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— o que quer de mim mestre? Achei que quando fosse embora o combinado era nunca mais se ver. Deixou isso bem claro quando sumiu sem nem me dar um tchau ou falar nada.

— te deixei um bilhete e...um presente — ela ri incrédula. Ela não gostou?

— vá se foder — esbraveja.

— eu te libertei do que lhe atormentava, estamos livres agora — falo seriamente.

— não, você me abandonou sem nem dar tchau, disse que cuidaria de mim e a demonstração foi matando meu pai — rosna e eu abaixo meu olhar para o lago.

— qual é, você tem que entender meu lado raio de sol — suspiro dando uma tragada.

— pare de me chamar assim.

— claro, qual seu nome? — rosno revoltado, ela é minha e a chamo como quiser.

Deito-me para trás, arremessando as pequenas pedras para cima, cerrando os olhos ao ver um ninho de maribondos. Arremesso as pedras nele, mas está muito alto, não acertaria.

— por que foi embora sem me dizer nada? — pergunta agora fingindo calma e eu suspiro fundo pensando.

— treze anos princesa, você tinha treze anos. Se iludir pelo primeiro homem que achar ser um príncipe encantado é normal. Mas se eu lhe levasse comigo e você percebesse tarde demais, que era só uma ilusão e o monstro que sou, sua vida acabaria. Sem contar que eu iria te desejar como uma mulher, você era só uma criança — as palavras saem de minha boca como espinhos, que raspavam minha garganta. Eu jamais faria isso com ela, não assim como já fizeram conosco.

— entendi, confesso já saber isso, mas preferia ouvir de sua boca, obrigado por não me decepcionar — arremesso mais uma pedra. Ouvir ela dizer isso não me deixa menos mal — pois então, médico? — questiona tranquilamente, mudando o assunto. Eu fico contente por ela se lembrar.

— sim! — falo com certo orgulho em dizer isso.

— Ual, posso dizer que não estou surpresa, sabia que você conseguiria, é impressionante ter um diploma em medicina com...22 né?! — assinto, mesmo sabendo que ela não pode me ver.

— e você? — questiono e ela ri sem humor.

— nem vamos entrar nesse assunto, viu minha revolta, não tenho um cérebro exemplar e nem família rica, sinto decepcionar — pigarreia.

— caramba, está tão ruim assim? — brinco — me diz que não começou a fazer direito dizendo que vai fazer a justiça injusta ficar justa, ou pior, filosofia. Aí diz que  quer descobrir a essência do mundo e a frustração de não conseguir, lhe faz virar maconheira. Você já fuma.

— nossa, você me definiu total — arquei a sombrancelha — esqueceu algo?

— tem a frase no link da Bio do Instagram escrito: a vida é bela, sempre para frente, nunca para trás — cuspo as palavras mais horrorosas que já li uma vez — sem esquecer o emoji da planta verde.

— que tristeza, prefiro aquelas como: pense no nosso futuro se essa pedra acertar e esse troço cair na gente — diz pomposa — sem esquecer o emoji da caveira.

— vai não, relaxa....— acerto uma pedra sem querer e o casulo enorme dá uma estremecida.

— " vai não relaxa" — debocha com uma vozinha irritante — eita porra — diz tão preocupada quanto eu de que caia.

Mas apenas balança.

— eu nem sei nadar, se caísse eu ia tomar no cú legal, seu vacilão. Tem um Qi tão grande, mas não usa. Você faz o que com isso em? Divide um pouco para cada dia do mês? — esbraveja.

Silênt nigthOnde histórias criam vida. Descubra agora