19° capítulo

638 45 49
                                    

Tenho a sensação de que Tom e eu nunca aprendemos, que isso sempre vai acontecer por conta da fama dele. Esquecemos desses detalhes e acabamos escancarando a nossa felicidade, mas dessa vez não atinge só nós dois, envolve também Georg. Largo o celular na cama, deixando Bill falar sozinho na ligação. Começo a juntar todas as minhas coisas que estavam espalhadas pelo iate, enfiando tudo dentro da mochila sem nenhuma organização.

- Cely? O que aconteceu? Pode me explicar? - Tom pergunta, pegando o celular que foi jogado na cama, colocando a chamada no viva voz.

- Que porra é essa, Bill? O que foi? - ele pergunta, nervoso.
Ouço Bill repetir a história para seu irmão, que imediatamente tem a mesma reação que a minha, se levantando e organizando suas coisas.
- Tá bom, Bill. Tá bom. - Ele diz e deve ter encerrado a ligação.

Começo a rodar pelo quarto, procurando por algo que nem eu mesma sei o que é, percebendo que estou girando em círculos, apenas procurando um jeito de não parar e acabar pensando no que fizemos, na verdade, no que eu fiz. Sinto que vou desabar, mas Tom é mais ávido e me segura antes que eu caia no chão, aos prantos. Agora sentada no chão, abraçando meus joelhos e sendo abraçada e acolhida por Tom, choro tudo que eu precisava para desabafar, tirando essa sensação de angústia em meu peito. Quando percebo, Tom também está chorando abraçado a mim, fazendo o meu coração sangrar ainda mais. Estou decepcionando os dois homens que mais amei em toda a minha vida.

- Não pode ser errado o que estamos fazendo, Cely. Amar você não pode ser errado. - ele diz, segurando meu rosto com suas mãos. - Mas se for, tudo bem. Eu erraria de novo, e de novo.
- Você ainda não entendeu que não envolve só nós dois, Tom? Eu sou casada com o Georg, eu tenho um casamento sólido e saudável com ele, nós temos um apartamento juntos, um cachorro, uma vida. - digo, soluçando de tanto chorar.

- Mas você pode ter tudo isso comigo, Cely. Eu te amo, e eu sei que você também me ama. A gente pode ser feliz junto, ter uma vida juntos. Ele te tirou de mim, eu só estou te pegando de volta.

- Eu não posso fazer isso, Tom. - assim que digo essas palavras, suas mãos soltam meu rosto, lentamente, deixando apenas o vazio onde elas estavam.

- Você não me quer... Não é comigo que você quer ficar. - ele repete essas palavras algumas vezes, como se tentasse fazer elas entrarem em sua cabeça.

- Meu combinado com Bill foi esse, de nos resolvermos. E a gente se resolveu.
- Não, Cely. A gente fez bem mais que isso, você deveria me dizer que eu era apenas um teste pra você. Que era só um bote salva vidas, salvando você do oceano de problemas e rotina que você mesma criou. - ele diz, chorando. Se levantando, Tom começa a se vestir, jogando a bermuda e a cueca molhada no canto do quarto.
- E o que você esperava de mim, Tom? Que eu largasse tudo e fosse viver no seu mundinho mais uma vez?! - digo, observando a calmaria com que ele se arruma.
- Não, eu só esperei que você se permitisse ser feliz e se concedesse o benefício da dúvida. Mas pelo visto você já estava decidida desde o dia em que veio. - ele pega sua mochila, indo em direção a saída. - Vou deixar você se arrumar. Estou te esperando aqui fora.

Saindo, ele me deixa aqui sozinha. Separo uma roupa simples, as mais fáceis e rápidas de serem vestidas, a viagem até o hotel dura em média umas quatro horas e meia e eu quero chegar antes de Georg, que com certeza deve estar voltando. Quando subo as escadas, vejo Tom de costas pra mim, olhando para o horizonte, enquanto enxuga suas lágrimas.

- Podemos ir? - pergunto, mas não sou respondida, ele apenas vai andando na frente até chegarmos na moto. Creio que a viagem será a parte mais difícil, ter que me segurar nele, sentir o seu cheiro e ainda assim me manter fria o bastante. Como eu imaginava, não trocamos nenhuma palavra se quer durante a viagem.

19:40 - Los Angeles

Somos surpreendidos por uma multidão de fotógrafos e jornalistas na entrada do hotel, com certeza esperando pela volta do casal exposto nos blogs. Ao avistarem nós dois, os seguranças fazem uma espécie de barra de proteção, até que estacionamos na entrada do hotel. Daqui posso ver Bill nos aguardando no hall, com uma expressão de dó para os dois. Quando desço, entrego a ele o capacete e esse é o único momento em que nos olhamos diretamente desde a nossa discussão.

- Afasta, afasta. - Reconheço a voz de Adam, um dos seguranças que conheci enquanto estava com Tom na turnê de 2010. - Anda, Cely, anda. - ele manda. Sigo de cabeça baixa, fugindo o máximo que posso dos flashes, até chegar ao lado de Bill, que me abraça enquanto seguimos até o meu quarto. Já não sei mais o que acontece com Tom.

Assim que entro em meu quarto, desabo mais uma vez, olhando as malas que Georg havia deixado aqui antes de viajar.

- Cely... - Bill me consola, se abraçando a mim. - Não era isso que eu imaginava quando vocês foram.
- A gente estava tão feliz, Bill. Simplesmente esquecemos quem nós éramos, e isso aconteceu.
- Você precisa se distrair, vamos assistir alguma coisa. - ele diz, ligando a TV. A notícia que aparece é a que já deveríamos ter imaginado: O guitarrista Tom Kaulitz e a loira misteriosa. Ao perceber o que passava, Bill rapidamente a desligou.

- Não, não precisa assistir. Deixa isso pra lá. - disse, jogando o controle longe.
- Preciso relaxar, Bill. - digo, choramingando.
- Vem, vou preparar um banho pra você.

Bill sai do meu campo de vista, seguindo para o banheiro. Consigo sentir cheiro de rosas, enquanto observo os paparazzis pela janela do meu quarto. Tiro a roupa, entrando na banheira enquanto Bill faz massagem em meus ombros. Eu e ele temos uma amizade saudável, sua sexualidade faz com que eu não seja "agradável" para ele.

- O que Georg disse? - pergunto, mesmo com medo da resposta.
- ah, você sabe como ele é. Não disse muito e nem expressou qualquer tipo de sentimento.

Georg sempre foi assim, muito fechado. Para entendê-lo demorou meses, quase um ano, eu diria. O fato de nunca conversar abertamente ou ignorar as coisas o máximo que podia faziam a nossa convivência ser bem complicada.

𝙲𝚘𝚖 𝚘𝚜 𝚖𝚎𝚜𝚖𝚘𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora