4 - O Retorno.

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Já haviam se passado alguns meses desde que eu tinha visto o Ed. Era dezembro e as coisas só haviam piorado, Ricardo, havia literalmente me trocado por outra após a morte da mãe dele... Eu fiz de tudo, era raro mas eu estava lá e agora eu parecia um rascunho mal escrito jogado no chão.

Quando cheguei no escritório, chequei e-mails e não pude deixar de dar uma olhada das redes sociais antes de começar o trabalho, então vi o Ri se declarando para a "escolhida". Uma lágrima caiu depressa na hora em que eu pisquei. Eu sempre achei esse tipo de lágrima a mais dolorida, aquela que sai do nada, sem que a gente queira, sem que a gente espere ou perceba.

Fechei o Facebook e fui ao banheiro limpar o rosto antes que alguém visse, meu pai já ia chegar e eu nem tinha olhado os e-mails.

Quando voltei e abri a caixa de e-mail, tinha um e-mail marcado como urgente do Afonso. A primeira coisa que pensei? Deu merda!

Resolvi abrir para conferir:

"Prezada Dra. Júlia, Bom Dia!

Os ingressos para o show do nosso contratante Ed Sheeran se esgotaram em aproximadamente 15 minutos.

Precisarei do seu serviço, pois estamos cogitando um show extra.

Att.

Afonso."

Meu Deus, quem é esse cara afinal? 10 mil ingressos em 15 minutos? Mas gente, ele deve cantar tipo muito bem, deve ter uma super banda, sei lá... fiquei sem entender nada.

"Prezado Afonso, conte comigo. É só marcar o dia."

A primeira coisa falei em voz alta foi:

- Tenho que pesquisar sobre esse Ed Sheeran.

- Ed Sheeran é meu trabalho? – Chegou meu pai já debochando.

- Mais ou menos – Respondi contando o feito do garoto – Então eu quero saber quem é esse cara né? Afinal ele almoçou comigo... Somos íntimos agora. - Não pude evitar de rir da minha piada sem sucesso.

Afonso respondeu na mesma hora:

"Segunda-feira ás 11h00, mesmo lugar."

...

Á caminho do Espaço das Américas me lembrei que acabei esquecendo de pesquisar sobre ele e que só tinha visto umas fotos e lembrei que em algumas delas ele parecia meio vesgo mas pessoalmente eu não tinha reparado nisso, comecei a rir sozinha no carro, mas também me lembrei que ainda não tinha conseguido definir se seus olhos eram azuis ou verdes, só sabia que o nome dele era Edward (igual ao cara do Crepúsculo) e que era dois anos mais novo que eu.

Chegando lá, fui levada para a mesma sala do outro dia. Corredor longo, sala em tom pastel, enfim. Até que Afonso entrou radiante, praticamente quebrando a porta.

- Precisamos de um show extra, basicamente o mesmo contrato, ele vai definir o dia e pronto. Esse garoto é um sucesso!

Ed entrou logo depois, tímido como sempre, me estendendo a mão:

- Sabia que eu ia ver você de novo.

Nós rimos e inesperadamente ele me cumprimentou com um beijo no rosto, assim como Afonso.

- Oi. - Ele ainda estava sorrindo.

- Oi. – não entendi porque eu fiquei sem graça – Bom, ao contrário de você, eu não sabia disso não, mas estou adorando porque eu ganhando uns 3 meses de salário com seus contratos.

Nos sentamos, e ele definiu que ao invés de descansar entre os shows de São Paulo e Rio de Janeiro, iria fazer o show extra nesse dia.

Então os shows seriam dias 28 e 29 em São Paulo e 30 de abril no Rio de Janeiro.

Uma moça baixa, magra e de óculos veio chamar o Afonso, que saiu apressado:

- Odeio deixar meus prodígios sozinhos, mas o dever me chama. Ed, boa sorte! E Ju, depois a gente se fala. – Afonso saiu da sala da mesma forma "louca" que entrou.

