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Aquira Garden.

Posso sentir a vida ainda crescendo em mim, como um efeito retardo, onde meu cérebro não admite que perdi a coisa que em menos de 24 horas de descoberta, já me fez uma mãe feliz. Eu nem sequer pude saber se era uma menina ou um menino, não pude saber se era mais a cara do pai como Asafe, se seria a minha cara ou uma mescla dos dois. Eu não pude dar um abraço no meu bebê, cantar músicas para ele dormir, nem ter o privilégio de ouvir sua voz.

Eu o perdi. Eu perdi o único filho que eu tinha, não há mais nada dentro de mim crescendo, não há o que esperar daqui nove meses.

— tudo certo! — a enfermeira que troca meu soro diz acariciando meu rosto, forço um sorriso e ela retribui saindo do quarto. Respiro fundo, sentindo a dor até nisso, parece que meu corpo foi quebrado por inteiro.

Olha para a janela de vidro, que permite-me ver a varanda do hospital, onde Hayden está escorado, olhando para o além, fumando sem parar. Ele está lá há uma hora, daquele mesmo jeito. Vi em seus olhos o quanto dói nele também, mesmo que ele não chore, ou sequer diga que está triste com isso. Ele está. Sua fuga foi para a varanda, me deixando ter o meu momento de sofrer sozinha, assim como creio que ele está tendo o dele.

Ele nem sequer tentou me consolar, sabendo que não adiantaria ou não tem essa capacidade, já que ele também precisa e eu não consigo ser o seu suporte no momento. Mesmo há poucos metros um do outro agora que sua cama foi transferida para o mesmo quarto, nunca nos vi tão distantes, está difícil saber o que será de nós daqui para frente. Tempo, nós precisamos de tempo.

Ouço batidas na porta e olho em sua direção, vendo largos sorrisos, balões e até mesmo flores parados.

— podemos entrar? — Meu irmão, pergunta.

— podendo ou não eu tô entrando! — Morgana entra com as flores, dou um sorriso contente em vê-los, esperando que sejam uma boa distração — trouxemos plantas para transformar esse quarto xoxo em uma floresta, uma vibe mais welcome to the mato, sabe? — me entrega os lírios brancos — meio irônico eu lhe trazer flores brancas, geralmente eu quem tiro sua paz — faz careta, me abraçando com cuidado — você está bem, sua vaca? Me deu o maior susto — pergunta.

— hum rum...— tento mentir, mas não consigo sustentar, caindo em lágrimas — eu...eu...— tento falar, mas nada sai.

— tudo bem, maninha. Não precisa explicar — meu irmão quem me abraça agora, o abraço apertado como em todas as vezes que eu chorava e ele me consolava.

— eu perdi meu filho, Rary, meu único filho — conto em forma de desabafo.

— aí meu Deus — Morgana murmura, em desespero, entendendo o que ocorreu.

— sinto muito! — Rary beija minha bochecha.

Toc, toc, toc.

— foi aqui que chamaram mais uma amiga preocupada? — ouço a voz de Sam. Vejo Kai ao seu lado, vindo até nós, Rary me solta e os outros dois me abraçam.

— oi Quira, como você está? — Kai.

— eu tô bem — digo entre lágrimas, seus olhares preocupados não passam despercebidos. Seco minhas lágrimas, forçando um sorriso — vou ficar!

Eles assentem, mesmo sabendo que será difícil.

— onde ele está? — Kai pergunta e eu olho para a varanda, onde Hayden já não está mais a vista. Ele assente, me dando um último abraço e vai atrás de Hayden, ver como o mesmo está.

— eu vou deixar Kai falar, ele será mais útil que eu — Sam dá um sorriso sem graça, meus olhos caem para sua barriga e ela se aproxima mais, me deixando tocar. Acaricio sua barriga, sentindo a alegrima escorrer e a vida crescer dentro dela — sinto muito pelo meu sobrinho, Quira. Não posso fazer nada infelizmente, mas saiba o quanto eu realmente sinto — recebo seu abraço.

Silênt nigthOnde histórias criam vida. Descubra agora