Ela voa, eu dirijo. Ela fala, eu escuto. Ela sorri, eu... eu... esqueço meu nome. Ela diz meu nome no meio desse sorriso e eu... eu esqueço de respirar. Ela nem percebe que desmonta meu mundo e o reconstrói, nem percebe que basta um olhar dela para mim e eu seria capaz de enfrentar o universo e vencer.
A dois dias ela se senta em minha cozinha, toma do meu chá, e eu nem gosto de chá só os tenho por ela, come das minhas torradas e revira tudo o que conhecia até agora e nem percebe o efeito que tem sobre mim. Kara, Kara, Kara. O que vou fazer com você? A deixei mais uma vez na porta da CatCo e agora, aqui, em meu escritório na L-Corp com vista para o mundo sinto-me impotente diante do meu novo problema com Kara Danvers.
Primeiro ela conquistou minha confiança e mentiu para mim, depois eu me aproveitei da confiança dela e menti para ela. Agora não há mentiras, há uma confiança, pequena, mas confiança e a há... há... isso, o sorriso de Kara dominando meus pensamentos, meus sonhos, meus pesadelos, minha cozinha pela manhã. O que fazer?
Lena estava tão perdida em si mesma que se assustou quando Clarice abriu a porta de sua sala:
— Desculpe, não queria assustá-la. Eu bati, mas você...
— Tudo bem. O que foi?
— A agente Danvers está aqui para vê-la.
— Ok, mande-a entrar.
— Alex! Tínhamos algo marcado? Kara está bem?
— Não e sim, — foi a resposta que deu junto com um meio sorriso cínico — sim, ela está bem. Não, nada marcado.
— Então, está aqui por quê?
— Por que quero saber o que diabos está fazendo?
— Como assim?
— O que está fazendo com relação a minha irmã, Lena.
Lena se remexeu na cadeira atrás da mesa de vidro:
— Não sei o que quer dizer.
— Sério? Pensei que já tínhamos passado desta fase — Alex levantou as sobrancelhas e Lena suspirou curvando os ombros:
— Certo, eu... ah... ah estamos tomando café da manhã juntas, isso conta?
Alex não pôde conter o sorriso e sentou-se na cadeira em frente a Lena:
— Café? Sei, ah o que eu vou fazer com vocês?
— Não estou entendendo.
— Deixe-me ver se consigo explicar para você sem ter que desenhar — desta vez foi Lena quem levantou uma das sobrancelhas — eu amo minha irmã, mas gosto de chegar em casa e de vez em quando, só de vez em quando ficar largada no meu sofá sem fazer nada a não ser ouvir Kelly me falar do seu dia enquanto ela massageia minhas costas. Coisa simples, sabe? Mas nos últimos dois dias tudo o que tenho feito é passar horas vendo Kara acabar com todo o meu estoque de cereal, sabia que ela adora cereal e sabia também que ela come quase três vezes mais quando está ansiosa? Não você não sabia disso, como acho que também não sabe que ela tem andado muito ansiosa com certos desjejuns; é, é assim que ela chama o café da manhã que tem feito com uma certa pessoa para retomar uma certa amizade que já deveria estar colorida se é que me entende; é eu já sabia.
— E o que quer que eu faça, Alex? Aceito qualquer tipo de sugestão.
— Diga a ela o que realmente sente.
— Ficou louca!! Ela surtaria. Não posso. E depois nem eu sei o que sinto direito.
— Então, estamos bem enroladas aqui.
— Agora você entendeu.
***
Enquanto isso na Cacto, Kara tentava em vão escrever uma matéria sobre o novo Orquidário da cidade, mas tudo o que conseguia pensar era nos lábios de Lena quando essa bebericava seu café hoje pela manhã “desse jeito perco o emprego” pensou e tentou mais uma vez se concentrar na tela do iMac a sua frente, mas meia hora depois nada acontecia entre ela e a bendita tela.
“Por que ela não sai da minha cabeça? Mas que droga!” percebendo que não adiantava nada ficar ali parada olhando o nada, Kara desligou o aparelho e foi embora pensando que talvez um voo rápido pudesse ajudar a clarear a mente. O que a princípio era para ser breve demorou mais do que o esperado e quando percebeu já anoitecia, voar era realmente um dos seus prazeres e o fazer sem estar perseguindo ninguém ou para salvar alguém era melhor ainda.
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Ao Som do Coração
RomantizmO relacionamento de Kara e Lena está voltando aos poucos ao normal, ou ao mais perto disso depois que a Luthor processou a descoberta da identidade da Super-heroína. Mas algo novo nasce nesse processo de retomada da amizade entre as duas. Um sentime...