- Já almoçou? – Ed me perguntou sorrindo.

- Não – Eu me virei pra ele já rindo também – Isso é um convite?

- Se você aceitar, é. – Ele suspirou – Mas eu a fim de hambúrguer e nem me leve pra comer couve Srta. Saúde.

- Mc Donald's?

- Perfeito. - Ele sorriu satisfeito.

O Mc Donald's não eram muito longe dali, fomos de carro e eu desci para perguntar para os atendentes se nós poderíamos usar a sala de festa que eles sempre tinham. Mas ainda assim, como era tudo de vidro, ficava muito exposto.

- A gente poderia ir pelo drive thru... – Ed apontou a fila.

- Ótimo. Voltamos pro Espaço das Américas?

- A gente podia ir comer isso lá no hotel, é bem perto, eu acho.

- Pode ser. – Concordei porque não tinha mesmo nada pra fazer até á tarde.

Ele quase não falava nada no caminho, ficava olhando pela janela as pessoas, casas, comércios e perguntando várias coisas sem sentido, ele me lembrava minha filha Ana. Quando chegamos ao hotel, ele pegou um envelope na recepção e subimos. Nos sentamos no chão do quarto e colocamos todas as sacolas no chão.

- Você não acha que tem coisa demais?

- Não enquanto eu puder carregar...

Eu dei risada e balancei a cabeça, ele gostava mesmo de hambúrguer e fritas e eu também. Quando nos sentamos no chão do quarto, pude contar ao certo, tínhamos 6 sanduíches. Ele me contou um pouco do início da sua carreira, dos instrumentos que tocava, eram 6 se eu não me engano, dos shows, turnês, namoradas passadas e de sua atual namorada que era chefe de cozinha e lhe mimava com muitas sobremesas, das bebedeiras, amigos famosos...

Nossa! A conversa rendeu, e ele falou muito mais do que eu. Era muito bom conversar com alguém sobre nada, sobre tudo, sobre a vida...

- E você? Me diz qualquer coisa. Sobre você. A primeira coisa que vem na sua cabeça.

- Minhas filhas – Eu disse sem hesitar – Tenho duas filhas. Ana e Catarina.

- Sério? Não pode ser.

- Sim, sério – Peguei o celular e começei a mostrar fotos delas – Já fui casada, até o ano passado na verdade.

- Não parece. Você parece nova – Ele falava com a boca cheia depois de uma mordida no sanduíche.

- Ana nasceu eu tinha 20.

- Com 20 eu estava começando á cantar em lugares famosos, já tinha gravado os EP's...

A conversa fluía muito bem, quanto mais eu olhava aqueles cabelos ruivos milimetricamente desarrumados sob sua testa (às vezes caindo nos olhos) mais eu confiava nele, mais queria lhe contar as coisas, contaria todos os meus segredos, até os mais obscuros, pra ser sincera acho que lhe falaria até a cor da minha calcinha se ele pedisse.

- Já está tarde, preciso ir para pegar a Catarina na escola – Eu fui levantando e pegando minhas coisas.

Ele foi comigo até a porta.

- Obrigado por não me deixar morrer de fome – ele sorria como se isso fosse possível, como um cara que esgota 10 mil ingressos em 15 minutos poderia morrer de fome? – E antes que eu me esqueça, quero te ver de novo, no meu show. O primeiro ingresso do dia 29 é seu.

Eu peguei o ingresso das mãos dele e agradeci com um abraço. E diga-se de passagem: que abraço. Ele cheirava alguma coisa com notas de madeira e batata frita, talvez esse fosse meu cheiro preferido no mundo desse dia em diante.

- Até lá – Ele disse antes de fechar a porta.

Photograph - Memórias Vazias [Ed Sheeran] !REVISANDO!Onde histórias criam vida. Descubra agora