Capítulo 81

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Três semanas já haviam se passado desde que recebi alta e havia dois cães de guarda no meu apartamento: Kara e Alexandra Danvers que se revezavam dia e noite de modo a não me deixarem fazer literalmente nada. Chegou ao cúmulo do absurdo de certo dia eu ter que expulsar Alex do banheiro que queira me ajudar a fazer xixi afirmando que o esforço de abaixar as calças do pijama abriram os pontos da minha perna "Céus você não é quase uma médica? Como Kelly aguenta tamanha neurose Danvers?" gritei pelos quatro cantos do banheiro; depois deste episodio passei a usar camisolas curtas nas noites em que ela ficava de plantão na minha sala.

Felizmente não era o caso desta noite, hoje Kara estava aqui largada em meu sofá me obrigando a assistir toda a quinta temporada de Star Trek: Voyager. Amo me deitar em seus braços, amo sentir sua respiração em meus cabelos, amo seus pés se enroscando nos meus, amo quando ela cochila em meu sofá. Mas definitivamente não poderia mais permitir que elas me fizessem cativa em minha própria casa como vinha acontecendo, a dra. Ramirez já tinha me liberado para voltar a trabalhar, claro que com todos os cuidados e apenas meio período, o que as Danvers simplesmente ignoraram e me impediam de trocar uma simples almofada de lugar, quem dirá ir até a L-Corp.

Kara ficou com Lena até uma parte da noite quando Supergirl precisou se juntar a Alex e sua equipe em uma emergência do outro lado da cidade. Amanheceu o dia e nenhuma das duas havia retornado ainda, foi a chance que Lena precisava para sair um pouco e ver como iam as coisas em sua empresa. Vestiu-se rapidamente pegou o celular e a bolsa e saiu só para dar de frente com dois agentes do DEO em sua porta que a encararam.

— Srta. Luthor, tudo bem? Vai à algum lugar?

— Sim, está tudo bem. E se vou ou não a algum lugar isso não é da sua conta.

— Não, mas é da minha. Onde pensa que vai srta. Luthor?

— Kara! – Ela havia acabado de sair do elevador.

— Por que não conversamos lá dentro?

Lena não teve tempo de responder pois Kara já a segurou gentil, mas firmemente pelo cotovelo e a dirigiu para dentro do apartamento. Os olhos de Kara estavam estreitos e seus braços cruzados demonstravam o quanto estava furiosa. Havia tido uma noite terrível e estava exausta para ter uma discussão com a namorada agora, mas era isso que iria acontecer porque Lena também não estava nada satisfeita com sua atual situação, sentia-se uma prisioneira com o excesso de cuidado das Danvers.

— Não. – disse Lena simplesmente antes que Kara abrisse a boca.

— Você ainda não está totalmente recuperada, sabe que precisa de mais tempo.

— Não.

— Por que não pode esperar mais alguns dias? Até a semana que vem.

— Não.

— O Rao! Quer parar de dizer não! – Kara se exasperou, passou as mãos pelos cabelos – Você não vai voltar ao trabalho ainda e pronto! – Passou por uma Lena perplexa e foi para o quarto, precisava mesmo de um banho.

— Kara! Kara Zor-El Danvers! Volte já aqui. KARA!! – Lena gritou sem sucesso.

Trinta minutos, exatos trinta minutos Kara se demorou no banho, gastar toda essa água e energia só serviu para enervar Lena ainda mais e o fato de ter tentado deixar o próprio apartamento e ser impedida pelos cães de guarda de Alex não ajudou muito. Andou de um lado para o outro em sua sala sentindo-se uma leoa enjaulada.

Nem mesmo uma boa dose de café a acalmou e como ainda estava sob medicamentos não pode recorrer ao bom e velho whisky. Estava sentada na varanda tentando se acalmar quando Kara se aproximou ainda de roupão e sentou-se na cadeira ao seu lado. Lena estava pronta para iniciar uma guerra quando se virou para ela, mas Kara deixou, propositalmente, o roupão meio aberto revelando boa parte da curva de seus seios e cruzou as pernas o que desnudou suas coxas quase que completamente. Lena perdeu a guerra antes desta começar e o fôlego antes do ar entrar em seus pulmões.

— Agora podemos conversar. – disse Kara com voz suave e calma.

Lena fechou os olhos e sacudiu a cabeça de leve, respirou fundo já se rendendo mentalmente.

— Definitivamente você sabe como desarmar alguém.

— Eu? – disse umedecendo os lábios com a língua – Não sei do que está falando.

— Me seduzir não vai mudar o fato de que está errada, Kara – Lena respondeu tentando se concentrar em algo que não fosse as pernas ao seu lado.

— Estou errada em me preocupar com sua saúde?

— Não, está errada em achar que vai me manter em uma gaiola de ouro. Não sou feita de vidro.

— Daqui, de Krypton, você me parece de vidro sim.

— Kara – não conseguiu evitar o suspiro – amor, sei o quanto te assustou me ver em coma, mas...

— Assustar!? – Kara a interrompeu – Eu fiquei apavorada Lena, você não tem ideia do terror que passei a cada segundo te vendo lutar pela vida sem saber se iria sobreviver ou não. Não há nome terráqueo que possa descrever o que eu senti e não vou passar por isso de novo, pode apostar.

Ao Som do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora