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Duas semanas depois.

— tio Hayden? — As me chama e eu pisco os olhos atordoado, saindo de meus pensamentos e dirigindo minha atenção para o pequeno garoto — mamãe disse que você fez merda, por isso está pagando as consequências — cerro os olhos e ele me escala, sentando-se em meu colo — não é só pedir desculpas? — suspiro bem humorado com a inocência, do pequeno garoto.

— espero que sim, meu bebê — acaricio seus cabelos — mas conhecendo ela...vai ser não — bufo. Ele faz um biquinho pensativo — hum...que foi?

Me olha fixamente e balança a cabeça em negação.

— eu fui grosseiro com ela, será um dos motivos que ela não quer voltar aqui? — Franzo o nariz.

— e por que foi? — ele suspira.

— ela vai levar você embora da gente, não quero isso. Eu gostei dela, mas achava que era melhor sem ela, porque assim você não nos abandonaria — escuto com atenção — mas você está mal sem ela, não quero mais isso. Ela é o amor da sua vida? — sorri de canto com a pergunta — está vendo, você nem sorria antes, bom...algumas vezes, mas bem poucas. Ela é né?

— você é um amor da minha vida, seu pestinha curioso — bagunçou seus cabelos e faço cócegas — desde quando está dando um de psicólogo, em? — questiono.

— desde que mamãe é desequilibrada da cabeça, ou seja, sempre — inclino a cabeça em " faz sentido" — inclusive, terminei minha lição! — me recordo que passei umas questões, para ele praticar matemática — isso tem meia hora! — rosna e arqueio a sobrancelha. Estava distraído, nem reparei.

— não me avisou por quê? — ele dá de ombros.

— você me parecia pensativo demais, sem contar que não costuma ficar distraído por muito tempo, nem escutou eu falando também — seu olhar cai triste.

— desculpa, o que disse? — me olha e nega. Suspiro já sabendo do que se trataria, mesmo sem ouvir — claro que vou, ou não quer que seja eu? — questiono. Está chegando o dia da família na escolinha dele, e todos os pais vão, mas ele não tem um biológico, sei que é essa sua chateação.

— mas eu não sou seu filho de verdade, não é sua obrigação — diz.

— não fui eu quem fiz, mas eu quem crio, não mereço meus créditos?  — me olha com um sorriso levado e nega, separo meus lábios em indignação — awn, essa doeu! — finjo tristeza sacudindo seu corpo, ele me abraça rindo.

— tio Hayden, por que vocês não falam muito sobre meu papai? Ele era ruim ou magoou a mamãe? — olho em seus olhinhos azuis e as lembranças de tudo que já me ocorreu em sua idade, me atingem em cheio — pode dizer.

Sorri forçado.

— não, meu amor, só não gostamos de falar sobre quem já se foi, ele precisa descansar lá no céu. Mas saiba que ele te amava muito, tipo muito, muito! — acaricio suas bochechas, ele sorri.

As palavras esfaqueiam meu peito, é uma mentira, mas ele não precisa saber disso.

— As? — ergo seu queixo o fazendo me olhar — não se esqueça de que pai é quem cria, eu sempre estarei com você!

— Eu sei, e mesmo que eu queira ter conhecido o meu papai bichologico — acho uma gracinha, ele não consegue falar biológico — gosto que você seja o meu papai! — me dá um beijo na bochecha e desce de meu colo — você é meu vilão favorito, sabia? — Arqueio a sobrancelha.

— vilão? — questiono.

— sim, os heróis são sem graça — sorri de canto, olhando o pequeno garoto se abaixar e pegar o caderno de matemática para me entregar, analiso as grandes contas — ela vai voltar, fica triste não! — ergo meu olhar para ele. Assim espero.

Silênt nigthOnde histórias criam vida. Descubra agora