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Zil me olha fixamente e ambos baixamos o olhar, sabendo que não tinha viagem para o Canadá e nem chocolate quente enquanto neva.

Tudo permanece quieto, menos Az que chora sem parar, nós nem falamos nada por segundos, apenas diluindo a ideia do quão ferrados estamos.

— acharam que poderiam simplesmente fugir de mim, crianças? Vocês acharam que poderiam me deixar? — grita apertando a faca em seu pescoço, quebrando o silêncio e eu me apavoro, ele não pode machucá-la.

— pai, para...— minha irmã choraminga.

— eu estou muito desapontado com vocês — balança a cabeça bravo. Não... não pode acabar assim.

— Hayden...— Zilper me chama em um sussurro — foge! — ordena e eu olho-a fixamente. Nunca, não sem ela.

Uma risada melancólica.

— ele não vai deixar você, o seu irmãozinho é bruto só por fora, no fundo ele nunca faria as mesmas coisas que todos fazem com ele, abandonar — cerro o maxilar.

— tem razão, é isso é sexy, não é? — cuspo as palavras, sentindo um nó em minha garganta — não vai ficar bem se eu fugir, só ela não vai te satisfazer, você gosta de mim, o filho homem, né papai — pronuncio com tamanho nojo às palavras, vendo em seus olhos à satisfação em ouvir. Engulo o nó em minha garganta — solta ela, ou eu saio por essa porta e nunca mais volto. Eu, não ela. Deixe eles irem embora e fique comigo — faço a proposta.

— não, Hayden, você não pode...

— cala à boca — pressiona a faca em seu pescoço, ela cala-se chorando silenciosamente. Seus olhos nojentos se fixam em mim e nela, pensando em qual é pior perder — você não vai conseguir ir embora sabendo que seu sobrinho vai morrer — diz com deboche, trocando a faca de lugar, apontando para Az.

— não, eu imploro, por favor...

— já disse para calar a boca! — chuta-a derrubando no chão. Meu coração acelera, mas me mantenho frio, apenas me virando e saindo, andando para fora. Vai, vamos lá desgraçado...— espera! — sorri de canto, mas fecho o semblante e me viro. Apenas olhando-o com indiferença — eu aceito, deixo sua irmãzinha ir, mas você fica comigo, meu amor. Vem no papai, vem — solta-a e abre os braços vindo até mim, me abraçando. Sinto o nojo transbordar, mas fico imóvel, olhando para minha irmã com o pequeno As no colo, ela engole o choro, inclinando a cabeça, entrando em confusão, tentando me entender pelo olhar, mas ela é minha gêmea, ela não precisou de muito para que se levante e obedeça meu comando para ir embora. Ela sai pela porta fechando-a e cerro o maxilar — caramba, ela nem pensou duas vezes — debocha e eu olho-o fixamente, permitindo-me dar o que ele mais admira em mim. Um sorriso cruel.

— mas ela me deixou um presentinho de despedida — balanço a faca que ele jogou no chão e Zil me entregou ao passar do meu lado para ir embora. Ela não precisa ver isso. Seus olhos se arregalaram, mas sem tempo de reação eu esfaqueio seu estômago jogando-o no chão.

— desgraçado...— tosse sangue e eu rodo a faca em sua barriga, ouvindo seu grito de dor. Esfaqueio não uma, não duas, mas várias e várias vezes seu corpo. Seu sangue esguicha sobre mim, mas não é o suficiente para me parar. As lembranças dele me estrupando, revivem mais frescas do que nunca em minha memória, motivando meu ódio.

•••

Sem forças, caio sentado ao seu lado, abraçando meus joelhos chorando, sentindo um maldito alívio imensurável. Me odiando por sentir tanto prazer em esfaquear tantas vezes a mesma pessoa. Não, ele era um monstro...assim como eu.

Soluço sem acreditar que tudo acabou, finalmente acabou as malditas visitas ao nosso quarto. As lágrimas são inevitáveis, descem rasgando como se queimassem meus olhos.

Silênt nigthOnde histórias criam vida. Descubra agora