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Hayden Grayford.
Segurando em sua mão vejo o quanto fui idiota, arrisquei sua vida e a que gerava por egoísmo. Saber que quase perdi minha âncora me deixa aéreo, flutuando pelos grandes mares da saudade e da dúvida, sem rumo algum, me encontrando em completo pranto, chegando à loucura total. A loucura é como a gravidade, te pressionando para baixo. Eu me encontro à beira do precipício do desespero, sentindo a culpa me apedrejar de forma lenta, matando minha alma aos poucos, estilhaçando meu coração e dominando minha mente.
A proteção que eu deveria ter dado a elas me atormenta, me lembrando o quanto falhei. Eu perdi meu bebê, quase minha mulher e minha própria vida, e tudo isso por culpa minha. É angustiante saber disso, me sufoca como um grande nó na garganta e um eterno fardo a carregar.
Analiso minha pequena garota deitada, com a respiração lenta e os batimentos estáveis. Tem dois dias que tudo aconteceu e ela mesmo assim não reage, não é um coma, sim os efeitos colaterais dos remédios, ela está sedada. Pela manhã ela passou por uma cirurgia de reconstrução das costelas, já que a bala estourou tudo, mesmo assim, já era para ela ter acordado há uma hora.
Ergo a coberta vendo a cinta cirúrgica que colocaram nela dentro do bloco, em processo padrão. Acaricio em quase toque insistente sua barriga, ainda podendo sentir a vida crescendo em seu útero. Meus olhos embaçam, cerro o maxilar piscando e encaro seu rosto delicado, me lembrando perfeitamente da primeira vez que a vi dormir, igual agora.
— Está gostando de dormir, meu amor? — estico meu braço, sendo parado pelo tubo que liga diretamente em minha veia, soro e remédios — essa droga me irrita, bem melhor colocar nos outros do que em mim — resmungo tirando, pouco me importo se não está na hora certa. Bufo me escorando na sua cama, sentado ao seu lado — você consegue ser linda até assim, sabia? Muito! — acaricio seus cabelos, deslizando os dedos por sua bochecha — você tem que acordar meu amor, preciso saber se realmente ficará bem, não seja tão dorminhoca vai — murmuro.
Suspiro com a pequena dor e sono, me entupiram de remédios, mal dá para sentir. Suspiro deitando a cabeça no canto de sua cama, sentindo uma fisgada no peito, uma dor tremenda, mas não fisica.
— era você aquela hora? — faço a coisa que julgava ser tola, conversar com sua barriga — você era aquela criança, a minha criança? Você não pode ter partido princesa, eu nem te dei um abraço, eu não pude te abraçar, filha — a lágrima escorre por meu rosto, me lembrando da sensação de passar a mão em sua barriga e saber que havia alguém ali — você seria minha menininha, a princesa do papai e ninguém te machucaria igual me machucaram, eu nunca seria um pai igual o meu...eu juro meu amor, papai nunca te tocaria sem sua permissão ou te faria chorar, eu só queria você, volta para nós, por favor — suplico, acariciando sua barriga de forma delicada.
Eu sinto saudades de algo que nem vivi, me rendendo à algo que poderia viver.
Asafe finalmente poderia ter uma irmã, cuidar dela igual eu cuidei das minhas, ter com que brincadeira e abraçar, mas por culpa minha ele nem sequer saberá que teve uma.Batidas na porta me fazem assustar, me ergo rapidamente, secando as lágrimas e endireito a postura, pigarreando.
— entre! — permito. A enfermeira de cabelos afro e olhar gentil entra com uma nova bolsa de soro, cruzo os braços e ela cerra os olhos olhando para o meu suspensor de soro, mas não diz nada sobre, enfim alguém descente para não me encher o saco.
— vim apenas trocar, não precisa se incomodar — assinto — como vai os pontos, doem? — nego, mesmo que um pouco, mas sei o quanto é normal e que daqui para frente é só para trás sem o soro e os remédios. Ela faz sinal de ok e troca o soro de Quira tranquilamente, após isso, tira uma seringa e um pequeno pote que reconheço.
— Não, poderia diminuir o sedativo? Ela não irá acordar de jeito algum assim — ela me olha em processamento e então sorri, assentindo. Me pergunto qual a graça.
— Claro. Desculpe, é realmente incomum hosperdamos médicos de alta reputação aqui — a olho em tudo bem — se prefere desta forma, ok. Com sua licença! — assinto e ela procede, indo para fora do quarto, mas ela para e me olha novamente, de forma mansa — sinto muito por seu filho, é uma triste perda! — cerro o maxilar, engolindo a tristeza que me sufoca.
— Obrigado! — ela assente e sai, fechando a porta. Bufo, inclinando a cabeça para trás — sim, é uma triste perda! — olho para Quira, me levanto para ir fumar um cigarro, mordo os lábios em dor, dou um passo à frente, mas meu braço fica. Olho para a mão de Quira, apertando à minha, analiso seu rosto, ela ainda está dormindo? Seus olhos se mexem, ainda fechados e me aproximo novamente.
— Hayden? — seu sussurro soa quase inaudível, me sento segurando sua mão.
— estou aqui, meu amor! — sussurro, para não assustá-la. Seus olhos se abrem, sonolentos e perdidos, encarando o teto alguns segundos. Ela olha ao redor, até parar em mim e me fitar seriamente, em raciocínio. Acaricio seus cabelos e ela me dá um sorriso meigo — bom dia, dorminhoca.
— bom dia...— ela tosse e um gemido de dor lhe escapa, aperto sua mão e ela suspira fundo — como você está, meu amor? Onde pegou? — analisa meu corpo, mas devido as roupas não identifica.
— não importa, princesa. Estou bem! — beijo o topo de sua testa.
— ah...ok — diz meio perdida ainda — minha insulina, eu tomei? Acho que tô precisando...pode tomar grávida? — questiona, levando a barriga. Cerro o maxilar, encarando o chão — Liz e Spenser estão bem, amor?
— Liz está em coma desde o dia, a bala que pegou em você, foi amortecida por ela — digo e seu olhar se torna preocupado.
— meu Deus.
— Ela está estável por enquanto, mas não sabemos até quanto. Spenser está com ela...mas não sabemos se ela passa da noite, ele só não precisa saber — seus olhos se enchem.
— eu quero ver ela, me leva? — acaricio sua mão e nego.
— agora não, meu amor, você tem que descansar. Deixe ele sofrer pelo luto dele primeiro, depois vamos.
— luto? Ela ainda não morreu, não é? — minha garganta seca, sabendo que não dá para adiar o inadiável.
— Quira, a Liz estava grávida! — suas pupilas dilatam, começando a entender.
— estava, no passado? — olha para sua barriga também.
— sim, estava — ela pisca em lágrimas.
— eles perderam seu filhinho, igual a nós? — meus olhos se enchem e ela me olha, escorrendo lágrimas.
— igual a nós! — falo e ela desaba em lágrimas — nosso filho também morreu, amor.
— meu filho não...meu Deus, meu filho não! — seu desespero me sufoca — meu filho, mataram meu filho, meu único filho — soluça.
Naquele momento eu entendi, a dor de uma mãe é ainda pior em perder seu filho. Depois disso, nada será igual.
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Silênt nigth
Mistério / SuspenseAquira Garden não planejava viver sua vida como um eterno segredo, mas foi inevitável. Aquela noite tudo mudou bruscamente, não somente sua vida diária, mas seu ponto de vista também. Se existir mesmo anjo da guarda com certeza é ele, mas suas armad...