2- Você É Um Gênio.

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Olhei para ele e pensei: "Amo Ruivos".

O nome dele não me era estranho, apesar de, naquele momento, não significar muita coisa.

Estendi a mão e em inglês, como sempre, o cumprimentei.

Quando olhei direto para os olhos dele, não consegui saber se eram verdes ou azuis e aquele sorriso que ele tinha no canto da boca me fez sorrir também. Quando dei por mim, estava que nem uma idiota sacudindo a mão dele...

Ed se sentou ao lado de Stuart, que se sentou ao meu lado e do outro lado o Afonso.

- Júlia trouxe uma cópia do contrato que pode ser mudado, isso aqui é uma preliminar.

Stuart leu o contrato e não gostou muito da participação que o Espaço das Américas havia proposto nos produtos oficiais da marca com o nome de Ed.

- Mas os produtos são nossos. - Ele colocou o contrato sobre a  mesa e se recostou na cadeira - Não tem que haver participação de vocês nos nossos lucros.

- Mas o bar é nosso e os funcionários também, e ainda assim, vocês querem uma participação nos lucros dos copos que contém o nome do seu artista. - Argumentei com Stuart.

- As cervejas tem um preço muito menor do que os nossos produtos. - Stuart fazia cara de mau, mas eu lembrei de todas as vezes que pessoas más e coitadas tentaram me enganar no trabalho, precisava dar o meu melhor. Respirei fundo.

Olhei na tabela e um copo de cerveja custava vinte reais.

- Olha Senhor Camp, - me endireitei e olhei diretamente para o careca - Nós estamos em um país de terceiro mundo, onde ninguém compra mais que o necessário, e aqui com o preço de um copo de cerveja, nos mercados e coisas do tipo podemos comprar praticamente uma caixa fechada. Se for só pelo líquido, com o custo de uma cerveja aqui dentro, as pessoas compram sete vezes mais fora da casa. Não sei qual é o público alvo de vocês, mas esse valor é um absurdo, provavelmente as pessoas só comprarão a cerveja por causa do copo e isso teve um custo pra casa, repassaremos aos Senhores apenas os lucros, sem as despesas de copos personalizados do seu artista, se os Senhores não estão satisfeitos, venderemos a cerveja em copos comuns, o custo cai e os Senhores expõem nossos produtos fora das nossas dependências.

Stuart bateu na mesa, fechou os olhos e se levantou. Em seguida ele chamou o Ed para fora da sala. Afonso olhou pra mim enfurecido.

- Menina você está maluca? Isso não vai dar certo, vamos perder o cliente... Meu Deus, quero seu pai agora. - Afonso massageava as têmporas como se aquilo o ajudasse a  pensar.

- Calma Afonso, olha, aqui perto não tem como expor os produtos, eles vão concordar, vou oferecer para ele a mesma participação no lucro das bebidas, vai dar certo. - Eu pisquei.

- Tomara! Ainda não depositei seus honorários.

- Se eu não fechar esse contrato, nem precisa. - Eu disse rápido, me arrependendo logo  em seguida. O que eu acabei  de dizer? Trabalho de graça pra você se fizer merda?

Afonso sabia que eu precisava do dinheiro, do nome de boa "doutora", ele sabia que eu precisava fechar esse contrato, então sorriu.

- Combinado. Você fechando  esse contrato, você tem um nome cliente pessoal.

Stuart voltou com Ed e se sentou olhando pra mim muito mais enfurecido que Afonso, a situação não estava nada boa para o meu lado.

- E como ficaria isso? - Ele se rendeu, com  a expressão de desdem. 

Eu apenas olhei para o Afonso e sorri, meus olhos diziam: "Eu te  falei que ia dar certo!"

- Muitos fãs já devem ter os seus produtos mas o copo é exclusivo de quem vem no show, nosso lucro ainda é dividido com o arrendante do bar, então proponho a mesma cota de participação em ambos os negócios.

- Mas nossos produtos tem o preço bem maior. - Stu insistia.

