Capítulo 29

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Patricia saiu. Peguei a minha bolsa, meu celular, as chaves e saí. Encontrei-a arrumando a mesa e me dei conta de que era a última vez. Semana que vem, Sally estaria de volta e eu estava feliz por ela, pois só se afastara por causa de um problema de saúde. Sally era uma das melhores secretárias da empresa e eu tive a sorte de tê-la trabalhando para mim, mesmo que por pouco tempo. Eu continuei até o elevador e lá, apertei o botão para a garagem.

Antes de as portas se fecharem, vi Paty me dar uma piscadela e eu sorri. Olhei os números no painel decrescerem. No estacionamento, entrei no meu Land Rover Discovery, larguei a bolsa no banco ao lado e dei um suspiro de felicidade. Essa sexta-feira não poderia ser melhor. Finalmente Crystal decidiu vender o apartamento, o que ia me permitir nunca mais ter que olhá-la. O que ela me fizera no passado transformou o amor que eu sentia em nada. Eu não a odiava, nem nada. Era libertador. Saí e peguei o trajeto para o restaurante em que a megera se encontrava.

Claro que eu não estava feliz em ter que olhar naqueles olhos frios, calculistas, típico que ela tinha. Era como se não houvesse um coração ali e eu acho que até um robô deve ter mais sentimentos que ela. Eu não lembrava o motivo de ter me apaixonado por ela; apenas acho, hoje em dia, que ela deva fazer artes cênicas, pois ela foi boa atriz ao longo dos cinco anos de casamento. Ainda me pergunto como deixei que durasse tanto tempo, se não havia nada que me prendesse a ela.

Não demorei a chegar. Deixei a bolsa no carro e saí apenas com o celular. Dei o nome da minha ex e fui ao seu encontro, guiado pelo maître. Quase não havia pessoas por ali, no salão principal. Era um dos restaurantes mais caros e impecavelmente incríveis. Recebera as melhores críticas nos últimos vinte anos.

Crystal estava com os cabelos louros presos num coque formal, com uma incomparável e inconfundível postura de prepotência. Usava um vestido vermelho, acima dos joelhos e de saia levemente rodada. Não havia maquiagem em seu rosto, como nunca houvera, com exceção do dia do nosso casamento. Seus olhos castanhos realmente continuavam frios e a pele tão clara como sempre fora.

Ela limpou a boca delicadamente com um guardanapo, fina e se colocou de pé quando o maître puxou a cadeira para mim. Comia um muffin.

— Paul — Cumprimentou-me como se fosse o seu cliente.

— Crystal. — Fiz o mesmo.

A última coisa que eu queria era que ela pensasse que podia me intimidar, pois isso era coisa típica das mulheres de sua família, como eu vira no dia do noivado. Ainda cometi o erro de prosseguir... Puxei a cadeira para ela e esperei que sentasse e o fiz em seguida.

— Continua cavalheiro — disse, me analisando.

— Algumas coisas não mudam... — Dei de ombros, sem me importar.

— O advogado do comprador está a caminho — continuou. — Será cinquenta por cento do valor para cada um de nós.

Suspirei. Claro que eu estava ciente disso. Casamos com comunhão parcial de bens, quando ela queria separação. Deveria ter aceitado, mas eu era ingênuo demais para notar que jamais haveria alguma coisa de errado conosco. E o que houve? Sentimentos diferentes. Entreguei-me de corpo e alma ao nosso relacionamento. Desde o namoro até o casamento e quando chegamos a este, foi como se tudo tivesse morrido de repente.

— Finalmente — disse Crystal, com má vontade, colocando-se de pé e me despertando.

Um homem negro, alto e forte estendeu a mão para ela.

— Perdoe a minha demora, senhorita Watson — pediu, sem graça.

— Esse é o meu ex-marido — disse ela, com má vontade.

Amiga da Minha IrmãOnde histórias criam vida. Descubra agora