Os primeiros anos depois que Cely foi embora foram os mais dolorosos de toda a minha vida. Não me envolvi com ninguém durante uns dois anos, aluguei o apartamento onde ela morava uns meses depois de ter se mudado. Toda a decoração estava ali e eu dormi com nosso quadro durante muitos meses. Tinha pesadelos quase todas as noites, Bill sofreu tanto quanto eu por me ver daquele jeito. Passava dias trancado naquele lugar onde tinha sido nosso cantinho por pouquíssimo tempo, mas que me deixava apegado às nossas lembranças. A banheiro, o sofá, a cozinha, o seu quarto, tudo me deixava na ilusão de que estava mais perto dela. Por muito tempo eu achei que ela voltaria pra mim, mas isso não aconteceu, então eu decidi seguir a minha vida. Tranquei meu coração e libertei o meu corpo para quem me quisesse. Vê-la agora depois de tanto tempo, me faz ter uma sensação ruim, como se todo o meu esforço para esquecê-la durante todos esses anos, fosse em vão. Me fazendo entender que na verdade, eu nunca a esqueci.
- Tom. - ela diz, com uma expressão de surpresa. Parando agora e prestando atenção nela, vejo que está usando um vestido extremamente sexy prateado, que deixa o seu corpo escultural. Seu corpo está ainda mais curvilíneo, seu rosto parece mais radiante e seus olhos brilham ainda mais. Ou será que ela sempre foi maravilhosa a esse ponto e só eu não conseguia enxergar?
- Cely. - retribuo seu cumprimento de maneira formal, seguindo para a porta. Preciso sair de perto dela.
- Não precisa ir embora por minha causa. - ela diz. - Não é como se eu tivesse raiva de você, pelo contrário. - continuou.
- Raiva de mim? - só pode estar brincando comigo. - Claro que não estaria com raiva de mim, eu que deveria estar. - digo, olhando no fundo de seus olhos azuis.
- Como? - pergunta, me fazendo uma expressão confusa.
- Sem joguinhos, Cely. Foi você que foi embora e me deixou.
Ela tenta falar sobre o assunto das fotos na entrevista, mas eu a interrompo.
- E nem me venha falar dessas malditas fotos. Nós não estávamos juntos e você sabe disso. Não foi traição, porque eu jamais teria te traído.
Me esforço para não jogar tudo que está engasgado em mim, tudo que eu queria poder dizer desde que ela se foi. Como resposta às minhas orações, Mia aparece atrás de Cely. Graças a Deus.
- Tudo bem aqui? - Mia pergunta, parando ao meu lado, como se quisesse marcar território. Se fosse em outras situações, eu já teria mandado ela sair de perto de mim, mas agora eu estava completamente desesperado.
- Tudo bem, Mia. - Digo, passando meu braço em volta de sua cintura. A mesma me olha completamente surpresa por isso. Pronto, agora vai dizer que eu nunca fiz isso??.
Quando percebo, vejo Georg chegando na varanda. Ai, ai. A volta dos que não foram, minha consciência brinca. Ele passa a mão envolta de cintura dela, fazendo exatamente a mesma coisa que fiz com Mia. Pra minha surpresa, ela não se assusta, age como se já soubesse que fosse ele.
- Boa noite. - Georg nos cumprimenta.
- Boa noite. - Mia e eu respondemos juntos. Estendo a mão para cumprimentá-lo e ele retribui, dando um aperto de mãos.
- Linda, Bill pediu para que eu viesse te chamar. Parece que quer te apresentar a alguns amigos. - linda. Tenho ânsia ao ouvir ele chamando-a do mesmo jeito que eu a chamava. Georg sempre teve inveja de mim, e isso ninguém consegue tirar de minha cabeça. Minha banda, minha mulher, o apelido que dei a ela, a vida que deveria ter sido "nossa", tudo que deveria ser MEU.
- E estava te procurando também, Tom. Para que se juntasse conosco. - ele continua sua fala.
- Ah sim, estou indo. - digo, friamente.
- Vamos juntos. - Mia tem a brilhante ideia. Coitada, mal sabe ela que sua maior e única rival está diante de seus olhos.
- Boa ideia. - Ele diz.
Cely caminha de mãos dadas com Georg, seguindo até onde meu irmão está e nós seguimos o casal. Bill muda de expressão quando nos vê todos juntos, e dá um gole em sua taça com espumante. Estamos agora todos juntos: Bill, Gustav, Linda, Georg, Cely, Mia e eu.
- Estávamos falando sobre a brilhante carreira da Dra Cely. - Bill diz, tentando puxar um assunto que envolva todos nós.
- A melhor de todas. - Georg completa, dando um selinho nela. Pronto, era só o que faltava. O garçom passa com uma bandeja de bebidas ao meu lado e eu pego uma, pois sei que a noite vai ser longa.
- Não é para tanto, meu amor. - ela diz e continua. - Celine, Bill. Você sabe que não gosto que me chamem de Cely. - desde quando isso aconteceu? Nunca tinha visto ninguém chamá-la de Cely antes.
- Porque? - pergunto, dando um gole em minha bebida. Fazendo todos olharem para mim. Que foi, porra? Ninguém pode perguntar mais nada?
- Ah... Acho "Cely" muito infantil. Cely foi aquele menininha mimada que ficou para trás. - ela responde, sem nenhum indício de que tenha sido uma indireta, mas só consigo me lembrar da última vez em que brigamos e que eu a chamei de mimada.
- Sofie, minha prima, é atendente do consultório de Celine. - Gustav diz.
- Você já tem seu próprio consultório? - Mia pergunta.
- Tenho sim. Sou formada desde 2013. - ela diz, passando suas mãos pela vestido, lançando um olhar de superioridade para Mia.
- Quero muito começar a faculdade. - Mia diz. O que virou isso aqui?
Dou mais um gole em meu espumante, olhando para meu irmão que me observa como se estivesse preocupado comigo. Sim, Bill, eu sei que você sente o que eu sinto. Nós temos uma ligação muito forte, Bill é como uma parte de mim que foi expandida.
- Me perdoe a pergunta, mas qual a sua idade? - Cely pergunta.
- Acabei de fazer 20 anos. - Mia respondeu. Cely me olha incrédula, como se me achasse um louco por estar acompanhado de uma garota tão nova. E como se a situação não estivesse deprimente o suficiente, começa a tocar Bored - de Billie Eillish, que fala sobre alguém que está entediado após ser deixado por quem disse que sempre ficaria. Minha vida não pode ser uma bosta maior.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝙲𝚘𝚖 𝚘𝚜 𝚖𝚎𝚜𝚖𝚘𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜
FanfictionContinuação da fanfic Eu vejo você. Onde conto a história de amor entre Cely e Tom que acaba após uma aposta feita por ele junto com seu melhor amigo. Um romance mal acabado pode ressurgir e abalar uma vida inteira. Se Cely tivesse que escolher, que...