107

51 16 10
                                    

Vote e comente 🫶

**********

Hayden Grayford.

Segurando em sua mão vejo o quanto fui idiota, arrisquei sua vida e a que gerava por egoísmo. Saber que quase perdi minha âncora me deixa aéreo, flutuando pelos grandes mares da saudade e da dúvida, sem rumo algum, me encontrando em completo pranto, chegando à loucura total. A loucura é como a gravidade, te pressionando para baixo. Eu me encontro à beira do precipício do desespero, sentindo a culpa me apedrejar de forma lenta, matando minha alma aos poucos, estilhaçando meu coração e dominando minha mente.

A proteção que eu deveria ter dado a elas me atormenta, me lembrando o quanto falhei. Eu perdi meu bebê, quase minha mulher e minha própria vida, e tudo isso por culpa minha. É angustiante saber disso, me sufoca como um grande nó na garganta e um eterno fardo a carregar.

Analiso minha pequena garota deitada, com a respiração lenta e os batimentos estáveis. Tem dois dias que tudo aconteceu e ela mesmo assim não reage, não é um coma, sim os efeitos colaterais dos remédios, ela está sedada. Pela manhã ela passou por uma cirurgia de reconstrução das costelas, já que a bala estourou tudo, mesmo assim, já era para ela ter acordado há uma hora.

Ergo a coberta vendo a cinta cirúrgica que colocaram nela dentro do bloco, em processo padrão. Acaricio em quase toque insistente sua barriga, ainda podendo sentir a vida crescendo em seu útero. Meus olhos embaçam, cerro o maxilar piscando e encaro seu rosto delicado, me lembrando perfeitamente da primeira vez que a vi dormir, igual agora.

— Está gostando de dormir, meu amor? — estico meu braço, sendo parado pelo tubo que liga diretamente em minha veia, soro e remédios — essa droga me irrita, bem melhor colocar nos outros do que em mim — resmungo tirando, pouco me importo se não está na hora certa. Bufo me escorando na sua cama, sentado ao seu lado — você consegue ser linda até assim, sabia? Muito! — acaricio seus cabelos, deslizando os dedos por sua bochecha — você tem que acordar meu amor, preciso saber se realmente ficará bem, não seja tão dorminhoca vai — murmuro.

Suspiro com a pequena dor e sono, me entupiram de remédios, mal dá para sentir. Suspiro deitando a cabeça no canto de sua cama, sentindo uma fisgada no peito, uma dor tremenda, mas não fisica.

— era você aquela hora? — faço a coisa que julgava ser tola, conversar com sua barriga — você era aquela criança, a minha criança? Você não pode ter partido princesa, eu nem te dei um abraço, eu não pude te abraçar, filha — a lágrima escorre por meu rosto, me lembrando da sensação de passar a mão em sua barriga e saber que havia alguém ali — você seria minha menininha, a princesa do papai e ninguém te machucaria igual me machucaram, eu nunca seria um pai igual o meu...eu juro meu amor, papai nunca te tocaria sem sua permissão ou te faria chorar, eu só queria você, volta para nós, por favor — suplico, acariciando sua barriga de forma delicada.

Eu sinto saudades de algo que nem vivi, me rendendo à algo que poderia viver.
Asafe finalmente poderia ter uma irmã, cuidar dela igual eu cuidei das minhas, ter com que brincadeira e abraçar, mas por culpa minha ele nem sequer saberá que teve uma.

Batidas na porta me fazem assustar, me ergo rapidamente, secando as lágrimas e endireito a postura, pigarreando.

— entre! — permito. A enfermeira de cabelos afro e olhar gentil entra com uma nova bolsa de soro, cruzo os braços e ela cerra os olhos olhando para o meu suspensor de soro, mas não diz nada sobre, enfim alguém descente para não me encher o saco.

— vim apenas trocar, não precisa se incomodar — assinto — como vai os pontos, doem? — nego, mesmo que um pouco, mas sei o quanto é normal e que daqui para frente é só para trás sem o soro e os remédios. Ela faz sinal de ok e troca o soro de Quira tranquilamente, após isso, tira uma seringa e um pequeno pote que reconheço.

— Não, poderia diminuir o sedativo? Ela não irá acordar de jeito algum assim — ela me olha em processamento e então sorri, assentindo. Me pergunto qual a graça.

— Claro. Desculpe, é realmente incomum hosperdamos médicos de alta reputação aqui — a olho em tudo bem — se prefere desta forma, ok. Com sua licença! — assinto e ela procede, indo para fora do quarto, mas ela para e me olha novamente, de forma mansa — sinto muito por seu filho, é uma triste perda! — cerro o maxilar, engolindo a tristeza que me sufoca.

— Obrigado! — ela assente e sai, fechando a porta. Bufo, inclinando a cabeça para trás — sim, é uma triste perda! — olho para Quira, me levanto para ir fumar um cigarro, mordo os lábios em dor, dou um passo à frente, mas meu braço fica. Olho para a mão de Quira, apertando à minha, analiso seu rosto, ela ainda está dormindo? Seus olhos se mexem, ainda fechados e me aproximo novamente.

— Hayden? — seu sussurro soa quase inaudível, me sento segurando sua mão.

— estou aqui, meu amor! — sussurro, para não assustá-la. Seus olhos se abrem, sonolentos e perdidos, encarando o teto alguns segundos. Ela olha ao redor, até parar em mim e me fitar seriamente, em raciocínio. Acaricio seus cabelos e ela me dá um sorriso meigo — bom dia, dorminhoca.

— bom dia...— ela tosse e um gemido de dor lhe escapa, aperto sua mão e ela suspira fundo — como você está, meu amor? Onde pegou? — analisa meu corpo, mas devido as roupas não identifica.

— não importa, princesa. Estou bem! — beijo o topo de sua testa.

— ah...ok — diz meio perdida ainda — minha insulina, eu tomei? Acho que tô precisando...pode tomar grávida? — questiona, levando a barriga. Cerro o maxilar, encarando o chão — Liz e Spenser estão bem, amor?

— Liz está em coma desde o dia, a bala que pegou em você, foi amortecida por ela — digo e seu olhar se torna preocupado.

— meu Deus.

— Ela está estável por enquanto, mas não sabemos até quanto. Spenser está com ela...mas não sabemos se ela passa da noite, ele só não precisa saber — seus olhos se enchem.

— eu quero ver ela, me leva? — acaricio sua mão e nego.

— agora não, meu amor, você tem que descansar. Deixe ele sofrer pelo luto dele primeiro, depois vamos.

— luto? Ela ainda não morreu, não é? — minha garganta seca, sabendo que não dá para adiar o inadiável.

— Quira, a Liz estava grávida! — suas pupilas dilatam, começando a entender.

— estava, no passado? — olha para sua barriga também.

— sim, estava — ela pisca em lágrimas.

— eles perderam seu filhinho, igual a nós? — meus olhos se enchem e ela me olha, escorrendo lágrimas.

— igual a nós! — falo e ela desaba em lágrimas — nosso filho também morreu, amor.

— meu filho não...meu Deus, meu filho não! — seu desespero me sufoca — meu filho, mataram meu filho, meu único filho — soluça.

Naquele momento eu entendi, a dor de uma mãe é ainda pior em perder seu filho. Depois disso, nada será igual.

**********

Estão gostando?

Não esqueça de deixar seu voto!!

Silênt nigthOnde histórias criam vida. Descubra agora