Quando Alex chegou à casa da irmã, a encontrou enrolada na manta largada no sofá. Kara estava assistindo novamente à sexta temporada de Star Trek: Voyager e apenas deu lugar para que a irmã se aconchegasse a ela em sua bolha estranha de autopiedade. Depois de quase meia hora em silêncio apenas assistindo, Alex respirou fundo e resolveu cutucar a onça com a vara curta de uma vez:
— Então, o que está acontecendo, Kara?
— Eu não sei. – Ela respondeu sem olhar Alex nos olhos.
— Humm. Não sabe? Interessante.
— Alex! O quê?
— Kara, você é minha irmã, eu te conheço. – Alex se acomodou no sofá o que obrigou Kara a lhe fitar – toda aquela explosão, logo cedo lá em casa, está com medo, não é?
— Não sei do que está falando.
— Ah, claro, não sabe, nem tem ideia, não é? Kara!?
— Eu... – Ela suspirou fundo e voltou a se encostar no sofá – Eu... só não sei o que, o que fazer agora.
— Como assim o que fazer agora? Kara, do que está falando?
Ela se endireitou antes de responder e escondeu o rosto entre as mãos por alguns instantes:
— Será estranho falar isso com você, mas, aí vai. Vashitrá.
— Vashitrá? – Alex a olhou como se visse um alienígena gosmento.
— Sabe... quando... céus! Por Rao!
— Céus, digo eu, Kara! Pode conversar qualquer coisa comigo, ei, irmã? – Alex tomou as mãos dela nas suas.
— Eu tenho medo de machucá-la, de... de... e se eu a... se durante eu não puder e... eu...
— Céus, Kara! Precisa ser um pouco mais clara; do que raios está falando?
— Sabe aquele momento em que você olha para alguém e sabe que aquela pessoa é...
— É a pessoa perfeitamente certa para você e que nunca vai amar mais ninguém?
— É, e sua alma se conecta com a dela de uma forma que não acontecerá com mais ninguém nunca mais?
— Então..., está com medo de amar Lena dessa forma, eu não entendo. Você já não a ama assim?
— Sim, e esse é o problema. Eu amo, até mais do que isso, o que nos levará ao Vashitrá.
— Ah, de novo a isso! Kara seja o mais específica possível, está bem?
— Quando um kryptoniano encontra alguém para amar da forma como amo Lena, isso se manifesta em um Vashitrá quando... quando... estamos... sabe... juntas... assim...
— Wow! Juntas! Agora entendi!
— Por Rao, Alex, você às vezes é muito lenta!
— É que é difícil associar você, Lena e sexo numa mesma frase.
— Alex!
— O quê? Você é a minha irmãzinha alienígena toda doce e inocente, eu sempre vou pensar em você assim, doce e inocente, mas enfim, está com medo de machucá-la, está se segurando, está irritada, está soltando fogo pelas ventas por toda parte, acertei?
— Esqueceu a parte que ela cheira maravilhosamente bem e que é quase doloroso fisicamente ficar perto dela sem... sem... você sabe?
— Sei, não precisa, sei. Dor física, Kara?!
— Estou dizendo, Alex, depois de toda a coisa lá em Argo, depois que ela recebeu a pulseira, ficou tudo mais intenso, chega doer, por isso sei que é ela e quando eu a tocar de novo será nosso Vashitrá e se eu a matar? Ela é humana, Alex! Eu posso matá-la, sabia?
— Ei, vamos com calma, ok? Você não vai matar a Lena, não vai porque você a ama. Isso é mais forte do que qualquer Vashirá ou qualquer que seja o nome, acredite em mim. Você nunca vai machucar a Lena, nem sob o efeito de kryptonita vermelha. Não vai!
— Não? – Uma lágrima escorreu pelo canto do olho – Como pode ter tanta certeza?
— Eu já disse, sou sua irmã. Eu te conheço melhor do que qualquer pessoa neste mundo.
Alex a abraçou com toda a força que possuía e Kara se permitiu descansar nos braços da irmã como não fazia desde a sua adolescência quando os pesadelos com Krypton a acordava no meio da noite e sua visão de calor deixa buracos no teto do quarto das duas.