- Porém o copo vai ter mais saída, por ser um produto exclusivo. - Eu faço um gesto de mãos e penso: "Eu sou um gênio". - Então, pode ser que os lucros sejam até maiores, as pessoas podem  levar mais de um, por exemplo. CD's e camisetas dificilmente terão compras repetidas.

Stuart olhou pro Ed, que parecia mais confuso do que com raiva, ele estava um pouco tímido desde da hora que entrou, não havia falado nada ainda. Ed, na verdade, parecia estar se segurando para não rir o tempo todo, especialmente quando eu olhava para ele.

- A garota te venceu Stu. Aceite. - Ed disse praticamente jogado na cadeira.

Algo naquela frase fez tudo  se transformar, porque uma fração de segundos depois, os dois começaram a rir sem parar, num típico ataque de riso. Afonso tirou sua melhor cara de "ué" e ficou apenas  observando os dois, sem entender nada. Stuart olhou pra mim:

- Negócio fechado! - Stuart revirou os olhos. Eu fiz um "joinha" para  o Afonso, meio escondido. Ele abriu o maior dos sorrisos.

- Boa escolha Senhor Camp - Eu disse sorrindo para o Afonso.

Contrato assinado. Ed faria um show no dia 28 de abril. Afonso me prometeu um bônus pelo bom desempenho.

- Você é boa nisso garota, te desejo sorte. - Stuart me cumprimentou com  um  forte aperto de mão, se despedindo.

- Você o venceu, parabéns! - Ed balançou a cabeça positivamente, com um  sorriso  amistoso.

Afonso estava radiante.

- Você é um gênio... Vou falar para o seu pai só mandar você agora. - Ele me abraçou quase me espremendo. 

Sai de lá me sentindo a funcionária do mês, nunca imaginei ganhar tanto para fazer um contrato, que era uma coisa que eu não via muita dificuldade, mas  que também não poderia ter nenhum furo. Sai da sala de reuniões pensando em tudo o que ia fazer com Ana e Catarina quando recebesse a grana. Pensei em aproveitar muito, passeios, necessidades a suprir. Fiquei pensando nos lugares que levaria elas e nem percebi quando passei pelo Ed.

- Hey Júlia?

Meu nome estava sempre pronunciado diferente, olhei por extinto mesmo porque parece que estava falando "Djulia", Ed se aproximou:

- Você sabe de um lugar para almoçar por aqui? - Os olhos por trás da franja ruiva me encarava.

- Sim, tem dois shoppings por perto. Aposto que lá você vai encontrar alguma coisa que goste. 

-Shopping? - Ele respirou - Eu não sei se devo ir a um shopping sem avisar, sozinho. Não tem um lugar mais tranquilo? Tipo um restaurante?

-Tem sim. Perto daqui. - Eu pensei por um instante - Hoje é quarta-feira, certeza que tem feijoada no cardápio, conhece?

- Não - Ele diz rindo - Que diabos seria isso?

- Esse diabos é a comida típica do país no qual você está pisando - Eu sorri temendo ter sido grossa demais e então respirei fundo - Você devia ir até lá. - Eu me virei para ir embora mas ele me chamou de novo.

- Pode me dar uma carona? - Ele pareceu não ter entendido o o que eu falei, porque ainda estava com uma cara de cachorro  que caiu da mudança.

- E por que você não vai sozinho? - Eu tinha que ir para o trabalho.

- Eu não tenho carro aqui e nem uma licença. - Ele disse como se fosse óbvio. 

- Quando você diz licença, quer dizer licença pra dirigir? Carteira de motorista? - Eu estreitei os olhos.

- Esperta - Ele disse piscando pra mim - Eu ia com Stu mas como você acabou com ele lá dentro, ele teve que resolver umas coisas e não vai dar tempo, se eu esperar ele, acho que vou morrer de fome, então...

- Tudo bem, me rendo. - Eu sorri, minha mente comparou ele a  uma criança - Eu te levo. Acho até que te devo essa.

Photograph - Memórias Vazias [Ed Sheeran] !REVISANDO!Onde histórias criam vida. Descubra agora