Capítulo 129

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Kara tamborilava a mesa com as pontas dos dedos, já tinha escrito o artigo dessa semana para a publicação da CatCo e o entregue a Andrea, já que Lillian havia se afastado para um "retiro espiritual" em uma ilha da Oceania, e tudo voltou ao normal, pelo menos na empresa, porque enquanto Kara olhava para o nada, sua mente se lembrava dos hematomas que Lena tentou esconder sob a blusa de manga comprida que lhe marcavam a pele quando tomaram o desjejum essa manhã. Sabia que neste momento ela estava lá, com Alex, tentando fazer o impossível e tudo porque mais uma vez não fora rápida o suficiente.

A sala de treinos do DEO havia se transformado em um holodeck por Brainy que com a ajuda de Alura rodava uma simulação com as mesmas características que Lena enfrentaria se realizasse o baztvá em Krypton, a mesma simulação que ela encontrará em Argo City diante do Conselho; e pela décima vez ela caiu em uma fenda profunda e morreu perfurada por milhares de estalagmites e a simulação se encerrou.

— Mas que droga, Lena! É um salto simples, como pode errar vez após vez?

— Dá um tempo Alex! Estou exausta, está bem. Isso nunca vai dar certo.

— Claro que não vai, porque daria se você não quer que dê? Hum? Talvez Zor-El esteja certo e Kara mereça alguém melhor do que você, um príncipe daxamita, quem sabe?

— Ah por que você não cala a boca, e roda isso de novo?

— Para quê? Para você morrer no mesmo lugar? Diga-me, Lena, por que errou, de novo?

— Porque – Lena passou a mão sobre o braço esquerdo que ficou muito dolorido com a última simulação – porque me apavorei com aquela coisa enorme que queria arrancar minha cabeça?!

— Sabe que não é real, não sabe?

— Então por que estou toda roxa, Alex?

— Porque disse a Brainy para tornar o mais real possível para que seu cérebro possa fazer a mágica que você faz, pensar sobre pressão e achar a solução rapidamente. Diante do Conselho você só terá uma chance, se falhar, acabou!

— Eu sei!

— Então, apenas pense, Lena, e lembre-se, você só precisa chegar. Não é uma competição, não quer se tornar uma general, só precisa chegar, leve o tempo que precisar. Ok?

— Ok.

— De novo, e não vamos sair daqui até que termine o percurso sem morrer.

O vento gelado cortante a atingiu em cheio e uma lasca de pedra lhe cortou o rosto imediatamente, ela se agachou e segurou em algumas pedras no chão, "lembre-se só termine, sem pressa" a voz de Alex ecoava pelo vento. Lena começou a caminhar devagar, depois de um tempo contornou a base do pico Akartyria e se livrou do vento que lhe açoitava a pele.

Já conhecia o caminho e por isso evitou uma rocha que lhe cortou o braço da primeira vez e passou facilmente pela sequência das outras rochas que mais pareciam feitas de vidro de tão afiadas. Estava demorando mais do que das outras vezes porque andava com mais cuidado evitando os erros anteriores. Estava na metade do caminho quando ele apareceu no mesmo lugar de todas as tentativas anteriores: um corpo gigante com mais de dois metros de altura coberto de pelos negros, uma calda repleta de espinhos semelhantes as rochas cortantes do lugar, e com quatro presas enormes cercadas por dentes que tinha o tamanho da mão de Lena cada um.

Ela parou, como das outras vezes, mas não correu, apenas ficou estática olhando a fera que já sentira seu cheiro, "pense, cérebro, pense, ou morremos" cada centímetro do corpo de Lena estava tenso e a adrenalina corria por cada célula. Deu um passo para trás e a fera encolheu a parte da frente do corpo para lhe dar o bote, "corra!" gritou seu instinto, mas então percebeu um pequeno vale coberto por um labirinto de estalagmites com uma abertura grande o bastante para si, mas não para que a fera a seguisse.

Esperou o máximo que pode e no momento exato do ataque desviou o corpo e correu, a besta em seus calcanhares quase a alcançou, mas conseguiu chegar ao labirinto das rochas, rasgou as calças e feriu as pernas no processo, mas continuou se arrastando o mais rápido que podia para tentar deixar a fera para trás cuja saliva esverdeada, que se assemelhava a vômito, pingava sobre Lena pelos vãos entres as rochas. Depois de alguns cortes e arranhões conseguiu despistar o bicho.

Quando saiu de entre as estalagmites avistou ao longe o contorno de Kryptonopolis, respirou fundo e continuou seu percurso, estava cansada, com a boca seca, o peito doendo por causa do ar muito rarefeito, cada corte e ferimento ardendo, mas continuou arrastando os pés. "Lembre-se só termine; sem pressa" a voz de Alex mais uma vez chegou até ela pelo vento e isso a impulsionou para frente. Estava quase na entrada da cidade quando algo que nunca aparecera antes surgiu na sua frente fazendo-a parar.

Cerca de três ou quatro animais do que se assemelhava a serpentes se enrolavam entre si, eram quase do tamanho de baleias azuis, Lena não conseguia distinguir onde estavam suas cabeças ou sequer se tinham uma, mas, no exato momento em que deu um passo, elas pararam de se mexer e tentaram encontrar onde ela estava. Lena ameaçou mover-se para a esquerda, elas fizeram o mesmo, para a direita, o movimento foi seguido pelas bestas. Deu dois passos para trás e guelras surgiram nas laterais dos animais e grandes bocas com dentes serrilhados apareceram em um dos lados de cada animal.

"Pense, cérebro, pense" parou de se mexer enquanto, os animais ainda em alerta também pararam. Então uma rajada de vento a atingiu e os animais enlouqueceram se desprendendo uns dos outros e rastejando velozmente em sua direção, "Merda! Cheiro!" Lena correu e tentou achar um lugar para se esconder, mas havia quase nada, era uma planície aberta que antecedia a porta da cidade. As bestas a estavam cercando, Lena não tinha para onde ir ou onde se esconder, tropeçou e caiu em uma poça de barro sentindo uma dor dilacerante no pé direito, mas os animais pararam.

Lena ignorando a dor começou a rolar no barro o mais rápido possível e assim que estava toda enlameada ficou imóvel. Não saberia dizer quanto tempo ficou ali, parada no chão frio e húmido, mas o ficou até que as serpentes sem cabeça começaram sua dança entre si novamente "lembre-se só termine, sem pressa". Depois de muito tempo, Lena lentamente começou a se arrastar sem desgrudar-se do chão. Metro a metro ela se afastou daquelas coisas e só ficou em pé quando seu corpo ultrapassou os portões de Kryptonopolis.

Ao ficar de pé cada músculo de seu corpo doeu, não havia uma única parte que não estivesse com um pequeno corte ou arranhão. Mas ainda faltava um pequeno pedaço, então, obrigou seus pés a caminharem novamente, pé ante pé, mal respirando, com a visão começando a ficar turva, Lena atravessou a cidade e chegou no prédio cinza e vazio que em tempos passados abrigava o Alto Conselho de Krypton.

Quando tocou a porta, a simulação se encerrou e os membros do Conselho assim como os cidadãos de Argo City a olhavam perplexos. Kara estava em pé ao lado de Alura que a segurou pelo pulso quando ameaçou descer até o grande salão onde a simulação correu, apenas a pessoa que Lena escolhera para guardiã de sua prova poderia a auxiliar mesmo agora com seu término, por isso, foi Alex quem a amparou quando as forças finalmente a deixaram e ela desmaiou.

Ao Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora