67

138 22 1
                                    


Dou um passo para trás atordoada, sentindo meus lábios até inchados com o beijo quente e que com certeza não deveria ter acontecido. Coro diante seu olhar, me espraguejando por isso, aperto as mãos em punhos e fecho os olhos contendo a raiva.

— você não deveria ter feito...— ele me interrompe com outro beijo, arregalo os olhos empurrando seu peito — Hayden, você não...— me cala novamente, paro de falar irritada.

— diz, o que eu não posso? — beija meu pescoço com seu sorrisinho sínico.

— eu quero socar você! — digo me afastando e sentando-me, cruzo os braços em revolta, e ele senta-se também  — já disse que não rola mais nada, então pare com isso!

— você retribui e depois vem brigar? Que sacanagem raio de Sol, você está brava, mas não dá para negar que ama meus beijos — arquei a sobrancelha olhando para a cidade de cima.

— O seus? Não, da na mesma com qualquer outro, inclusive seu amigo me beijou — digo o que provavelmente ele já sabe — será que Spenser também quer? Aí já fecho o trio.

— que baixa! — dou de ombros — gostou do beijo dele?

— É, talvez — digo, de fato ele beija bem, mas não deu para uma avaliação muito profunda, eu o empurrei rápido demais — inclusive ele beijou sua irmã, o que acha disso? — ele relaxa sob o assento — uuh, você já sabia claramente, por que eles brigam tanto?

— Kaiky é meu amigo desde que me entendo por gente, assim como Spenser, me lembro de nós com dois anos de idade, animados com a notícia de que minha irmã viria para casa, mal sabíamos o que significava, só achávamos que seria tipo mais uma amiga para brincar — escuto com atenção — mas quando Sam chegou eu me encantei, meu bebê, aqueles olhinhos azuis é uma gracinha, mas com Kai foi diferente.

— diferente como? — questiono curiosa.

— ele literalmente paralisou quando pegou ela no colo, com apenas três dias de vida. O seu instinto protetor começou primeiro até mesmo do que o meu, quis pegá-la no colo novamente, ficar com minha irmã, mas ele não deixou, nem mesmo meu pai, disse que quem a tirasse dele morreria. Poderia ser apenas uma criança dizendo, mas ao decorrer do tempo seu olhar foi mudando e a proteção aumentando, como um cão pronto para atacar a qualquer momento — ele sorri de canto — não foi só por mim que meu tio nunca tocou nela, Kai conseguia impor o medo que nunca consegui colocar nele, sabia que a maior cobrança se fizesse não era minha, sim dele e acredite, Kaiky é muito mais do que um bad boy e drogado, ele é bem...cruel, quando quer.

Caramba...isso é um choque.

— como ela nunca reparou isso?

— ela não se lembra. Kai sempre foi seu favorito, quando chegávamos da escola ela corria para os seus braços, não os meus, amava vê-lo jogar e enquanto crescia mal respirava toda vez que ele entrava no cômodo. Porém, ele sabia que era fodido demais mentalmente para ela, as merdas que ele faz não podem envolvê-la.

— mas ele não tem nenhum problema — ele dá um olhar sem humor, desvia seus olhos para o amigo do outro lado, abraçando sua irmã e suspira — o que houve?

— sabe por que ele é o que eu mais me identifico, Quira? — nego entretida no sorriso do garoto louro e que acaricia os cabelos de Sam — ele não é como Spenser que apenas imagina a dor, Kaiky sabe como ela é, a nossa foi sexual, a dele foi física e psicológica, ele também teve seu inferno particular. Só me tornei médico por ele, odiava vê-lo machucado e não saber ajudar, sempre uma marca diferente, ele dizia que caia, mas adivinha Quira, eu também caia muito na infância — a sua angústia é transparente.

Silênt nigthOnde histórias criam vida. Descubra agora