***
Lena chegou à L-Corp às sete da manhã e logo se viu em uma roda infinita de reuniões, o que a prendeu na sala de conferências toda a manhã. Quando finalmente entrou em sua sala, já passava das 14hs e tudo o que queria era um gole de café, ou talvez uma dose de whisky. Estava se decidindo qual seria quando Clarice bateu em sua porta, entrou e não disse nada, esperou que sua chefe a olhasse antes de qualquer coisa.
— O que foi, Clarice? Está com jeito de quem viu um fantasma.
— Ah, a NewsPaper Brighing acabou de publicar uma matéria de capa com a senhorita Jamieson.
— Sinceramente, Clarice, não tenho tempo ou gosto para fofocas ou tabloides de quinta categoria, a essa altura já deveria saber disso.
— Sim, eu sei, senhorita Luthor, mas é que...
— É o quê, Clarice?
— É que a foto... é... é...
— Por céus, Clarice, pare de gaguejar e diga de uma vez!
— É melhor a senhorita mesmo ver.
Clarice caminhou rápido até a mesa de sua chefe e lhe entregou um tablete com a página da revista de fofocas aberta com a tal matéria que tinha apenas uma foto a qual fez Lena parar de respirar no momento em que seus olhos pairaram sobre a tela. Lá estava Lena de biquíni preto saindo de uma piscina com uma das mãos de Sarah em suas costas e a outra lhe tocando de leve um dos seios, na foto, Lena pousava suas mãos na cintura de Jamieson; era uma foto antiga, imediatamente lembrou-se do dia em que foi tirada, mas não havia data na postagem, havia apenas a manchete em um canto da foto O romance picante entre Luthor e Jamieson. Não tinha mais nada.
— Clarice, quando...?
— Saiu no meio da manhã, mas a senhorita...
— Ó Clarice, deveria ter me dito isso imediatamente. Eu não vou nem ler o que a matéria diz.
— Eu acho melhor ler, senhorita.
— Tão ruim assim? – a secretária apenas assentiu com a cabeça – Tudo bem, enquanto isso, diga ao nosso jurídico que quero isso fora do ar imediatamente, entendeu?
— Sim, senhorita.
— Eu preciso falar com Kara, avisar de que...
— "Ela passava horas comigo na beira da piscina, foram os melhores dias de minha adolescência para não dizer de minha vida, sabia que ela foi meu primeiro beijo, meu primeiro orgasmo, meu primeiro tudo?" "Mas por que nunca se assumiram publicamente?" "Ah, querido, Lillian, é claro, nem sei como Lena teve coragem agora, você sabe, de assumir a reporterzinha." "Fala de Kara Danvers?" "Ah, sim, aguadinha sem sal, né? Tenho certeza de que minha Lena só o fez para provocar a mãe. O que acho de muito mal gosto para o momento, tudo bem que a senhora Luthor tem lá seus defeitos, mas tripudiar em cima da própria mãe agora que o filho está preso e sob acusações tão feias, MINHA Lena se superou realmente." "Você fala minha, mas ela está namorando Kara Danvers, no momento, não está?" "Oh queridinho, acha mesmo que estou preocupada com uma concorrência como aquela? Kara Danvers é só mais uma entre as muitas que Lena teve entre nossas idas e vindas, mas quer saber? Ela sempre volta para mim, deixe-a curtir a reporterzinha mais um pouquinho." E blá blá blá blá; e por aí segue Lena, diga-me Luthor, quando vai dar um basta nisso? Será antes ou depois de eu quebrar as pernas desta Jamieson?
— Kara!! – Lena se levantou e sem desviar os olhos da namorada prosseguiu – Clarice, cancele todos os meus compromissos, eu não estou para ninguém, entendeu?
— Sim, senhorita.
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Ao Som do Coração
RomanceO relacionamento de Kara e Lena está voltando aos poucos ao normal, ou ao mais perto disso depois que a Luthor processou a descoberta da identidade da Super-heroína. Mas algo novo nasce nesse processo de retomada da amizade entre as duas. Um sentime...