Eu juro que tento não surtar ao ponto de partir para agressão, porque eu sei o quanto isso abala a minha Cely, mas ultimamente tem sido uma tarefa extremamente difícil com o Georg se metendo em nossa vida.
Como se não bastasse o fato dele ser simplesmente um incômodo, ele agora aparece aqui em casa, dizendo que namora com a Mia. A minha Mia. Contando tudo para a minha mãe e quase fazendo ela infartar, isso se já não infartou.Mamãe está desmaiada em uma das cadeiras, sendo abanada por Bill. Gustav segura uma garrafa com álcool próximo ao seu nariz, para que ela sinta o cheiro forte e agora Sofie e Mia estão gritando uma com a outra. Meu Deus, que cenário caótico.
Me pegando de surpresa, vejo Cely correndo em direção a saída. Sigo atrás dela lentamente, para que ela não perceba minha presença. Assim que chega na rua, Cely joga sua cabeça para trás e dá um grito. É agudo, forte e alto, soando como um pedido de ajuda. Ajuda por se sentir cansada demais, eu diria.
Ela soluça, chorando no meio da rua deserta. Anda de um lado para o outro, como se quisesse fugir daqui, mas algo a impedisse. Em um ato de desespero, Cely começa a puxar seus cabelos e essa é a minha deixa para ajudá-la.- Xiiiii, tá tudo bem. - digo, abraçando-a por trás, tirando suas mãos de seus cabelos lentamente, para não puxá-los ainda mais. - Tá tudo bem. - reforço.
- Eu estou tão cansada. - ela diz, em meio aos soluços. Ah, minha menina, se eu pudesse te levar para bem longe daqui. - - Eu não aguento mais.
Por um breve momento eu penso que deveria deixá-la ir, que talvez ela seja mais feliz sem mim ou sem toda essa bagunça que envolve a minha vida. Mas eu sou egoísta demais para isso, eu morreria sem a Cely. Definharia sem ela comigo.
- Me desculpa. - digo, virando para que ela fique em minha frente. - Eu sei que está cansada. Me desculpa, tá? - peço, enquanto abraço-a.
Ela retribui meu abraço, ainda manhosa, se aninhando em meus braços. Pego-a em meu colo, seguindo com ela até o nosso quarto no ônibus. Finjo não estar morrendo de dor enquanto faço isso, já que o filho da puta conseguiu me machucar dessa vez.
Agora no quarto, Cely parece estar mais calma. Coloco-a de volta no chão e a mesma segue para o banheiro. Ao voltar, traz consigo uma pequena toalha encharcada e sei o que vai fazer. Me sento na cama, para ajudá-la em sua missão.
Cely para em minha frente, no meio de minhas pernas. Consigo olhar para ela de pertinho e vejo seu rosto inchado por ter chorado demais. Com uma calma que só ela tem, Cely começa a passar a toalha nas manchas de sangue que devem ter secado.- Ai. - digo, assim que ela pesa a mão.
- Porque sempre tem que ser assim? - perguntou, de um modo vago. - Tudo parece seguir sempre para a agressão, tudo tem que ser com voz alta. - ela diz.
- Nem tudo, linda. - digo, olhando em seus olhos, mas ela não olha nos meus.- Posso te perguntar uma coisa? - perguntou, enquanto limpava algo em minha testa. Concordo balançando a cabeça.
- Porque se desculpou lá fora?- Porque não foi isso que eu te prometi. - digo, implorando para que ela olhe em meus olhos. - Te prometi um amor calmo e tranquilo, ainda melhor do que Georg pode te oferecer. E algo me diz que estou falhando na missão. - digo, tentando fazer com que ela dê risada dessa situação desastrosa.
- Sua mãe deve estar me odiando agora. Porque você não disse para ela tudo que aconteceu? - perguntou, finalmente me encarando.
- O que você queria que eu dissesse? "Oi, mãe. Georg está casado com o amor da minha vida." - respondi, sendo sincero com ela.
