60 - All Too Well.

259 33 73
                                    

Júlia: Vou te passar minha conta bancária. Mando o boné pelo correio.

Ricardo: O correio não vem aqui. Você poderia me trazer? Seu dinheiro já está aqui também.

Merda, porquê diabos ele estava fazendo isso? Quando eu queria ver ele, ficar junto, ele não quis, para mim se ele me chamasse apenas para vê-lo dormir, eu iria. Mas agora, era tarde demais.

Júlia: Tudo bem, vou ver se posso ir hoje ou amanhã.

Peguei as crianças na aula e trabalhei até tarde para sair mais cedo no dia seguinte. Quando cheguei em casa, as meninas já haviam dormido, então eu tomei banho e deitei também.

Quarta-feira.

Levei as meninas à escola e fui trabalhar direto. Mais tarde, ao deixar as meninas em casa, expliquei para minha mãe que ía até a casa do Ricardo buscar o dinheiro pelo trabalho que fiz para ele, não falei que paguei a fiança dele com meu dinheiro, ela me mataria. Meu pai também me liberou, pois ele achava que se travava de assunto de trabalho. É era exatamente o que eu queria, era exatamente o que eu ia fazer lá.

Fui pela Rodovia Airton Senna,  passando pela Marginal Tietê e Marginal Pinheiros, virei na saída para a João Dias,  e segui pela Estrada de Itapecerica até a rua do CEU Feitiço da Vila, virei a primeira à direita e lá estava a casa dele.

Cheguei no final da tarde, levei o boné em uma sacola e estava disposta a ir embora logo. Assim que o chamei, Ricardo desceu e abriu o portão.

- Você veio! - Ricardo me abraçou com carinho - Vamos subir?

- Não, não precisa, eu estou com pressa - Não entendi esse modo carinhoso dele comigo - Eu só vim te entregar isso.

Ricardo tirou o boné da sacola.

- Nossa! Faz tempo. O seu dinheiro está lá em cima. Vem pegar?

Eu não queria entrar, mas nesse caso, eu fui. Ao entrar na casa dele, tudo continuava no mesmo lugar, mas ao invés da sensação de acolhimento das outras vezes, eu só sentia vontade de ir embora.

- Quer beber alguma coisa? Comprei Coca... Sei que você gosta.

Ele trouxe o refrigerante, já colocando no copo.

- Senta, deixa eu pegar uma coisa.

Ricardo voltou com uma lata de Pringles e uma barra de chocolate.

- Lembra da última que você veio? Me trouxe tanta besteira que eu fiquei uma semana comendo.

- Eu lembro - Eu sorri e as lembranças voltaram como um filme - Eu estava bem feliz aquele dia, apesar da sua mãe, eu estava aqui com você.

- Minhas tias te amaram. Perguntam de você até hoje.

- Eu também adorei elas. Queria ter conhecido sua mãe, ela teria sido minha amiga, tenho certeza.

- Uma pena, mas ela sabia de você, ela sempre soube que você era especial para mim.

Aquela conversa estava indo longe demais.

- Eu preciso ir embora.

- Tudo bem. Eu vou guardar essas coisas e já venho.

Me levantei e andei pela sala. A casa dele costumava parecer aconchegante, quando terminamos eu costumava me imaginar ali chorando no sofá dele, parecia a concha mais segura do mundo, mas agora tudo parecia frio e sem sentido.

Ricardo demorou um pouco e eu voltei a me sentar no mesmo lugar que ele me deixou, não queria correr o risco de andar pela casa e achar alguma coisa, fiquei pensando como toda a dor que eu já havia sentido não estava mais presente e me perguntei até que ponto Ed havia influenciado nisso.

- Voltei. - Ele sorriu - Lembra de tudo aqui?

- É... Está do mesmo jeito de quando eu vim.

Ricardo sentou-se no sofá, logo ao meu lado.

- Eu só queria te pedir desculpas, por tudo. Acho que nem nos meus melhores sonhos eu mereci alguém como você.

- Tudo bem. Já foi né?

- Eu fiquei mal em saber que você ainda sofre e eu queria que você soubesse que eu gosto muito de você, de verdade.

Eu assenti com a cabeça. Era engraçado como não doía mais como antes.

- Eu fui um babaca com você.

- É, você foi. Era uma obra de arte até você jogar fora. Você só precisava gostar de mim.

- Mas eu gostei e ainda gosto.

Eu sorri e balancei a cabeça, já tinha visto esse filme antes, com os mesmos atores, inclusive. Ele veio se aproximando de mim.

- Você não acredita?

- Não. - Eu olhei para ele, nos olhos - Eu deixei de acreditar em muita coisa.

Ricardo se aproximava cada vez mais de mim, colocou a mão no meu braço, a mão dele era maior do que eu me lembrava.

- Me perdoa.

Ele veio em minha direção, claramente olhando para minha boca, ele estava bem mais perto a cada respiração. Então ele sussurrou:

- Eu fui um idiota, devia ter te beijado aquele dia, eu queria tanto... E eu ainda quero beijar você.

Eu já sentia o hálito dele que cheirava a chocolate branco, o meu preferido. Ricardo chegou mais perto de mim, direcionando sua boca em direção à minha.

Photograph - Memórias Vazias [Ed Sheeran] !REVISANDO!Onde histórias criam vida. Descubra agora