Ao Som do Coração

Capítulo 30

Os corredores estavam vazios e silenciosos, o som do antigo relógio analógico entoava um ritmo melancólico no laboratório de Lena Luthor. Mais uma noite que ela passava na companhia da ciência na inútil tentativa de não pensar em Kara Danvers e no beijo que trocaram, as bordas da Terra, no espaço.

Infelizmente um acordo mútuo e sem palavras as mantiveram longe uma da outra nesses três dias que se passaram depois da viagem à Argo City e isso estava acabando com ela mais do que a incerteza de onde estava sua relação com Kara Danvers nesse momento e para piorar não a ter todas as manhãs em sua cozinha a estava enlouquecendo tanto quanto a lembrança constante do beijo.

Estava tão centrada em seus pensamentos conflitantes que não percebeu que misturou dois compostos altamente inflamáveis, mas para a sua sorte não havia líquido suficiente para um desastre maior e o resultado foram apenas pequenas queimaduras de primeiro grau em um dos braços.

— Mas que droga!!! Maldito beijo!!! — Lena esbravejou sem perceber que não estava sozinha.

— Beijo! Então é isso que está enlouquecendo as duas.

— ALEX! Quer me matar do coração?

— Acho justo já que vocês querem me matar de preocupação. Mas, nem tente fugir, beijo, eu ouvi a palavra beijo, certo?

— Não, não ouviu. Agora vai embora, ok, apenas vá e me deixe sozinha.

— Sem a menor chance. Aqui deixe eu cuidar disso aí enquanto você me conta tudo.

— Não preciso da sua ajuda, e já não disse para ir embora, não disse?

— Disse, mas estou fingindo que não ouvi.

— Alex!

— Lena!

As duas encararam-se por alguns instantes:

— Não vai esquecer o que ouvi, vai?

— Nem em um milhão de anos, e, também, não vou embora antes de me contar tudo.

— Oh droga!

Sem alternativa, Lena deixou Alex cuidar de sua queimadura, mas permaneceu em silêncio o tempo todo em uma tentativa parca de evitar o inevitável.

— Pronto, agora por que não acabamos logo com isso e me diz de uma vez o que aconteceu?

— Por que não pergunta para sua irmã?

— Porque estou perguntando para você. Deixe-me te ajudar, beijo? — O ar cínico e a sobrancelha levantada fizeram Lena suspirar fundo e esconder o rosto entre as mãos.

— Céus! Você não existe. Certo, houve um beijo, nada de mais. Feliz? Pode ir agora? – Lena respondeu sem ousar encará-la.

— Ok — Alex resolveu ir devagar para que Lena não se fechasse — E isso é uma coisa boa, não é?

— É, mais ou menos, oh, eu não sei, sabe, eu... eu... não sei, entende?

— Não, não entendo, mas se me ajudar quem sabe eu possa ajudar vocês. Vamos do começo, como se sentiu quando a beijou?

— Foi ela. Foi ela quem me beijou primeiro.

— Bom, isso é uma surpresa! Kara tomando a iniciativa. Mas tudo bem, o que sentiu?

— O que senti? Foi... foi a coisa... mais maravilhosa que já senti na vida. Ela tem uma delicadeza tão intensa que cada partícula do meu ser se rendeu a ela quando nossos lábios se tocaram. E o som do coração dela batendo forte contra o peito, juro, eu pude ouvir o som de seu coração e foi como ouvir o som da própria vida. E o toque suave de seus dedos em meu cabelo me puxando para ela arrepiaram cada milímetro de meu corpo, eu senti cada célula minha pulsar para responder a ela quando sua língua tocou a minha e descobriu cada pedaço de minha boca e...

— Wow!! Ok. Acho que podemos parar por aqui. Nada da imagem da língua da minha irmã na sua em minha mente, mas todo o resto, NOSSA!!!! É só o que posso dizer e depois?

— Depois o quê?

— Ah, qual é Lena. Depois do beijo, vocês conversaram? O que você disse a ela? Ou ela a você? O que houve depois? Por que ela não está falando sobre isso pelos cotovelos? O que houve depois?

— Ora Alex, depois a nave pousou, ela foi para a casa dela e eu para minha e mais nada.

— Como assim mais nada Luthor?

— Mais nada Alex, nada. Ah sim teve uma coisa.

— Ótimo, o quê?

— Você aqui me aporrinhando a vida!

— Juro que minha vontade agora é a de trancar vocês duas dentro de uma cela no DEO e jogar a chave fora. Vão ser complicadas assim lá nos meteoros de Krypton!