Inevitavelmente meus olhos descem por seu corpo, manchado de respingos de sangue, grudando sua camiseta branca ao seu corpo malhado, que apenas ressalta o vermelho. Ele me olha sem saber tanto quanto eu o que falar, então abro minha boca em um sussurro.
— precisamos esconder, enterrar? — questiona e ele assente. Então caminho em direção a casinha no fundo, um pequeno cômodo onde meu pai guarda as ferramentas de capinar a grama e mexer no jardim — venha, não tenha medo! — falo para o cara ainda parado no mesmo lugar, feito planta.
Então ele vem até mim receoso.— tem alguém na casa? — sua voz rouca e grossa soa como um sussurro, me fazendo arrepiar.
— não, ninguém nos verá, não se preocupe — ele assente. Vamos até a pequena casa e reviramos tudo lá dentro à procura de uma pá. Aponto para o objeto e ele pega, eu não conseguiria, já que é enorme. Observo o mesmo carregando os utensílios e mordo meus lábios pensativa, eu queria perguntar — por que o matou? — questiono em tom baixo, mesmo sabendo que ninguém nos ouviria. Então ele para por um momento, cerra o maxilar e me olha fixamente sem pudor.
— não é da sua conta, pirralha — esbraveja. Arquei a sombrancelha e assinto. Não irei insistir, acho que no fundo sei que tem um motivo plausível, sem contar que não contaria se fosse ele também, acabamos de nos conhecer.
Desde essa pergunta, o silêncio se estendeu, nos comunicamos apenas com os olhos, quando era preciso entregar a pá, carregar o corpo e etc, mas nenhuma palavra.•••
Afofamos a Terra e organizamos as hortaliças por cima, nesta casa há uma pequena horta, o lugar que julgamos ser perfeito para enterrar, já que se a terra estivesse mexida, não levantaria suspeitas, afinal sempre mexemos na horta para recolher alimentos ou plantar mais.
Me sento ao seu lado, encarando os alfaces, almeirão e cenoura que escondiam um corpo embaixo de suas raízes. Um suspiro é presente ao meu lado e eu olho-o de relance, ele parece muito preocupado, claro, ele tem mais do que motivos o suficiente.
— por quê? — sua voz ecoa em um sussurro. Franzo o nariz olhando-o sem entender — porque me ajudou? Era para você nem ter saído daquela porta — esclarece — e se eu fosse um aproveitador e lhe machucasse aqui dentro, estamos sozinhos. Não sou uma pessoa confiável, eu matei alguém e sou o dobro de seu tamanho, consigo facilmente me aproveitar de você, não pensou isso? — diz calmamente e eu reflito. Eu de fato pensei, mas algo me diz que ele não faria isso, tem sim a probabilidade de ter me enganado, mas não mudaria nada no fim. Suspiro.
— não seria o primeiro — declaro e ele paira os olhos em mim, me analisando. — que foi? Não sou tão louca assim — brinco, mas seu olhar continua sério, em análise de algo.
— de fato não é — se vira novamente — obrigado! — sorri para ele.
— não tem de que, faço isso todo dia — ele se vira lentamente como aquelas bonecas de filme de terror, me olhando como se questionasse se é verdade ou não. Então dou uma risada, olhando para cima, observando as estrelas.
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Silênt nigth
Mystery / ThrillerAquira Garden não planejava viver sua vida como um eterno segredo, mas foi inevitável. Aquela noite tudo mudou bruscamente, não somente sua vida diária, mas seu ponto de vista também. Se existir mesmo anjo da guarda com certeza é ele, mas suas armad...