9 - Um Abraço.

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Acompanhamos o Kevin e nos despedimos das pessoas. Quando entramos no carro, ele parecia uma criança contando os detalhes das conversas e de todas as pessoas que ele havia conhecido.

- É, você tinha razão, foi ótima essa festa. - Eu disse sorrindo.

- Que horas que eu falei isso? - Ele virou para a janela, não sabia se ele estava olhando as coisas lá fora como sempre ou estava bravo por alguma coisa.

- Ah! Então deve ter sido coisa minha. - Tentei quebrar o gelo. - Eu adorei a festa.

- A festa ou o Rafael? - Ele me pareceu um pouco debochado na hora que falou o nome do Rafael.

- Os dois! - Eu não pude evitar sorrir ao lembrar-me do Rafael, ele era aquele tipo de homem bonito e envolvente que parecia consertar tudo com o seu sorriso.

- Agora vai ficar aí, toda apaixonadinha. Credo.

Era o Ed mesmo falando isso?

- Olha quem fala... Aquele que sabe que uma mulher é para casar só porque te ofereceu tequila.

Ele olhou para mim, me lançou um olhar com "lasers" e se voltou, emburrado, para a janela do carro.

- Além do mais, - Eu não queria que ele ficasse bravo comigo, então tentei amenizar - Eu não me apaixono. Eu não tenho sorte com essas coisas.

- Ah sei. - Ele revirou os olhos e continuou olhando para a janela.

- Eu só me fodo nos meus relacionamentos. E depois desse último eu decidi: eu não vou me apaixonar nunca mais.

- Até conhecer o Rafael não é?

Ed se virou para a janela de novo. Não parecia querer papo, eu até pensei em falar alguma coisa, mas desisti assim que percebi Kevin rindo no banco do motorista. Ficamos o resto do caminho em silêncio. Eu senti que tinha estragado a única amizade que eu tinha até então, e fiquei ansiosa em sair do carro. Assim que chegamos á garagem eu comecei a procurar meu carro.

- Calma, Stu é um bom amigo, seu carro vai estar aqui.

- Eu espero que sim! Minha mãe já vai me matar pelo horário. - Sorri apreensiva.

Quando olhei para frente, lá estava meu carro, Graças a Deus! Kevin estacionou umas duas vagas á frente. Desci do carro antes que Kevin abrisse a porta.

- Bye Kevin! Thank you. Nice to meet you. - Eu o abracei.

Kevin sempre olhava para os lados, retribuiu e sorriu. Eu fui em direção ao meu carro e Ed me seguiu.

- Bom, eu acho que foi só. - Eu dei de ombros.

Ed sorriu tímido, igual das primeiras vezes em que nos vimos.

- É... Obrigado por ter me acompanhado. E desculpa, eu...

- De nada. - Eu interrompi - Na verdade você teria se saído bem sem mim.

Ele abaixou a cabeça e apenas olhou para o Kevin que foi em direção á porta. Ele seguiu Kevin com olhos.

- É meio complicado isso às vezes.

- Esquece. Você é um ótimo cantor sabia? Suas músicas são realmente lindas. - Talvez nós estivéssemos tentando pedir desculpas mútuas pela "briguinha" de antes.

- Obrigado. - Ele sorriu fazendo uma pequena reverência e então eu sorri também.

- Já está na minha hora! Minha mãe vai, tipo, ficar louca. - Suspirei - Certo, boa viagem, bom show para você amanhã.

Era impressão minha ou o sorriso dele havia se apagado?

- Obrigado. - Ele me abraçou sem que eu esperasse e falou próximo ao meu ouvido - Espero te ver novamente.

Não pude fazer outra coisa a não ser sorrir. Entrei no carro.

- Quem sabe! - Eu pisquei desejando que isso se tornasse realidade, espero que tenha sido uma piscadinha mesmo e não um ataque, tipo AVC ou qualquer outra coisa parecida.

Quando cheguei em casa, minha mãe estava bufando.

- Mãezinha desculpa, mas olha, a Sra. não vai acreditar no que aconteceu.

Mas como amansar a fera?

O jeito foi ouvir o sermão e deixar a explicação para outro dia.

Quando fui tomar banho percebi: o cheiro dele tinha ficado na minha roupa... Por alguns segundos até pensei em não tomar banho só para continuar com a lembrança daquele dia, daquele abraço tão carinhoso, tão aconchegante, eu tive certeza que era desse abraço que eu estava precisando para me recuperar.

Finalmente tomei banho e fui deitar com as meninas. Dormi pensando nele, claro e pela primeira vez desde 7 de outubro, eu não chorei para dormir.

No dia seguinte contei tudo para minha mãe, ela parecia não acreditar e ficava me fazendo repetir a mesma coisa, sempre falando:

- Agora me mostra a foto.

Realmente, nem eu mesma acreditava ás vezes, mas toda vez que eu escutava alguma música dele, pensava que um dia eu era como ele, que acha que o amor podia tudo, que estava acima de tudo, que tornava tudo mais bonito, que consertava as coisas, e então eu me lembrava do seu cabelo ruivo caído na testa, dos seus cílios clarinhos, olhos que eu ainda não decidira se eram verdes ou azuis, do seu sorriso tímido e eu só podia desejar que a vida fosse boa com ele, que ninguém nunca machucasse ele como fizeram comigo, que ele continuasse achando que o amor poderia remendar a alma das pessoas.

Ao pensar em tudo isso, me vi chorando novamente. Minha lágrima caiu em cima da nossa foto. Quando olhei para o celular vi a luzinha piscando no Whatsapp, um número que eu nunca tinha visto na minha vida, abri a mensagem e estava escrito:

Desconhecido: Hi, what's up?

Levei as mãos até a boca: "Falando comigo em inglês? Não pode ser."


Photograph - Memórias Vazias [Ed Sheeran] !REVISANDO!Onde histórias criam vida. Descubra agora