3

288 32 1
                                    

Inevitavelmente meus olhos descem por seu corpo, manchado de respingos de sangue, grudando sua camiseta branca ao seu corpo malhado, que apenas ressalta o vermelho

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Inevitavelmente meus olhos descem por seu corpo, manchado de respingos de sangue, grudando sua camiseta branca ao seu corpo malhado, que apenas ressalta o vermelho. Ele me olha sem saber tanto quanto eu o que falar, então abro minha boca em um sussurro.
— precisamos esconder, enterrar? — questiona e ele assente. Então caminho em direção a casinha no fundo, um pequeno cômodo onde meu pai guarda as ferramentas de capinar a grama e mexer no jardim — venha, não tenha medo! — falo para o cara ainda parado no mesmo lugar, feito planta.
Então ele vem até mim receoso.

— tem alguém na casa? — sua voz rouca e grossa soa como um sussurro, me fazendo arrepiar.

— não, ninguém nos verá, não se preocupe — ele assente. Vamos até a pequena casa e reviramos tudo lá dentro à procura de uma pá. Aponto para o objeto e ele pega, eu não conseguiria, já que é enorme. Observo o mesmo carregando os utensílios e mordo meus lábios pensativa, eu queria perguntar — por que o matou? — questiono em tom baixo, mesmo sabendo que ninguém nos ouviria. Então ele para por um momento, cerra o maxilar e me olha fixamente sem pudor.

— não é da sua conta, pirralha — esbraveja. Arquei a sombrancelha e assinto. Não irei insistir, acho que no fundo sei que tem um motivo plausível, sem contar que não contaria se fosse ele também, acabamos de nos conhecer.
Desde essa pergunta, o silêncio se estendeu, nos comunicamos apenas com os olhos, quando era preciso entregar a pá, carregar o corpo e etc, mas nenhuma palavra.

•••

Afofamos a Terra e organizamos as hortaliças por cima, nesta casa há uma pequena horta, o lugar que julgamos ser perfeito para enterrar, já que se a terra estivesse mexida, não levantaria suspeitas, afinal sempre mexemos na horta para recolher alimentos ou plantar mais.

Me sento ao seu lado, encarando os alfaces, almeirão e cenoura que escondiam um corpo embaixo de suas raízes. Um suspiro é presente ao meu lado e eu olho-o de relance, ele parece muito preocupado, claro, ele tem mais do que motivos o suficiente.

— por quê? — sua voz ecoa em um sussurro. Franzo o nariz olhando-o sem entender — porque me ajudou? Era para você nem ter saído daquela porta — esclarece — e se eu fosse um aproveitador e lhe machucasse aqui dentro, estamos sozinhos. Não sou uma pessoa confiável, eu matei alguém e sou o dobro de seu tamanho, consigo facilmente me aproveitar de você, não pensou isso? — diz calmamente e eu reflito. Eu de fato pensei, mas algo me diz que ele não faria isso, tem sim a probabilidade de ter me enganado, mas não mudaria nada no fim. Suspiro.

— não seria o primeiro — declaro e ele paira os olhos em mim, me analisando. — que foi? Não sou tão louca assim — brinco, mas seu olhar continua sério, em análise de algo.

— de fato não é — se vira novamente — obrigado! — sorri para ele.

— não tem de que, faço isso todo dia — ele se vira lentamente como aquelas bonecas de filme de terror, me olhando como se questionasse se é verdade ou não. Então dou uma risada, olhando para cima, observando as estrelas.

Silênt nigthOnde histórias criam vida. Descubra agora