Por alguns segundos ela me olha confusa, como se não entrasse em sua cabeça que ela sempre foi o amor da minha vida. Lentamente, Cely me dá um beijo leve, acalmando meu coração aflito.
- Eu te prometi um amor tranquilo. E eu vou cumprir. - reforço minha promessa, puxando-a para que se sente em meu colo.A janela em nossa frente, nos dá uma vista privilegiada da casa onde estávamos a pouco tempo atrás. Seus olhos estão vidrados ali e não faço ideia do que está se passando em sua cabecinha nesse exato momento.
- Se te serve de fuga, depois de amanhã estaremos em Berlim. - falo, mas não sou respondido.
Quando olho para ela, Cely dormiu em meu colo, com a cabeça em meu ombro. O cansaço do dia, o choro desesperado de agora a pouco e o fato de já ser madrugada a fizeram dormir, exausta.
Me esforçando para não lhe acordar, coloco-a na cama, lentamente. Agora deitada aqui, com seu rosto tranquilo e seus cabelos loiros espalhados pelos travesseiros brancos, me lembro da promessa que fiz a ela e no quanto tenho falhado, mesmo que sem querer.Eu não saberia viver sem essa mulher, já provei a sensação e posso garantir que levar um tiro deve ser melhor. Sigo para o banheiro, encarando meu rosto machucado no espelho. Não foi por esse homem que Cely se apaixonou, por um ogro que bate e grita com as pessoas. Preciso fazer algo para mudar isso.
Assim que termino meu banho, passo um tipo de remédio nesses ferimentos e confesso que preferia que ela fizesse isso por mim. Pego seu celular e um dos becks da minha gaveta e sigo até o lado de fora do ônibus, me encostando na pequena cerca de madeira branca que envolve a casa.
Acendo o beck e mando uma mensagem para Andrei, pedindo que ela procure casas para mim em Los Angeles e me mande fotos das maiores que ele encontrar.
Dou um trago no cigarro feito por mim, recebendo a brisa da noite no meu rosto. O frio que faz aqui fora, se funde com o ar quente que o trago do cigarro me proporciona. Ouço passos atrás de mim, mas ignoro quem quer que seja.
- Mamãe foi dormir agora. - Bill diz, chegando junto a mim, pelo outro lado da cerca.
- Hmm... - é a única coisa que digo.
- E a Cely? - perguntou, preocupado com sua amiga.
- Foi dormir agora também. - respondo, soltando a fumaça que se mistura com a neblina.
- Mamãe não está furiosa. - ele diz, como se eu estivesse preocupado. - Ela só não estava preparada para isso, foi muita informação de uma só vez.- Hmm.
- Você tinha que ver, Mia e Sofie brigando. - Bill diz, dando risada ao relembrar a cena. - Sofie é uma amiga incrível para a Cely.
Eu já sabia disso. Implico com ela por que é o meu jeito de demonstrar que gosto de alguém.- Está muito machucado? - perguntou, me olhando. Termino o cigarro, dando a minha última tragada.
- Caralho, você fala demais. - digo, dando um soco de leve no seu braço fino. Nós dois damos risada e eu sei que ele só está preocupado comigo. Bill é uma extensão de mim, ele sente o que eu sinto, ele sabe tudo sobre mim e eu sei tudo sobre ele.- Ouvi o grito dela. - ele diz, quebrando o silêncio entre nós. - Ela não vai aguentar mais situações como essa. Sabe disso, não sabe?
- Hmm. - é a única coisa que respondo. - Vai dormir. - digo, saindo dali. Preciso ver se ela ainda está dormindo ou se precisa de mim.Quando chego na porta do ônibus, observo Bill voltando para casa e por precaução, espero ele entrar em casa e só aí, entro no ônibus.
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𝙲𝚘𝚖 𝚘𝚜 𝚖𝚎𝚜𝚖𝚘𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜
FanfictionContinuação da fanfic Eu vejo você. Onde conto a história de amor entre Cely e Tom que acaba após uma aposta feita por ele junto com seu melhor amigo. Um romance mal acabado pode ressurgir e abalar uma vida inteira. Se Cely tivesse que escolher, que...