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A rua está vazia e escura, está tarde, não à ninguém. Bom, foi o que pensamos. Ao longe da extensa rua, vejo o giroflex da viatura de ronda noturna de segurança. Hayden também viu, ele acelera os passos, carregando o corpo — Merda, Merda — ouço seu resmungo baixo, ele vira a esquina quase correndo e eu sorri de canto me afundando nas sombras das árvores, para não ser vista também. Tic tac, maninho.

Observo-o ir até um lote vazio com a grama alta, o som do carro se aproximando é cada vez mais perto, mas essa merda está em velocidade de uma tartaruga. — vamos meus filhos, peguem-o — a polícia cruza a esquina e ele se joga dentro do mato, tendo a certeza de que foi visto quando eles param um pouco à distância. Issooooo!

Não contenho uma risada.

Escalo um muro com dificuldade, os observando por cima, consigo ver Hayden atravessar o matagal, puxando meu pai feito lixo e meu ódio se ramifica, mas me mantenho calma.

Ele será pego em flagrante, isso o leva para cadeia e lá dentro eu dou um jeito de matá-lo, basta somente oferecer uns trocados para os presos ou uma forma de levar maconha lá para dentro, eles estão desesperados, não recusam esse tipo de coisa. Bom, ao menos espero que não.

O observo carregar o corpo matagal à fora, tentando ser o mais rápido possível, movo meus olhos para a polícia que entra também. Cantarolo, à espera da sua prisão, mas confesso que queria uma pipoca, isso está melhor do que filme.

Hayden acelera seus passos, mas para, vendo um grande muro, suponho que uns 3 metros de altura, com cerca elétrica e tudo mais, deixando bem claro que não há como pular, principalmente com um cadáver. Fim de linha, irmão.

Apenas aguardo, vendo seu desespero de longe. Calma, ainda nem será a pior coisa que irá lhe acontecer, meu bem.

Ele olha para todos os lados, vendo apenas uma porta, mas sei estar trancada, suspiro impaciente. Porra que demora em policiais, puta merda...

Meus pensamentos cessam ao ver a porta se abrir perto de Hayden, cerro os olhos vendo uma menina de cabelos pretos e roupas largas esgueirar-se na porta. Ela parece ter minha idade, talvez somente uma criança curiosa. Fecha essa porta sua tonta, o cara está com um corpo e a polícia vindo. Você é burra ou quer um doce?

A menina apenas fica alí, observando.

Hayden se abaixa, em esperança de que eles sejam burros o suficiente para que não lhe vejam escondido no escuro, mas claro, isso não irá acontecer.

Os passos são mais próximos, meu coração acelera as batidas, ansiosa e sabendo que ele está cada vez mais próximo de ser preso. Hayden ergue o olhar na direção exata da porta, engolindo em seco ao ver a menina o vigiando.

Dou uma leve risada, isso é estranho.

— não estou achando! — o policial grita. Povo burro. Ele fita o matagal aflito.

— vai mais ao fundo, sei que ele está aqui — intercalei o olhar entre a menina, o matagal e Hayden sem saber o que seria dos próximos segundos. Ela vai lhe entregar? Ou apenas fechar a porta e se esconder com medo? Vamos garota, faça algo.

Ela se movimenta e vejo seus lábios se curvar em uma pequena sílaba — psiu — em um sussurro chama-o e imediatamente ele olha para o lado.  Cerro os olhos em sua direção, ela fez um sinal com a mão, chamando-o para ir até ela. Arqueio a sobrancelha, como é amiga?

Ele a olha fixamente, pensativo se vai ou não, mas os policiais estão se aproximando, muito. Não vá, seu filho da puta. Ele assente, erguendo-se parcialmente, evitando ser visto e dá um passo em sua direção, mas congela, o corpo, ele não vai deixar a prova do crime alí, é só fazerem uma autópsia e pegar seu DNA, simples.

Silênt nigthOnde histórias criam vida. Descubra agora