fiquei tão feliz quando ouvi sua voz, filha! - ela diz, toda contente.
- Eu percebi, mãe. - digo dando risada, me lembrando do seu ataque de beijos assim que cheguei. Minha mãe é a pessoa de quem mais sinto falta. - Pena que o segurança quase me jogou na rua. - digo, olhando para o meu pai. - Ele disse que não sabia que vocês tinham uma filha.
- E nós temos? - papai perguntou. - Que filha é essa que nunca visita os pais? Que não aceita ajuda da própria família?
- Não posso aceitar uma coisa que eu não esteja precisando. - digo, sendo o mais paciente que posso.
- Não precisa? Eu quero ver o que você vai fazer agora que está separada, sem apartamento, sem consultório. A sua profissão já é uma merda e você ainda... - Assim que entendo o que ele diz, percebo que ele sabe sobre coisas que eu não contei.

- Quem te contou isso? - pergunto, confusa.
- Isso não importa. Eu só quero te ajudar, minha filha. - ele diz.
- Mas eu não preciso do seu dinheiro, meu pai. - dou ênfase nessa última parte. - Nunca quis o seu dinheiro. E eu não me importo com os milhões que eu vou herdar! Eu só vim convidar vocês...

- Convidar? - mamãe me interrompe. Pego os convites que estão em minha bolsa, entregando a minha mãe. Ela abre, cuidadosamente, alternando sua atenção entre o convite, eu e meu pai.
- Ela vai casar! - Mamãe comemora contente, assim que lê meu nome e o nome de Tom ali no papel.
- De novo? - meu pai pergunta, mas seu tom de voz é como se estivesse reclamando.
- Sim, papai. De novo. - digo, já frustrada com sua reação. Bom, eu não esperava uma das melhores, mas não imaginei que fosse ser tão exaustivo.

- Com quem agora? - perguntou.
- Com o Tom. - digo.
- Aquele moleque vagabundo. - o jeito como papai fala, parece que se esqueceu que já se passaram sete anos desde aqueles acontecimentos.
- Já se passaram sete anos, Albert. - mamãe diz, tentando me ajudar.
- Não importa! A quantidade de contratos que perdi, os boatos sobre a Cely nos noticiários, a vergonha que ele nos causou! Nunca iria comparecer a um casamento desses! - ele gritou, furioso.

- Então não vá! - grito de volta.
- Ele vai quebrar o seu coração, como ele fez da primeira vez e você vai voltar chorando para os braços do papai, implorando por carros novos e dinheiro. - ele começa a me humilhar, mas conhecendo meu pai, não esperava outra coisa. - Não espere a minha presença e muito menos a de sua mãe! - É, agora ele pegou pesado.
- Você não vai? - pergunto para minha mãe, que está ao meu lado, segurando minhas mãos. Meus olhos começam a lacrimejar e eu sei que Tom essas horas estaria aos berros com o meu pai pelas coisas que ele disse. Antes que mamãe possa me responder, ela está aos prantos.

- Sai da minha casa! Agora! - ele está me expulsando. - Agora, Celine!
- Eu te odeio! - grito ao ponto de minha voz falhar, de tão alto e raivoso que foi.
Começo a sair, mas o grandalhão de antes reaparece ao ouvir os gritos de meu pai.

- Ele vai quebrar o seu coração, está me ouvindo? - gritou e eu tomo um susto, ao ouvir o barulho do copo quebrando. Ele jogou o copo de whisky no chão, quebrando-o em mil pedacinhos.

Entro em meu carro, dando uma arrancada assim que saio da propriedade deles. Isso não foi nada parecido com o que imaginei que seria, mas agora é tarde. Se Tom estivesse aqui, certamente eu teria que apartar uma briga nesse exato momento e só de não precisar fazer isso, já sinto um alívio enorme.

A parte que mais me dói é saber que mamãe não vai ao meu casamento, pois ela jamais iria desobedecer uma ordem de meu pai. Ela sempre foi a esposa modelo, então é isso que ela faz: sorrir e acenar.

Quando volto ao apartamento, que agora está praticamente vazio, vejo Sofie fazendo suas unhas, sentada no chão da sala, já que agora não temos mais sofás.

- Oi. - ela me cumprimenta com um sorriso simpático. - Como foi?
- Péssimo. - digo, jogando minha bolsa no chão. Caminho em sua direção e me sento, junto a ela.
- Eles não aceitaram? - perguntou.
- Pior. Acredita que ele me expulsou de lá? - digo, furiosa. - Ele proibiu minha mãe de ir ao meu casamento.
- Jura? Que merda. - ela diz, me fazendo dar risada. Por coincidência do destino, meu celular começa a tocar, avisando que estou recebendo uma ligação via Skype. O nome de Tom aparece na tela.

- Oi linda! - ele me cumprimenta assim que atendo.
- Oi cunhadinha! - Bill diz, logo atrás de Tom.
- Oi. - digo, respirando fundo, pois sei que vamos entrar nesse assunto.
- O que aconteceu? - Tom perguntou.
Conto a eles todos os detalhes, desde o vestido que escolhi até a expulsão. Como já imaginava, Tom fica furioso com isso.
- Eu iria arrebentar a cara desse velho imbecil. - Tom diz, sem medir suas palavras.
- Já dizia alguém que eu conheço: o que seria de um casamento sem uma briguinha familiar? - Bill diz. Sua fala é engraçada e nós acabamos dando risada do que ele diz.

- Estou com saudades. - digo ao meu noivo.
- Só faltam uma semana, Linda. - ele diz, tentando me convencer que ele não está enlouquecendo igual a mim.
- Te espero de branco. - digo, forçando um sorriso.
- Estarei de pé no altar, só para você. - ele diz.
Assim que desligo o celular, me jogo aqui nesse chão gelado, encarando o céu que escurece lá fora. Menos um, penso sozinha.

𝙲𝚘𝚖 𝚘𝚜 𝚖𝚎𝚜𝚖𝚘𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora