Capítulo 4

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Kara acompanhou cada movimento dela com o olhar sem dizer nada. A forma precisa que abria a garrafa de whisky, o modo como os longos e magros dedos brancos envolviam o copo, o suave movimento dos músculos de sua garganta enquanto o líquido descia, o ritmo de seu coração que se acalmava. Tudo deixava Kara paralisada no tempo, presa em Lena Luthor por minutos infinitos.

— O que quer Kara, ou melhor, Supergirl? Por que ainda está aqui? Pensando nas possibilidades de uma nova aliança minha com Lex? — O cansaço ajudava Lena a tornar seu humor pior do que já estava o que resultava em uma ironia fria e cruel.

— Eu não tinha a intenção de nada disso Lena, só pensei que precisava de ajuda. Quando vi que Lex entrou aqui eu...

— Espera. Está me vigiando? Não acredito! Pode ir embora você também, por favor.

— Eu não estava te vigiando Lena – ao encontrar os olhos de Lena e ver o brilho de desconfiança percebeu que não adiantaria nada negar – ok, ok, talvez eu estivesse te olhando, mas não é o que parece, eu estava...

— Estava o quê? Tendo certeza de que não vou te trair novamente? Isso? Ou tentando decidir quem prender primeiro o Lex ou eu? É por isso que tem vigiado meu apartamento também, todas as manhãs?

Os olhos da Supergirl se arregalaram e um leve tremor percorreu seu corpo "como ela soube?" 

— Não Lena eu jamais faria isso, só... só estava... estava...

— Quer saber? Eu não quero saber, seja lá qual for a sua desculpa não estou interessada, por favor vá embora.

— Lena...?! — Supergirl ameaçou se aproximar da mesa de Lena, mas foi interrompida pela voz exausta da CEO:

— Não, Kara, agora, vá embora, agora!

— Por favor me deixe explicar. Não é o que está pensando, eu só estava preocupada com você. Só isso.

— Já disse que não quero suas explicações, simplesmente vá. Meu dia já foi ruim o bastante para ter que lidar com você também. Estou tão cansada... por favor, vá!

Supergirl encarou-a por mais alguns minutos e sentiu seu coração tremer por ver o quão verdadeiro era o cansaço mental que transparecia por seus verdes olhos sem brilho e pela maneira lenta que levava o copo à boca. Mesmo que sua vontade fosse a de ficar e a abraçar até que o mundo sumisse, não viu escolha a não ser partir. Já estava com metade do corpo para fora da janela quando se virou para Lena:

— Não deveria beber tanto. Ficar doente não vai melhorar a situação.

E voou para longe dali. Lena apenas olhou para o vazio da janela que sua partida deixou "pelo menos nisso concordamos" pensou, deixou o copo com meio whisky sobre a mesa e finalmente foi para casa. Tudo o que queria depois do dia exaustivo na L-Corp e da visita insana de seu irmão era um longo banho em sua banheira com água bem quente.

Enquanto descia por seu elevador particular um pensamento veio-lhe à mente, à sua revelia, "será que ela estará lá pela manhã? Como em todos os outros dias?" Mas logo sacudiu a cabeça para espantar suas inquietações; em um momento a manda embora, no outro a quer por perto "decida-se Lena Luthor, você não é Humpty Dumpty para ficar em cima do muro." E com um triste meio sorriso entrou no elevador.

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