Décimo dia que nos sentamos no balcão da minha cozinha para o desjejum, nossas conversas melhoraram, estão mais leves; falamos sobre coisas rotineiras como o sol, a lua, o dia, a chuva. Era maravilhoso começar o dia com o sorriso espontâneo de Kara ouvindo-a reclamar dos estagiários ou de como sua carreira estava estagnada e que a melhor matéria que fizera nos últimos dias fora sobre o novo orquidário da cidade inaugurado dentro do Jardim Botânico.
— Bom eu não sei você, mas eu amo orquídeas.
— Eu sei, são as suas preferidas. Mas, eu preciso de algo mais relevante do que flores para escrever de novo.
Um sorriso surgiu nos lábios de Lena ao constatar que até com rosto amuado e biquinho chateado Kara era linda de matar.
— Não é engraçado Lena, sério! Se não achar uma boa matéria logo, meu único trabalho será patrulhar a cidade à noite.
— Se isso realmente acontecer, o que eu duvido, posso te dar um emprego lá na L-Corp o que acha?
— Lena! Estou falando sério.
— Eu também. — E sorriu abertamente para ela.
— Nada contra a sua empresa familiar, mas acho que vou declinar. Não tem a menor chance de eu me transformar em uma empresária de sucesso. — A risada de Kara preencheu o apartamento de Lena e iluminou seu olhar e a fez sorrir junto:
— Tudo bem, sem ressentimentos. Mas já que você está uma verdadeira expert sobre orquídeas, que tal — Lena bebericou seu café antes de continuar com cuidado — você me levar lá no novo orquidário e me mostrar tudo? — Lena esperou um pequeno silêncio correr antes de continuar — e depois eu posso te levar para aquela aula de direção que estou te devendo, o que acha?
— Ah... me parece bom.
— Ok. Domingo à tarde?
— Tá, tudo bem. Eu... eu...agora... eu... tenho... que ir... sabe...
— Tudo bem, eu... eu... te levo...Kara! Kara? — Mas ela já tinha ido, voou pela janela tão rápido que quase derrubou as coisas do desjejum sobre a bancada deixando para trás uma Lena sem ação. Dois dias e meio separavam Lena de uma tarde com Kara e para ela, ali parada olhando para a janela aberta, pareciam uma eternidade.
***
Kara andava de um lado para o outro em seu apartamento enquanto sua irmã e Kelly tentavam não rir de seu nervosismo. Já fazia mais de meia hora que ela rodeava o tapete da sala, gesticulava e falava sem parar, ao ponto de suas palavras perderem-se em si mesmas e Alex e Kelly desistirem de entender qualquer coisa que não fosse o nome de Lena.
— Você não entende.
— Então, por que você não me explica?
— Será a primeira vez que passearemos ou iremos a algum lugar depois de tudo o que aconteceu, Alex. Assim normal, sabe?
— E isso te preocupa por quê...?
— Por quê? Por quê? Ora Alex você não entende nada mesmo!!!
Dizendo isso, Kara voltou furiosa para o quarto para trocar de roupa pela milésima vez enquanto Alex e Kelly desandavam a sorrir na sala. "Como por quê, por quê... Alex às vezes parece mais tonta do que eu quando tinha sete anos e corri atrás de um Firamur em Krypton e fiquei toda inchada durante uma semana enquanto esperava os espinhos dele se desintegrarem de minhas costas".
"O pior é que não tenho uma resposta para ela, realmente não sei por que estou tão nervosa com um simples passeio em um orquidário idiota. Droga! A quem estou tentando enganar? Claro que sei o porquê do meu nervosismo. Mas como dizer isso à Alex? Quer saber, camiseta preta e moletom. Pronto. Perfeito. Ela nem vai reparar mesmo". Com estes pensamentos e vestida apenas de moletom, Kara ignorou o olhar de espanto que as duas mulheres no sofá lhe lançaram e saiu batendo a porta.
***
Lena chegou à entrada do Orquidário bem antes do horário combinado, havia tentado de todas as formas possíveis permanecer em seu apartamento mais tempo, mas a espera estava arrancando-lhe os cabelos então decidiu que o melhor era distrair a mente esperando Kara vendo o movimento das pessoas que passeavam aquela tarde do que correr o risco de rasgar o carpete da sala. Estava sentada em um dos bancos posicionados no grande pátio em frente ao Orquidário quando a viu "Ó universo, dá para me ajudar aqui hein? Como pode alguém ficar tão maravilhosamente linda usando moletom?!?!?"
— Oi.
"Vamos cérebro faz alguma coisa e responde. Lena para cérebro. Cérebro para Lena. Câmbio?"
— Lena, oi vo... vo... você está bem?
— Ah... ã... sim eu estou bem, desculpe. Oi. Quer comer alguma coisa, um sorvete antes de entrar?
— Um sorvete? Lena estamos no meio do Jardim Botânico de National City acho que não tem sorvete nesta parte, só perto do portão sete onde fica a praça de alimentação.
— Viu, eu sabia que você seria uma guia perfeita — disse com um meio sorriso amarelo para disfarçar seu momentâneo estado de abobalhamento "Ótimo! Cérebro voltando a funcionar".
— Ok. Vamos?
— Claro.
Com um sorriso tonto, Lena acompanhou Kara para dentro da área onde o Orquidário foi posicionado no Jardim Botânico. O lugar era todo uma grande redoma de vidro que em pontos estratégicos ficava a meia luz devido a algumas telas espalhadas em sua abóbada. Kara realmente tentava com todas as forças do seu ser prestar atenção a tudo o que Lena dizia sobre cada orquídea, mas estava um pouco difícil já que a Luthor, por alguma razão que só um grande complô do Universo contra Kara poderia explicar, resolveu vestir uma bermuda social azul clarinho que deixava metade de suas coxas para fora do tecido. Desviar o olhar das pernas de Lena requeria um esforço descomunal.
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Ao Som do Coração
RomanceO relacionamento de Kara e Lena está voltando aos poucos ao normal, ou ao mais perto disso depois que a Luthor processou a descoberta da identidade da Super-heroína. Mas algo novo nasce nesse processo de retomada da amizade entre as duas. Um sentime...