Capítulo 2

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    Xstrauss observava a fêmea há horas em silêncio. Seu rosto inexpressivo em nada denunciava do que se passava em seu íntimo, mas os pesadelos dela ainda o torturavam sobremaneira e uma dor aguda o ponteava na altura do peito por dentro só de lembrar-se. Ela se mexeu de leve e tremeu os braços como a se defender de algo invisível em seu sono e com seu corpo alquebrado ele ameaçou de súbito levantar, mas a fêmea voltou a aquietar-se na cama com um suspiro trêmulo profundo e ele voltou à sua posição de sentinela.

    A espera...

    Por três dias e três noites esteve curiosamente insone e alerta ao seu lado, velando o sono conturbado e cuidando pessoalmente dos ferimentos que ainda assolavam o corpo dela. Não havia permitido nem mesmo o Neimo que os servia e aos seus ancestrais há milênios que entrasse no quarto.

    O Neimo chegou a insistir umas duas ou três vezes, mas se deu enfim por vencido ante a sua incontrolável e possível fúria, e ao que de certo essa fúria desencadearia sobre todos eles.

    Os demais habitantes do seu mundo o conheciam e temiam o suficiente para nem mesmo tentar aproximar a poucos metros da porta do quarto que ele convenientemente havia escolhido para a fêmea, a duas portas de distância do seu. Xstrauss solta um suspiro irrefletido de revolta e se remexe discreto no assento onde assumira seu posto.

    A fêmea que agora finalmente dorme tranquila havia passado o diabo nas mãos de seus algozes e só de lembrar o que lhe aconteceu, os poucos pelos do seu corpo se eriçam e suas presas se pronunciam ameaçadoras.

    Em seu mundo isso era algo imperdoável, as poucas fêmeas que existiam eram tratadas com a veneração merecida pelo que haviam passado as suas ancestrais e retornar ao passado, principalmente para ele, era uma tortura indescritível, complicada para verbalizar ou descrever em palavras.

    Ele e alguns dos seus irmãos estavam se recuperando sob a terra e acordou de súbito ao ouvir o grito agoniado dela. Ele ignorou o rosnar da besta dentro de si e concentrou-se na mente feminina que o invocava inconscientemente.

    Ele adentrou em sua mente e o que viu pelos seus olhos e sentiu o feriu por dentro como uma lança afiada.

—Humanos... — rosnou a palavra como se fosse um xingamento.

    Não que os odiasse, sequer tinha contato com eles para basear qualquer julgamento, mas estes estavam dentro dos domínios do seu mundo e torturavam a fêmea que o havia acordado do sono restaurador sem piedade!

    Foi com enorme repulsa que ele viu através dos seus olhos que ela estava sendo tomada contra a vontade e seu peito ardeu de revolta.

    O gosto do próprio sangue lhe veio à boca e ele rosnou ante a própria impotência. Sua memória foi levada a um tempo distante da própria vida e nesse momento sentiu a presença do seu irmão em sua mente e o ignorou. Zarcon havia se ferido no resgate recente e precisava descansar para se curar.

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