36° capítulo

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Já passa de meia noite quando chegamos do show, prontos para seguir viagem até Milão, lugar onde sofri o meu acidente em 2010. A sensação de estar voltando para lá e as coisas que Tom disse no meet and greet hoje me deixam um pouco incomodada. Sigo até o seu quarto, andando na frente de todos. E não, o sexo não acabou com minha fúria, uma coisa não tem nada haver com a outra.

- Cely. - Tom me chama, me seguindo.
- Não gostei do que disse. - digo assim que ele entra no quarto. Arregalando os olhos, surpreso pelo o que disse.
- Você sabe que eu não falo sério, são só brincadeira. - se explica.
- "eu posso colocar pra você" - repito a frase da garota, com um ar de deboche e ele ri.
- Essa Cely ciumenta é novidade. - diz, me abraçando por trás, me puxando para que eu deite com ele.
- Antes eram as guitarras, as garrafinhas de água. Agora são elas com esse fogo incessante. E você nem pra cortar. - digo, desabafando enquanto ele deixa beijos logo abaixo da minha orelha.
- Desculpa, linda. Não foi a minha intenção.

Ficamos deitados por mais um tempo, observando a pista enquanto o ônibus seguia, abraçados na cama. A cena de Milão reaparece em minha cabeça, como flashbacks, desses que parecem um pesadelo.

- Eu não tinha vindo aqui depois do que aconteceu. - digo, tentando falar sobre o assunto que realmente está me incomodando. - não tenho boas lembranças.
- Está falando do acidente? - perguntou, fazendo carinho em minhas mãos embaixo das suas.
- Sim. Queria poder esquecer aquela noite. - digo.
- Não mais que eu. - ele diz.
- Foi tudo tão rápido, ainda me lembro da sensação deliciosa de andar a mais de 145 km por hora, do show de vocês sendo transmitido pelo rádio, do salta prendendo em algo e quando eu vi, o carro já tinha capotado.
- O carro ficou destruído. Quando eu o vi, me lembro de implorar a Deus, ao tempo, sei lá ao que mais, para que você estivesse viva. - ele diz, apertando seu abraço, como se quisesse me proteger.
- Infelizmente não voltei completa. - digo, lembrando do serzinho que seria uma misturinha nossa. - Só existem memórias ruins de Milão.
- Te prometo criar boas memórias aqui. Você confia em mim? - Tom me perguntou.
- Confio. - digo, virando para que eu fique de frente para ele.
- Eu te amo. - diz, acariciando meus cabelos.
- Eu te amo. - digo, beijando o canto de seus lábios, bem ali onde está o seu piercing.
Toda essa troca de afeto e carinho, me fazem adormecer olhando o homem mais lindo que já tive o prazer de conhecer.

09:00 - Milão

Acordo com a claridade do dia entrando pela janela do quarto. O ônibus parado me indica que já estamos em solo italiano e sinto um arrepio em meu corpo. Tom já não está mais aqui e isso me deixa surpresa, já que por ele, ele dormiria eternamente. Sigo até o banheiro, começo a escovar os dentes e decido ligar para Sofie, acordei carente e com saudades dela e de Buddy.

Assim que ela me atende, vejo sua expressão preocupada, o que faz com que meu coração aperte. Algo aconteceu.

- Sofie? O que houve? - pergunto.
- É o Buddy. - ela diz, fazendo meu mundo cair.

Desço as escadas, que me dá acesso a todos na pequena cozinha, tomando café. Praticamente avanço em cima de Georg, desferindo socos e tapas em seu peitoral, enquanto todos me olham surpresos. Tom vem rapidamente até mim, me segurando pela cintura, me tirando de cima de Georg.

- O que é isso? - Bill pergunta assustado, de boca cheia.
- Que porra é essa, Cely?- Tom perguntou.
- Porque você tinha que fazer isso? seu merda! - Digo, ainda tentando bater em Georg.
- O que aconteceu? - Gustav pergunta a ele.
- Esse imbecil pediu para que fossem buscar o Buddy da casa de Sofie. Mandou a família dele ir pegá-lo. Ele nunca viu essas pessoas, deve estar com medo e assustado. - Cuspo as palavras, enquanto olho pra ele com fogo nos olhos.

- Você fez isso? - Tom e Gustav perguntam juntos.
- Fiz! E daí? - ele diz, mostrando sua verdadeira face. - Você já não é a Cely que eu conheci! Estava se atracando na Van com o Tom ontem, ou acha que ninguém percebeu? Você não merece ficar com o Buddy!

- Eu te odeio. - digo, tentando bater nele mais uma vez. Tom sabe que eu não vou parar e ele me leva de volta para o quarto, onde me joga na cama.

- Calma, Cely. - diz, enquanto se abaixava ficando de uma altura onde eu conseguisse olhar para ele. - Como você soube disso?

- Eu liguei para Sofie, não acordei me sentindo muito bem e queria vê-los. - digo, chorando.
- Não acordou bem? - perguntou, um pouco triste.
- Odeio Milão e tudo que ele tem. - chorando, me deito na cama, abraçando os travesseiros. Consigo ver que Tom fica aqui por mais alguns minutos, mas depois sai. Choro tanto que acabo pegando no sono.

Acordo com Tom sentado ao meu lado, acariciando meu cabelo para me acordar. Ele está arrumado, a escuridão lá fora me mostra que apenas dormi e chorei o dia todo.

- Precisava te acordar. Nós vamos para o show. - ele disse, com uma voz doce.
- Não quero ir. - digo, manhosa.
- Não posso deixar você sozinha aqui, Linda. Todos os outros já foram. - disse. Conhecendo ele bem, sei que não vai me deixar ficar aqui e relutar vai ser perda de tempo. Sigo praticamente me arrastando até o banheiro, necessitando de um banho.

𝙲𝚘𝚖 𝚘𝚜 𝚖𝚎𝚜𝚖𝚘𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora